segunda-feira, 31 de março de 2008
Bom dia. Hoje eu acho que a semana começa bem.
«Milhares de multas de trânsito relativas ao ano de 2005 e ao primeiro trimestre de 2006 podem prescrever esta segunda-feira, informa o jornal Correio da Manhã. São já dadas como perdidas devido à caducidade do prazo e ao facto de a equipa de juristas contratada em função de um protocolo assinado este mês entre o Ministério da Administração Interna (MAI) e a Ordem dos Advogados não ter feito ainda um trabalho significativo. O MAI e a Ordem dos Advogados tinham formado um acordo para a criação de uma equipa de 32 advogados estagiários que analisassem os processos pendentes, em consequência de extinção da Direcção-Geral de Viação. O prazo para a prescrição do processamento da contra-ordenação é sempre de dois anos, quer se trate de uma infracção normal, grave ou muito grave.»
domingo, 30 de março de 2008
A vocação do PGR
Estou que nem posso. De rastos mas de pé, no rescaldo de uma semana dominada pelo voyeurismo de um país que a passou de cócoras, em frente ao buraquinho aberto (para o espreitar da populaça) por um tal Rafael, colega da Patrícia, alunos da Adozinda. Doem-me os joelhos mas valeu a pena, caramba. Foi demais. A Patrícia e a Adozinda pegaram-se na aula, uma empurrou a outra, a outra puxou a uma e o Rafael gravou tudo no telemóvel dele e mostrou à malta toda no YouTube. E aí foi ver Portugal consolar-se com esta cusquice inesperada, pitéu da má-língua, servida em doses maciças de ilegalidade que ninguém reparou, ninguém proíbiu, ninguém sancionou (embora o Código Penal seja absolutamente claro no que toca à difusão de imagens captadas na privacidade dos envolvidos, está lá tudo, preto no branco...). Mas era tão suculento e oportuno aquele naco de escândalo, tão providencial a sua origem sem custos, um tão perfeito momentum, que cem televisões se jogaram áquele osso sem quaisquer pruridos de protecção e milhões de nós comeram até fartar, sendo que há quem ainda não esteja farto. E quem de direito, o país político e institucional, quem manda, quem pode, fez o que faria qualquer Pilatos na mesma circunstância: não deixou de condenar mas também não deixou de ver e rever. E assim foi condenando enquanto via e vendo enquanto condenava. As televisões mostraram, os jornais escreveram, os políticos falaram, os portugueses comentaram. E o assunto cresceu e multiplicou-se.
Entretanto ninguém foi mordido por um cão de raça perigosa. Em Anadia e Alijó ninguém morreu por falta de assistência. O processo Casa Pia vai andando, obrigado. O Pidá continua de cana. Valentim vai-se safando. Pinto da Costa não se tem casado, ultimamente. Da Madeira já não se fala em corrupção. A Maddie não aparece e os McCann tão cedo também não. E aquela coisa do Casino Lisboa já lá vai, que diabo, águas passadas não movem moinhos, está dado está dado, o Assis merece, quem dá e tira vai para o inferno, não se fala mais nisso. De maneira que já agora, havendo o video e tudo (e também para não se estar sempre a discutir o ensino, a educação, a escola, os alunos e os professores) alguém tinha que fazer alguma coisa para dar a ideia que alguém faz alguma coisa. E alguém fez. «O procurador-geral da República tem acompanhado de perto todas as situações de violência escolar que chegam ao seu conhecimento. No caso concreto, ocorrido no Carolina Michaëlis, falou já com o procurador-geral distrital do Porto, dr. Pinto Nogueira, e com a sr.ª directora do DIAP do Porto, dr.ª Hortênsia Calçada, que têm estado ao corrente dos factos e diligenciado no sentido de apurar responsabilidades». É Pinto Monteiro que surge, qual bombeiro que carrega a mangueira salvadora da chamuscada decência nacional, chegado ao intervalo para varrer tudo e todos e mudar o resultado do jogo. «O Ministério Público quer "apurar as responsabilidades" do polémico caso da Carolina Michaëlis, para saber até onde pode intervir, de forma a assegurar a reposição da autoridade pública e a tranquilidade na escola.», garante fonte da Procuradoria. É Portugal da autoridade no seu melhor, arreganhando o músculo aos problemas antes de sequer os tentar digerir e compreender, num absurdo que se repete a cada novo perigo, a cada nova crise.
Acontece que o famoso Estatuto do Aluno, que todos comentam mas poucos terão lido, prevê no seu Artigo 27.º as seguintes Medidas Disciplinares Sancionatórias: a) A repreensão; b) A repreensão registada; c) A suspensão da escola até cinco dias úteis; d) A suspensão da escola de 6 a 10 dias úteis; e) A expulsão da escola. Face à situação que todos vimos, será que uma destas medidas não assegura a intervenção suficiente e necessariamente proporcional ao ocorrido? Será assim tão essencial, ou mesmo desejável, a intervenção da Procuradoria Geral da República numa aula de Francês da Escola Carolina Michaelis? Será mesmo isto que queremos para as nossas escolas? E para a nossa Procuradoria, já agora? Vale a pena ler, a propósito, as palavras de Pedro Sales, publicadas no seu 'Zero de Conduta' e que eu não resisto a transcrever, porque perfeitas na ilustração do meu próprio sentir. Ora leiam.
O mesmo Procurador Geral da República que precisou de ler quatro edições de uma investigação efectuada pelo Expresso - com base em material de prova que estava há anos na posse do MP - para perceber que tinha que fazer qualquer coisa sobre o Casino de Lisboa, dedica agora meios e recursos para investigar aquilo que, sendo um lamentável caso de indisciplina e insolência, não deve deixar de ser equacionado à luz da relativa gravidade do incidente. Mas o coro de apoio ao anúncio feito por Pinto Monteiro não se fez esperar. Afinal a “turba” de “canalhas” tem que ser posta na ordem e os professores não têm meios para o fazer. A sério? Será que quem anda há uma semana a proferir afirmações destas, que passam por uma verdade incontestável e inquestionável, alguma vez perdeu dois segundos para ler o que é que diz o estatuto do aluno em vigor? (..) Advertência, Suspensão, ou expulsão com decorrente perda do ano lectivo. O que é que querem mais? Colocar uma míuda malcriada no pelourinho e, de permeio, fazer um retrato de toda uma geração a partir de um caso que, podendo não ser isolado, será sempre ultra-minoritário? Quer me parecer que há por aí muito boa gente que "anda nisto" apenas para provar que esta é que é mesmo a geração rasca.
São palavras sábias, estas, plenas de senso e serenidade. Recordam-me outras, do Presidente da República que começou este ano de 2008 com um apelo à «serenidade no sistema educativo»; ele que agora, depois do video, se diz «profundamente chocado» com a violência nas escolas e por isso chamou o PGR a Belém, segunda-feira próxima, para juntos dividirem preocupações. E Pinto Monteiro já disse que «os pequenos ilícitos geram os grandes ilícitos, como as drogas leves conduzem às drogas pesadas», prometendo mão firme nas escolas para o que classificou de «pequena criminalidade» com a mesma segurança e convicção que tem posto em todas as promessas anti-crime que faz habitualmente. Ora eu tenho cá para mim que este notório prazer de Pinto Monteiro em dizer coisas (com provas dadas da Visão ao SOL, da Sábado ao Expresso e com passagens frequentes pelo Correio da Manhã e 24Horas, entre outros) quando aliado à pontualidade que revela na promessa justiceira a cada nova escandaleira mostrada no Telejornal, diz do senhor Procurador o que melhor seria não dissesse. Duas coisas em particular, preocupantes, a meu ver.
Diz-nos que a sua agenda (e com ela a da Justiça nacional) é marcada nas redacções da comunicação social e revelada por antecipação na primeira página das notícias matinais, sendo posteriormente confirmada e comentada pelo próprio onde calha. O que não deixa de ser um sistema, convenhamos. Mas acima de tudo revela-nos a visão que este Procurador tem do cargo que ocupa, ao cumpri-lo assim atrelado a reboque de cada estalar de dedos da indignação popular, zizeguezagueando investigações em obediência ao caprichoso papão da opinião pública ou em prol de uma qualquer conveniência circunstancial, uma possibilidade deixada em aberto pelo dossier Casino Lisboa. Mais um caso de vocação justiceira selectiva que, tudo o indica, não passará disso mesmo, para suprema tranquilidade da fina-flor do gardanho, esse pessoal de particular brancura no colarinho. E para mal dos nossos pecados.
Entretanto ninguém foi mordido por um cão de raça perigosa. Em Anadia e Alijó ninguém morreu por falta de assistência. O processo Casa Pia vai andando, obrigado. O Pidá continua de cana. Valentim vai-se safando. Pinto da Costa não se tem casado, ultimamente. Da Madeira já não se fala em corrupção. A Maddie não aparece e os McCann tão cedo também não. E aquela coisa do Casino Lisboa já lá vai, que diabo, águas passadas não movem moinhos, está dado está dado, o Assis merece, quem dá e tira vai para o inferno, não se fala mais nisso. De maneira que já agora, havendo o video e tudo (e também para não se estar sempre a discutir o ensino, a educação, a escola, os alunos e os professores) alguém tinha que fazer alguma coisa para dar a ideia que alguém faz alguma coisa. E alguém fez. «O procurador-geral da República tem acompanhado de perto todas as situações de violência escolar que chegam ao seu conhecimento. No caso concreto, ocorrido no Carolina Michaëlis, falou já com o procurador-geral distrital do Porto, dr. Pinto Nogueira, e com a sr.ª directora do DIAP do Porto, dr.ª Hortênsia Calçada, que têm estado ao corrente dos factos e diligenciado no sentido de apurar responsabilidades». É Pinto Monteiro que surge, qual bombeiro que carrega a mangueira salvadora da chamuscada decência nacional, chegado ao intervalo para varrer tudo e todos e mudar o resultado do jogo. «O Ministério Público quer "apurar as responsabilidades" do polémico caso da Carolina Michaëlis, para saber até onde pode intervir, de forma a assegurar a reposição da autoridade pública e a tranquilidade na escola.», garante fonte da Procuradoria. É Portugal da autoridade no seu melhor, arreganhando o músculo aos problemas antes de sequer os tentar digerir e compreender, num absurdo que se repete a cada novo perigo, a cada nova crise.
Acontece que o famoso Estatuto do Aluno, que todos comentam mas poucos terão lido, prevê no seu Artigo 27.º as seguintes Medidas Disciplinares Sancionatórias: a) A repreensão; b) A repreensão registada; c) A suspensão da escola até cinco dias úteis; d) A suspensão da escola de 6 a 10 dias úteis; e) A expulsão da escola. Face à situação que todos vimos, será que uma destas medidas não assegura a intervenção suficiente e necessariamente proporcional ao ocorrido? Será assim tão essencial, ou mesmo desejável, a intervenção da Procuradoria Geral da República numa aula de Francês da Escola Carolina Michaelis? Será mesmo isto que queremos para as nossas escolas? E para a nossa Procuradoria, já agora? Vale a pena ler, a propósito, as palavras de Pedro Sales, publicadas no seu 'Zero de Conduta' e que eu não resisto a transcrever, porque perfeitas na ilustração do meu próprio sentir. Ora leiam.
O mesmo Procurador Geral da República que precisou de ler quatro edições de uma investigação efectuada pelo Expresso - com base em material de prova que estava há anos na posse do MP - para perceber que tinha que fazer qualquer coisa sobre o Casino de Lisboa, dedica agora meios e recursos para investigar aquilo que, sendo um lamentável caso de indisciplina e insolência, não deve deixar de ser equacionado à luz da relativa gravidade do incidente. Mas o coro de apoio ao anúncio feito por Pinto Monteiro não se fez esperar. Afinal a “turba” de “canalhas” tem que ser posta na ordem e os professores não têm meios para o fazer. A sério? Será que quem anda há uma semana a proferir afirmações destas, que passam por uma verdade incontestável e inquestionável, alguma vez perdeu dois segundos para ler o que é que diz o estatuto do aluno em vigor? (..) Advertência, Suspensão, ou expulsão com decorrente perda do ano lectivo. O que é que querem mais? Colocar uma míuda malcriada no pelourinho e, de permeio, fazer um retrato de toda uma geração a partir de um caso que, podendo não ser isolado, será sempre ultra-minoritário? Quer me parecer que há por aí muito boa gente que "anda nisto" apenas para provar que esta é que é mesmo a geração rasca.
São palavras sábias, estas, plenas de senso e serenidade. Recordam-me outras, do Presidente da República que começou este ano de 2008 com um apelo à «serenidade no sistema educativo»; ele que agora, depois do video, se diz «profundamente chocado» com a violência nas escolas e por isso chamou o PGR a Belém, segunda-feira próxima, para juntos dividirem preocupações. E Pinto Monteiro já disse que «os pequenos ilícitos geram os grandes ilícitos, como as drogas leves conduzem às drogas pesadas», prometendo mão firme nas escolas para o que classificou de «pequena criminalidade» com a mesma segurança e convicção que tem posto em todas as promessas anti-crime que faz habitualmente. Ora eu tenho cá para mim que este notório prazer de Pinto Monteiro em dizer coisas (com provas dadas da Visão ao SOL, da Sábado ao Expresso e com passagens frequentes pelo Correio da Manhã e 24Horas, entre outros) quando aliado à pontualidade que revela na promessa justiceira a cada nova escandaleira mostrada no Telejornal, diz do senhor Procurador o que melhor seria não dissesse. Duas coisas em particular, preocupantes, a meu ver.
Diz-nos que a sua agenda (e com ela a da Justiça nacional) é marcada nas redacções da comunicação social e revelada por antecipação na primeira página das notícias matinais, sendo posteriormente confirmada e comentada pelo próprio onde calha. O que não deixa de ser um sistema, convenhamos. Mas acima de tudo revela-nos a visão que este Procurador tem do cargo que ocupa, ao cumpri-lo assim atrelado a reboque de cada estalar de dedos da indignação popular, zizeguezagueando investigações em obediência ao caprichoso papão da opinião pública ou em prol de uma qualquer conveniência circunstancial, uma possibilidade deixada em aberto pelo dossier Casino Lisboa. Mais um caso de vocação justiceira selectiva que, tudo o indica, não passará disso mesmo, para suprema tranquilidade da fina-flor do gardanho, esse pessoal de particular brancura no colarinho. E para mal dos nossos pecados.
sábado, 29 de março de 2008
Siga o Shark
Nada agora por outras águas, o tubarão. «Saio com o Charquinho cotado como o mais visitado dos blogues activos do Weblog no Blogómetro, como o mais comentado de sempre dos blogues ainda em funcionamento, como o segundo mais clicado de sempre, como um dos 25 mais visitados na bizarra tabela recheada de defuntos. Não saio, de todo, pela porta pequena.», explica-se, aqui. Da Weblog para o Sapo, o Charquinho mudou-se de armas e bagagens. Agora mora aqui. E é lá que eu passo a ir, pronto, que se há-de fazer? Sigo o Shark.
sexta-feira, 28 de março de 2008
Agora a sério: o que é que se pode esperar da esperteza de um país que elege Bush para presidente?
«Um cidadão norte-americano perdeu tudo o que tinha em casa depois de alguém ter publicado no Craisgslist, um site de classificados, dois falsos anúncios onde explicava que ele iria mudar e estava disposto a dar o recheio da sua casa. A «oferta» incluía o próprio cavalo do homem. Os anúncios foram ambos colocados on-line no passado dia 22 e Robert Salisbury apenas soube da sua existência quando uma mulher lhe telefonou a dizer que ia buscar o cavalo.
Assim que chegou a casa deparou-se com um camião de mudanças já com alguns dos seus objectos pessoais pronto a arrancar e quando tentou explicar o sucedido aos ocupantes, estes recusaram e foram-se embora. «Eu expliquei-lhes que era o dono, mas eles recusaram-se a devolver as minhas coisas», contou à Associated Press, referindo que «eles mostraram-me o anúncio imprimido e disseram-me que tinham o direito de fazer o que tinham feito». Pouco tempo depois Robert Salisbury tinha em casa cerca de 30 pessoas a vasculhar os seus pertences e todos os esforços para explicar foram novamente em vão. «Eles pensavam que era verdade porque tinha aparecido na Internet e era verdade. Deixa-me confuso», admitiu.
A polícia já começou a investigar o caso junto do site para tentar descobrir o responsável pelos anúncios e a tentar localizar as pessoas que levaram objectos. Esta não é contudo a primeira vez que tal acontece. Também no ano passado uma mulher colocou no Craigslist um anúncio semalhante relativo à casa de uma tia sua.»
Assim que chegou a casa deparou-se com um camião de mudanças já com alguns dos seus objectos pessoais pronto a arrancar e quando tentou explicar o sucedido aos ocupantes, estes recusaram e foram-se embora. «Eu expliquei-lhes que era o dono, mas eles recusaram-se a devolver as minhas coisas», contou à Associated Press, referindo que «eles mostraram-me o anúncio imprimido e disseram-me que tinham o direito de fazer o que tinham feito». Pouco tempo depois Robert Salisbury tinha em casa cerca de 30 pessoas a vasculhar os seus pertences e todos os esforços para explicar foram novamente em vão. «Eles pensavam que era verdade porque tinha aparecido na Internet e era verdade. Deixa-me confuso», admitiu.
A polícia já começou a investigar o caso junto do site para tentar descobrir o responsável pelos anúncios e a tentar localizar as pessoas que levaram objectos. Esta não é contudo a primeira vez que tal acontece. Também no ano passado uma mulher colocou no Craigslist um anúncio semalhante relativo à casa de uma tia sua.»
Nem a velha cai nem a gente almoça
Por aqui segue a dança do protesto contra o protesto que protesta contra o protesto que protestou. É uma animação com um pouco de tudo para todos os gostos, uma espécie de José Sócrates em campanha eleitoral, sempre com um cantinho para cada eleitor, queira ele branco ou seja ele preto. Tudo se arranja, há opiniões para todos os gostos, sapatinho para todo o pé, tudo para todos, como na farmácia e no Intermarché. Mas muito mais e melhor aqui, no Aspirina, onde a velha continua sem cair, a caminho dos trezentos comentários. Bê, anda. Bai ber.
Bom dia. Hoje eu pergunto: porque demorou tanto tempo?
«As chamadas telefónicas vão ser cobradas ao segundo já a partir do próximo mês. A regra é válida para os telemóveis e telefones fixos. A conversa, agora, até pode durar alguns segundos. No final, cobra-se a totalidade de um minuto. Com a nova lei, acaba-se com os arredondamentos em alta relativamente à duração das chamadas. As chamadas de curta duração, três ou quatro minutos, podem ficar mais baratas. Trata-se da transposição de uma directiva comunitária, publicada quinta-feira em Diário da República.»
quinta-feira, 27 de março de 2008
O puto que pariu?
«Apesar do facto da minha barriga estar a crescer com uma nova vida dentro de mim, estou estável e confiante sendo o homem que sou.» Esta incrível declaração tem autoria de Thomas Beatie, o homem que diz estar grávido de uma menina que dará à luz em Julho próximo. É a história do ano, aqui contada no Times on line, a deste homem que nasceu mulher há 34 anos, no Pacific North West, USA. Chamava-se então Tracy Lagondino, indivíduo do sexo feminino até ao dia em que decidiu fazer uma operação cirúrgica para mudar de sexo. Nesse dia nascia Thomas, que viria a casar com Nancy. Só que a hoje senhora Beatie submeteu-se a uma histerectomia há uns anos atrás e Thomas, que manteve intactos alguns dos seus órgãos femininos (não me perguntem quais, por favor), assumiu a difícil tarefa de garantir a descendência deste casal moderno e tutti fruti. E é assim, como se vê na foto, que Thomas Beatie agora conta a sua história ao gay 'Advocate Mag' e se expõe aos olhos do mundo, um grávido com a barba por fazer que anuncia para Julho próximo um parto que, a acontecer, virá revolucionar para sempre a história da humanidade. Thomas garante, feliz, que a criancinha sai em Julho. Só não diz por onde.
Mãe: não fui eu!
Thomas Beatie, um homem que já foi mulher, está grávido de cinco meses, jura ele à «Advocate Magazine». Acabei de ouvir, vi a foto no Telejornal da RTP e juro: não sei que vos diga, caraças! Estou que nem posso, sem palavras, sem respiração, sem ponta por onde me pegue. Deixem-me pensar um bocadinho, ao menos. Que fazer, meu Deus, que fazer? Vou telefonar à minha mãe, isso é certo.
Pequim lava mais branco
Nem só o Fairy é campeão de limpeza, digam lá o que disserem as campanhas publicitárias. Praticamente em vésperas de receber a fina-flor do desporto mundial para estes jogos Olímpicos de Beijing, a China entrou em limpeza geral de fachada e zonas comuns um pouco por toda a parte. Nas ruas das principais cidades não se encontra um, para amostra: foram já erradicados todos os gatos, cães e humanos vadios que as enchiam durante todos os dias normais e não olímpicos. A rataria também foi exterminada ou quase, tamanha a sequência de doses letais de raticida despejadas nos sítios do costume. E fachadas de edifícios e calçadas estão a ser esfregadas com o mesmo vigor com que se reprime um Tibete, mas com menos mortos, graças a Deus. Mas a medida mais original de todas foi sem dúvida a que decretou o fecho de todos os bordéis e casas de massagens, não tão poucas como isso, que existem por toda a China.
De recordar que a esmagadora maioria das novas prostitutas chinesas, de acordo com uma informação da Agência Reuters, é oriunda das zonas rurais e procura as grandes cidades para acabar na mais velha profissão do mundo, ao tentar escapar à miséria que grassa no interior do país. São as modernas escravas sexuais, que só podem visitar as suas famílias uma vez por ano, por norma durante o Festival da Primavera. Os cerca de trezentos euros mensais que conseguem ganhar a prostituir-se representam uma verdadeira fortuna e, na maioria dos casos, são garantia da sobrevivência das suas famílias. Agora, pela primeira vez e durante todo o tempo que vão durar os Jogos, os bordéis vão estar fechados, as ruas limpas, os vadios recolhidos e os ratos exterminados. É a China que se mostra ao mundo, decidindo o que quer que de si se veja. Retocando as cores de postal ilustrado. E é Beijing 2008 que já começou, estabelecendo um novo recorde para a hipocrisia que pode, quer e manda abaixo do tecto do mundo. Um recorde olímpico.
quarta-feira, 26 de março de 2008
Educação, conversa de vizinhas
«Eis o mais recente teste à disposição do português para detectar se um outro português é imbecil, lunático ou, simplesmente, falho de bom senso e bom gosto: basta pedir ou detectar opinião quanto à notícia de uma bulha entre professora e aluna, a qual foi registada em vídeo para proveito comunitário. Se vier relação com o Ministério da Educação, o Estatuto do Aluno ou a Maria de Lurdes, estaremos perante um retinto imbecil. Se o discurso aparecer em forma de lamento pela decadência do ensino, da moral, da autoridade e da família, estaremos face a um lunático. Se surgirem tiradas reflexivas sobre o que deva ser a educação e a escola, estaremos frente a carências variadas, algumas simpáticas.»
Tenho este problema, nada a fazer. Dias inteiros, inteirinhos, esqueço-me da lida da casa para me postar a dar à língua na saleta da vizinhança, conversa de comadres, porque tira e porque deixa, porque torna e mais que pois. Tudo lá na comadre Aspirina, hoje sobre o telemóvel mais falado de todo o sistema educativo. Se quer espreitar é aqui, mas não faça como eu, que nem o lume às couves baixei. Por isso me cheirava a esturro.
Bom dia. Hoje eu estou com o Presidente na questão da Língua Portuguesa.
«Todos sabemos que a língua portuguesa tem belas palavras. Mas, por mais belas que sejam, é tempo de passarmos das palavras aos actos. Para a defesa da palavra, a palavra não basta. São precisas realizações concretas, iniciativas palpáveis, para que, no plano interno de cada um dos países em que é língua materna ou língua oficial, se promova eficazmente o conhecimento e o domínio do português falado e escrito.»
terça-feira, 25 de março de 2008
Pensando bem, os alunos do 9ºC da Carolina Michaelis são uns santos. Abençoadas criancinhas,digo eu.
Imagine que, em vez de ser chamado à escola porque a sua filha empurrou a professora para lhe tirar o telemóvel, recebia uma cartinha a dizer que ela tinha participado num bacanal escolar com mais duzentos coleguinhas e que, por isso mesmo, a escola fazia questão de avisar: «Estavam demasiado bêbados para terem controlo sobre si próprios. O risco é real, assumam o pior.» Percebem o meu ponto de vista?
Álcool e drogas e sexo, foi esta combinação explosiva que fez com que uma escola no norte de Inglaterra tomasse a medida drástica: distribuir pílulas do dia seguinte pelas alunas. Segundo o Daily Mail, citado pelo SOL, dois adolescentes falsificaram assinaturas e conseguiram a autorização para organizar uma festa nas instalações da escola. Os professores explicaram que a festa rapidamente se transformou numa orgia, na qual chegaram a participar duzentos alunos e cuja maioria teve relações sexuais sem protecção.
O comportamento dos alunos obrigou a escola a distribuir pílulas do dia seguinte pelas alunas dos catorze aos dezasseis anos e a enviar uma carta aos pais advertindo para a possibilidade de os filhos terem doenças sexualmente transmissíveis ou gravidezes indesejadas. A carta foi muito clara e não deixa margem para dúvidas, os jovens consumiram uma grande quantidade de álcool e «estavam demasiado bêbados para terem controlo sobre si próprios. O risco é real, assumam o pior.».
De acordo com o Daily Mail, citado pelo SOL, não é a primeira vez que uma coisa destas acontece naquele estabelecimento de ensino. Há quase dois anos também houve uma festa que acabou com vários jovens embriagados, inúmeros estragos e semelhantes cenas sexuais. O dono de um pub local contou que o estado dos jovens era tal que chegaram a ameaçá-lo quando este se recusou a vender-lhe mais álcool e tabaco. De manhã quando chegou ao bar os adolescentes tinham urinado a fachada do estabelecimento. Uma equipa de socorro também foi atacada, primeiro vários adolescentes nus rodearam a ambulância e depois outro grupo de adolescentes tentou virar o veículo.
Digam o que disserem, eu cá sei que a situação da instituição Escola em Portugal não está para grandes graças. Mas nanja também para grandes desgraças, teremos todos de convir na comparação com este exemplo escolar britânico, que enrubesceria Fanny Hill e faz a líbido de Lady Chatterley parecer um modesto wet dream de noviça. Sempre ouvi dizer, a vida inteira, que o meu país era e estava atrasado em relação a Inglaterra. Primeiro lá, sempre, depois cá. Hoje pergunto a mim próprio se isso será mesmo verdade. Só cá por coisas, mera curiosidade.
segunda-feira, 24 de março de 2008
Bufar ou pagar, eis a questão.
A mais recente operação de ataque da Direcção Geral de Impostos tem como público alvo os portugueses recém-casados. Exactamente. Não inédito, de resto. Aqueles que recentemente juntaram os trapinhos estão agora a receber em casa um extenso e detalhado questionário, a que são obrigados a responder sob pena de incorrerem em pesadas multas se o não fizerem nos termos solicitados. Ao que parece, os verdadeiros alvos da máquina fiscal serão os prestadores de todo o tipo de serviços relacionados com os casórios nacionais, como fotógrafos, floristas ou empresas de cattering, por exemplo. Segundo a edição desta segunda-feira do jornal Público, no inquérito que acompanha a carta, os casais devem informar o fisco sobre a data do matrimónio, o número de convidados e respectivo valor unitário, descriminado por adulto e crianças, e ainda indicar se na mesma data e no mesmo local houve outro evento. Os contribuintes recém-casados devem então preencher uma tabela com todos os serviços prestados, como iluminação, restaurante, serviço de confecção de refeições, animação, vestido de noiva, florista, fotógrafo, entre outros. Para cada um dos serviços, o casal deve também indicar o nome do prestador do serviço, a identificação fiscal e morada do mesmo, para além da forma de pagamento. E mais: no caso de algum dos serviços ter sido oferecido, os casais devem indicar o local da aquisição, a identificação da pessoa que ofereceu e o valor da oferta, para além de fotocópias de todos os documentos que possuam e que permitam identificar os valores pagos.
Tudo isto deve ser feito (ou tem que ser feito), segundo a Direcção-Geral de Impostos, ao abrigo do 'dever de colaboração com a administração fiscal', um argumento de peso que, dito assim, se propõe tocar o hino nacional ou quase, cá dentro de nós. Só que, na práctica, é mais um argumento de mão pesada do que outra coisa. Pelo sim pelo não, caso não o façam no prazo de 15 dias, os contribuintes recém-casados são ameaçados com a instauração de um processo de contra-ordenação fiscal punível com uma coima que varia entre os 100 e os 2500 euros. Subtil, não acham? É uma espécie de suave incentivo, digo eu, mais um deste Estado-Papá que nos quer ver a todos muito felizes (pagando, evidentemente) e especialmente destinado a quem não perceba a necessidade e importância da bufice para olear a máquina fiscal cá da terra. Um aviso sério para quem se escuse a este frete colaboracionista. Voluntário, claro.
domingo, 23 de março de 2008
Mais problemas para a arbitragem
«A indústria da ourivesaria portuguesa está a "agonizar" com os sucessivos aumentos do preço do ouro. Já há empresas a fechar, ourives a abandonar a profissão e muitas empresas à procura de alternativas para manter a actividade. Ouro mais "leve", prata dourada, casquinha e outros metais trabalhados substituem o ouro tradicional, cuja cotação subiu mais de 50% nos últimos 12 meses.»
Sexo, piadas, centímetros e minhocas
Terá sido uma espécie de minhoca o primeiro animal a fazer sexo, leio no Expresso, caramba, só pode ser verdade! E este por sua vez cita a revista Science, como sendo a origem desta notícia que diz que o sexo foi descoberto por uma espécie de minhoca de 30 cm de comprimento, que vivia no mar há 565 milhões de anos. Arrisco um comentário, mesmo sabendo que piso a linha ténue da piadinha fácil, pé cá, pé lá no bom gosto. Quinhentos e sessenta e cinco milhões de anos passados e pouco mudou no sexo, pelos vistos. A não ser as minhocas, elas próprias, evidentemente. Porque aqui entre nós, sinceramente, trinta centímetros? Só por piada.
sábado, 22 de março de 2008
sexta-feira, 21 de março de 2008
No Dia Mundial da Poesia
Quero às palavras como às amantes
(mais a umas do que às outras
confesso e é natural)
que as palavras, mesmo loucas,
mentirosas, inconstantes,
são melhores do que as amantes:
não me fazem tanto mal.
Dizem-me que hoje é o dia
de lembrar a todo o mundo
o universo dos poetas:
as palavras! Que, no fundo,
são de todos, dos patetas,
dos tristes, dos geniais,
dos uns que lhes querem mais
que os outros que as maltratam
(e às vezes com elas matam)
a quem escapa a fantasia
que mora nas entrelinhas...
As palavras não são minhas
mas se fossem, eu garanto
esta intenção verdadeira:
às palavras quero tanto
(ai! tanto lhes quero, tanto!)
que não marcaria um dia
para as palmas mundiais
mas antes a vida inteira
milhares de vezes um dia!
E não seria demais
para lembrar a Poesia.
(mais a umas do que às outras
confesso e é natural)
que as palavras, mesmo loucas,
mentirosas, inconstantes,
são melhores do que as amantes:
não me fazem tanto mal.
Dizem-me que hoje é o dia
de lembrar a todo o mundo
o universo dos poetas:
as palavras! Que, no fundo,
são de todos, dos patetas,
dos tristes, dos geniais,
dos uns que lhes querem mais
que os outros que as maltratam
(e às vezes com elas matam)
a quem escapa a fantasia
que mora nas entrelinhas...
As palavras não são minhas
mas se fossem, eu garanto
esta intenção verdadeira:
às palavras quero tanto
(ai! tanto lhes quero, tanto!)
que não marcaria um dia
para as palmas mundiais
mas antes a vida inteira
milhares de vezes um dia!
E não seria demais
para lembrar a Poesia.
"Olha, a velha vai cair!" (2)
A primeira notícia que vi hoje, acordado anormalmente tarde para a informação do dia, foi este video do incidente escolar na Carolina Micaelis. Vi, revi, comentei e postei, a frio. Não fiz análise dos factos, limitei-me a expô-los e a chamar a atenção para a sua importância e oportunidade. Mas a reflexão é importante. É essencial tentar ver para além do óbvio, esmiuçar o pormenor daquilo que também está lá, sim, mas em segundo plano. É que a justa indignação gerada pela atitude da aluna, que faz o primeiríssimo plano desta situação, induz uma visão redutora do muito que aconteceu. Uma leitura que é, na circunstância, uma verdadeira tentação para este país insatisfeito com o actual panorama educativo e ansioso por um qualquer pretexto que faça saltar a tampa governamental. E já agora a ministra da Educação, claro. Ora este episódio está longe de ser um pretexto qualquer, é um argumento de peso em qualquer discussão séria sobre a realidade das nossas escolas. Que faz saltar inúmeras questões para cima da mesa, todas pertinentes e importantes, e que por isso deve ser visto e analisado sem paixão, num esforço de objectividade.
A situação filmada centra-se em duas pessoas, a professora e a aluna. Não está em causa, penso eu, qualquer dúvida quanto à incorrecção do comportamento desta aluna. Ela foi total e por demais evidente, não tem desculpa ou atenuante à primeira vista. Tudo parece começar como uma brincadeira que foi longe demais, um desafio assumido a uma autoridade que evidentemente já não era respeitada, logo à partida. Uma exibição tola de afirmação perante a turma e um exercício de cumplicidade com os colegas, que correu mal por ter sido levado longe demais. O comportamento desta adolescente de 15 anos foi mais do que impróprio: foi aberrante, nem bom nem mau. Toda a situação é em si aberrante, aliás. Os termos em que a aluna se dirige à professora, o seu tom de voz, o que diz e como diz, a postura gestual que assume logo à partida, tudo nesta garota é revelador de uma evidência que se perde no meio da algazarra: o problema tinha já começado antes de começar naquele dia. Muito antes. O problema vem de raiz e é um problema composto, são vários problemas juntos, todos graves, nem todos referentes ao universo escola. Na circunstância, não tendo sido capaz de fazer parte da solução, esta professora fez, também ela, parte do problema.
Não é dispensável um olhar crítico à actuação da professora naquela circunstância em concreto. A forma como ela lidou com a situação, como geriu o problema, a atitude que escolheu tomar (ou aquela única de que foi capaz), foi correcta? E em caso afirmativo, terá sido a mais indicada? Um duplo não seria a minha resposta, sem hesitar. Esteve longe da sensatez esta senhora, profissional do ensino, há que reconhecê-lo. Atrevo-me a especular se não terá sido um pouco vítima de si própria, também, mais que só dos outros. A sua postura, visível nas imagens, não cumpriu os mínimos de autoridade necessária para ter mão numa turma de alunos. Há nela um déficit de firmeza que se nota sem engano, alguma demissão da função disciplinadora do professor enquanto tal. Veja-se o ambiente em que tudo aconteceu, para começar; tinha tudo o que não deve existir numa sala de aulas, desde o barulho à desatenção, toda a gente de pé, risos e bocas, comentários e indisciplina geral. Sobrava confusão, faltava carisma de professor.
Logo no início, às primeiras palavras da aluna, não se viu a esperada, necesssária e correcta atitude de firmeza da parte da professora que, sendo firme e autoritária naquele momento como lhe competia, teria posto um ponto final e imediato em toda a questão. E o que vimos, em vez de firmeza e autoridade de professor? Assistimos a uma professora visivelmente intimidada e insegura a fazer o que faria qualquer coleguinha da mesma idade da garota: puxar mais, empurrar mais, discutir no braço o que devia estar resolvido na voz, ponto assente e não passível de discussão. E assim fragilizada e em queda de autoridade se expôs ao gozo generalizado da turma, um gozo que estava já presente no início, antes de tudo começar, como se pode de resto constatar pelo visionamento das imagens daquele ambiente indisciplinado, favorável ao tipo de evolução a que se pôde assistir. Confrangedor, convenhamos.
O episódio é triste mas não é para esquecer; pelo contrário, entendo que deve ser recordado este incidente. Mas só quando puder ser recordado numa análise serena. Só quando acalmar a indignação geral e baixarem quer o tom sindicalista da revolta, quer os dedos acusadores que agora se erguem todos num só movimento nacional. Com toda a politiquice rasteira que infecta de momento a questão educativa em Portugal, toda a reflexão sobre este incidente parece-me para já comprometida. Há que aguardar melhores dias. Quando o calor dos argumentos e a paixão dos queixumes derem finalmente lugar à razão e objectividade necessárias para, mais do que ver este video, se conseguir compreender de facto o que ele representa na vida de todos nós.
A situação filmada centra-se em duas pessoas, a professora e a aluna. Não está em causa, penso eu, qualquer dúvida quanto à incorrecção do comportamento desta aluna. Ela foi total e por demais evidente, não tem desculpa ou atenuante à primeira vista. Tudo parece começar como uma brincadeira que foi longe demais, um desafio assumido a uma autoridade que evidentemente já não era respeitada, logo à partida. Uma exibição tola de afirmação perante a turma e um exercício de cumplicidade com os colegas, que correu mal por ter sido levado longe demais. O comportamento desta adolescente de 15 anos foi mais do que impróprio: foi aberrante, nem bom nem mau. Toda a situação é em si aberrante, aliás. Os termos em que a aluna se dirige à professora, o seu tom de voz, o que diz e como diz, a postura gestual que assume logo à partida, tudo nesta garota é revelador de uma evidência que se perde no meio da algazarra: o problema tinha já começado antes de começar naquele dia. Muito antes. O problema vem de raiz e é um problema composto, são vários problemas juntos, todos graves, nem todos referentes ao universo escola. Na circunstância, não tendo sido capaz de fazer parte da solução, esta professora fez, também ela, parte do problema.
Não é dispensável um olhar crítico à actuação da professora naquela circunstância em concreto. A forma como ela lidou com a situação, como geriu o problema, a atitude que escolheu tomar (ou aquela única de que foi capaz), foi correcta? E em caso afirmativo, terá sido a mais indicada? Um duplo não seria a minha resposta, sem hesitar. Esteve longe da sensatez esta senhora, profissional do ensino, há que reconhecê-lo. Atrevo-me a especular se não terá sido um pouco vítima de si própria, também, mais que só dos outros. A sua postura, visível nas imagens, não cumpriu os mínimos de autoridade necessária para ter mão numa turma de alunos. Há nela um déficit de firmeza que se nota sem engano, alguma demissão da função disciplinadora do professor enquanto tal. Veja-se o ambiente em que tudo aconteceu, para começar; tinha tudo o que não deve existir numa sala de aulas, desde o barulho à desatenção, toda a gente de pé, risos e bocas, comentários e indisciplina geral. Sobrava confusão, faltava carisma de professor.
Logo no início, às primeiras palavras da aluna, não se viu a esperada, necesssária e correcta atitude de firmeza da parte da professora que, sendo firme e autoritária naquele momento como lhe competia, teria posto um ponto final e imediato em toda a questão. E o que vimos, em vez de firmeza e autoridade de professor? Assistimos a uma professora visivelmente intimidada e insegura a fazer o que faria qualquer coleguinha da mesma idade da garota: puxar mais, empurrar mais, discutir no braço o que devia estar resolvido na voz, ponto assente e não passível de discussão. E assim fragilizada e em queda de autoridade se expôs ao gozo generalizado da turma, um gozo que estava já presente no início, antes de tudo começar, como se pode de resto constatar pelo visionamento das imagens daquele ambiente indisciplinado, favorável ao tipo de evolução a que se pôde assistir. Confrangedor, convenhamos.
O episódio é triste mas não é para esquecer; pelo contrário, entendo que deve ser recordado este incidente. Mas só quando puder ser recordado numa análise serena. Só quando acalmar a indignação geral e baixarem quer o tom sindicalista da revolta, quer os dedos acusadores que agora se erguem todos num só movimento nacional. Com toda a politiquice rasteira que infecta de momento a questão educativa em Portugal, toda a reflexão sobre este incidente parece-me para já comprometida. Há que aguardar melhores dias. Quando o calor dos argumentos e a paixão dos queixumes derem finalmente lugar à razão e objectividade necessárias para, mais do que ver este video, se conseguir compreender de facto o que ele representa na vida de todos nós.
(Veja o vídeo AQUI)
"Olha, a velha vai cair!"
Nos últimos tempos, muito se tem visto e falado sobre professores e alunos, avaliação e respeito, segurança e disciplina, educação e ensino. Mas o que este video hoje divulgado pelo JN mostra eu nunca tinha visto e mal imaginava que existisse e acontecesse nas escolas deste nosso país. Com os professores deste nosso país. E entre os alunos deste nosso país, filhos dos pais deste nosso país que somos todos nós. Recomendo a todos o visionamento deste documento audiovisual, captado de forma ilícita (porém descarada) durante uma aula de Francês na escola secundária Carolina Michaelis, no Porto, e que mostra uma aluna a agredir a professora de Francês por esta lhe ter retirado o telemóvel dentro da sala de aula. E que mostra mais, todo o ambiente que se vivia na aula durante o episódio, a histeria da aluna, a incapacidade da professora, o comportamento do resto da turma, as bocas, as reacções em directo ao que estava a acontecer. Mostra tudo isso e deixa antever mais, muito mais do que aquilo que mostra. Sugiro que veja este video com atenção, muita atenção e com o som ligado. Demora um escasso par de minutos, apenas. Quando ouvir "Olha, a velha vai cair!", já sabe que está quase a acabar.
(Veja o vídeo AQUI)
quinta-feira, 20 de março de 2008
E a seguir, Portugal?
«Dois dos diários britânicos, Daily Exspress e o Daily Star, que mais responsabilizaram os pais pelo desaparecimento de Maddie, pedem hoje publicamente desculpas aos McCann «Kate e Gerry McCann: desculpem» é manchete nos jornais de hoje. Além do pedido de desculpas, os dois tablóides, do grupo Express, acabaram por decidir doar 635 mil de euros ao fundo criado para ajudar na busca da menina. «Reconhecemos que não existem provas para apoiar esta teoria e que Kate e Gerry (McCann) estão totalmente inocentes», acrescenta o «Express». O «Star» qualifica estes artigos como «absolutamente falsos». Estes pedidos de desculpas seguem-se a um processo interposto na Justiça pelos McCann. O casal tinha identificado mais de 100 artigos difamatórios, 42 dos quais no Daily Express, de acordo com o The Independent.»
quarta-feira, 19 de março de 2008
Guerra no Iraque: "Uma boa decisão!", acha Bush.
As contagens oficiais apontam para a morte de mais de 100 mil civis iraquianos desde o dia 19 de Março de 2003, apesar de haver projecções que colocam a cifra em um milhão de pessoas. Mais de 40% dos iraquianos vivem hoje abaixo do limiar de pobreza e mais de 60% estão no desemprego. 70% da população do país não tem acesso a água potável. A edição de hoje do New York Times estima que os custos da guerra para os Estados Unidos já tenham atingido os 600 mil milhões de dólares, 10 vezes mais do que os 60 mil milhões projectados pela administração Bush antes do início do conflito. Mas, no discurso que marcou o 5.º aniversário do começo da guerra, no Pentágono, George W. Bush considerou as estimativas «exageradas» e adiantou que «os custos são necessários se considerarmos o valor que os nossos inimigos no Iraque pagarão». E mais, e melhor: cinco anos passados sobre a vergonhosa cimeira dos Açores, depois de milhares e milhares de mortos, milhões de dólares gastos, um mar de sangue depois, Bush considera que a guerra «foi uma boa decisão». Exactamente. «Uma boa decisão», considera o Presidente dos EUA. Inacreditável? Não, apenas demente.
O Principezinho
Começou pela magia de um encontro
que acontece uma vez cada milhão
ai, é que os olhos
não vêem como vê o coração
Devagar, pintei as cores da minha vida
pouco a pouco deste o tom do teu viver
ai, e o tempo
levou-nos na aventura de crescer
descobrir cada gesto,
amar, esquecer o resto,
e fez de nós
amigos a valer
Vem à minha estrela,
tem um palmo só de chão,
vem sentar-te nela e ver o mundo
rodar, sofrer, amar, nascer, morrer
e nós ali
amigos a valer
que acontece uma vez cada milhão
ai, é que os olhos
não vêem como vê o coração
Devagar, pintei as cores da minha vida
pouco a pouco deste o tom do teu viver
ai, e o tempo
levou-nos na aventura de crescer
descobrir cada gesto,
amar, esquecer o resto,
e fez de nós
amigos a valer
Vem à minha estrela,
tem um palmo só de chão,
vem sentar-te nela e ver o mundo
rodar, sofrer, amar, nascer, morrer
e nós ali
amigos a valer
Muita vez busquei o abrigo dos teus braços
que os fracassos doem mais se estamos sós
ai, e hoje
não passo sem o som da tua voz
E se um dia fores no rasto de uma estrela
ninguém vai notar que outra luz se acendeu
ai, e eu ao vê-la
serena entre o azul escuro do céu
vou sentir a magia
o encontro e a alegria
que fez de nós
amigos a valer
Vem à minha estrela
ver um palmo só de chão
vem sentar-te nela e ver o mundo
rodar, sofrer, amar, nascer, morrer
e nós ali
amigos a valer
('Amigos a valer', escrito para a peça 'O Principezinho', Teatro Aberto, 1987/88)
A verdade sobre a morte do principe
Antoine-Jean-Baptiste-Marie-Roger Foscolombe de Saint-Exupéry era o terceiro filho do conde Jean Saint-Exupéry e da condessa Marie Foscolombe. Não foi por isso que ficou para a história, mas sim por ter sido um escritor brilhante, capaz de criações intemporais e eternas como 'Le Petit Prince'(1943), seu destaque maior, ou 'Vol de Nuit'(1931), outro clássico. E também pelo mito que envolveu o seu desaparecimento a 31 de Junho de 1944, voando numa missão de reconhecimento. Os destroços do seu avião foram descobertos recentemente, em 2004, a poucos quilómetros da costa de Marselha. Mas o seu corpo nunca foi encontrado.
Agora, passada mais de metade de um século sobre o dia em que Antoine de Saint-Exupery foi visto pela última vez, entrando no seu avião, alguém vem reclamar a responsabilidade pelo seu desaparecimento. Outro aviador, um ex-piloto da Luftwaffe, Horst Rippert, que afirma acreditar ter abatido o Lockheed P38 Lightning de Exupery nos céus de Grenoble, com tiros do seu Messerschmidt Me109. A história consta do livro 'Saint-Exupery, l'ultime secret', a ser lançado brevemente, segundo nos conta Fernando Venâncio, aqui. Existe até já um filminho promocional, que pode conferir neste post. Mas o segredo, esse, ficou já revelado.
terça-feira, 18 de março de 2008
A Primavera, o frémito pagão e a vontade de colocar nelas: João vira lobo.
«Agora que a Primavera chega, traz com ela esta inebriante disposição que me inunda de bons e filantrópicos sentimentos, tais como a vontade de fazer um/a filho/a a cada portuguesa. Por onde quer que vá, nas nossas (e vossas) mulheres só vislumbro qualidades. Umas da cintura para cima, outras da cintura para baixo. E em algumas (em número substancialmente mais escasso, admito-o) qualidades em ambos os hemisférios. É tal a vontade de colocar nelas a minha fértil semente do porvir que só uma mão firme (aliás duas) e alguns gritos vociferados pela minha cara-metade me impedem de tombar no mais desmedido frémito pagão.»
(João Villalobos em êxtase, aqui, sofrendo com e por Eliot Spitzer. De ir às lágrimas. Imperdível.)
Em defesa do endurecimento
A meio da reunião da Comissão Política Nacional, o presidente do CDS-PP, Paulo Portas, referiu que o partido "está a preparar um conjunto de iniciativas legislativas" em matéria de segurança, que apontam para o reforço do dispositivo policial, das medidas legais contra o crime, das políticas de integração social e da investigação da criminalidade violenta e juvenil. Dizem os jornais que o CDS-PP foi muito claro quanto ás leis penais: 'Paulo Portas defendeu o endurecimento', garantem. Não me surpreendeu, confesso.
Um ménage pocariço, ou a América do costume.
A demissão de Eliot Spitzer, Governador de Nova York, continua a ter ainda assunto para os americanos, gente que só larga um pitéu destes depois de convenientemente espremido e retorcido até nem um pingo mais de sémen cair. O follow up informativo das quecas que custaram o cargo a Eliot vem sendo feito nos media com os comentários e testemunhos de figuras repescadas à memória das suas próprias escandaleiras pessoais já passadas. E foi essa maré que devolveu à praia a luso-americana Dana Matos McGreevey, ex-mulher do senador gay Jim McGreevey, recentemente saído do armário (e do casamento) e cuja história já foi contada aqui. A portuguesa que viveu o sonho americano por casamento, da Pocariça para os salões de Washington por obra e graça de uma paixão assolapada, como nos filmes, vê-se agora novamente apanhada nas malhas da badalhoquice senatorial norte-americana, pela divulgação de mais pormenores escabrosos do seu passado com o senador. Tal como nos filmes, também.
Desde que o seu caso se tornou público que Jim e Dina fazem a vida negra um ao outro. Os dois lavaram roupa suja na TV, os dois escarrapacharam a sua intimidade nos jornais com todos os dirty details, os dois escreveram livros a contar a versão de cada um, muito juicy nos dois casos. Agora a iniciativa terá partido de Jim McGreevey, que teve desta vez a gentileza de vir contar que Dina Matos sabia perfeitamente da sua homossexualidade e que por isso terá concordado em manter uma relação sexual a três com o colaborador de campanha Pedersen, durante dois anos, até à sua eleição para governador de Nova Jérsia em 2001. Mas, segundo Dina, quando Jim era presidente da Câmara de Woodbridge já se entendia intimamente com Teddy, relação que continuou enquanto desempenhou o cargo de governador de Nova Jérsia, até à sua demissão em 2004, e mesmo depois. Um encanto, este vai-vem de ternuras. Recorde-se que a demissão do governador McGreevey foi justificada pelo próprio como única saída para um caso de chantagem económica de que estaria a ser vítima por parte de um seu funcionário, o qual se queixou, por sua vez, de ser alvo de um assédio sexual insuportável. Outro vai-vem, outro encanto, naturalmente.
Agora, Jim considera que o ménage à trois com Dina «já aconteceu há muito tempo» e, portanto, é preciso «seguir em frente» para bem da única filha do casal, uma menina de seis anos que só mais tarde terá capacidade para entender mais esta revelação paterna. Pedersen, por seu turno, diz que não sabia se Jim era ou não homossexual. O seu móbil ao denunciar o ménage à trois com Dina foi, imagine-se, a raiva que diz ter sentido ao vê-la na televisão a comentar a demissão de Eliot Spitzer, governador de Nova Iorque. Durante essa intervenção, Dina terá recordado que ficou «pasmada» ao saber da homossexualidade do ex-marido quando este, ao apresentar a demissão de governador de Nova Jérsia, se assumiu como gay.
Disse e repito, para mim os americanos têm uma cultura de escândalo que os faz gente que só larga um pitéu destes depois de convenientemente espremido e retorcido até nem mais um pinguinho de sémen cair. Por isso acredito que o follow up informativo das quecas de Mr.Spitzer ainda terá muita surpresa por revelar, todas e cada uma com este tipo de repercussão à escala mundial que junta Nova York e a Pocariça num mesmo abraço lúbrico.
Bom dia. Hoje o PS governa como os interruptores, ora para baixo, ora para cima.
«O PS manifestou-se hoje disponível para aceitar que menores de 18 anos sejam autorizados a usar 'piercings' ou tatuagens, desde que as respectivas famílias assumam a responsabilidade em termos de consequências para a saúde. «O objectivo do nosso projecto não é proibicionista, mas regular uma actividade para salvaguardar a saúde dos seus utilizadores, assim como para prevenir a transmissão de doenças», declarou à agência Lusa o deputado socialista Renato Sampaio. Da mesma forma, o presidente do PS/Porto adiantou estar aberto a rever a ideia de proibir os cidadãos em geral de aplicarem 'piercings' em zonas do corpo humano como a língua, vasos sanguíneos, junto do pavimento da cavidade oral, na proximidade de nervos e de músculos, e sobre quaisquer tipos de lesão cutânea. Na versão inicial do diploma do PS, entregue sexta-feira no Parlamento, proíbe-se genericamente a aplicação de 'piercings" na língua e estabelece-se a proibição da aplicação de tatuagens, de maquilhagem permanente e de 'piercings' a menores de 18 anos. Agora, segundo Renato Sampaio, o PS já está disposto a aceitar que, quem desejar ter aplicações de 'piercings" nestas zonas do corpo, seja obrigatoriamente alertado para os riscos dessa prática e, se persistir, assuma depois a responsabilidade por ela.»
segunda-feira, 17 de março de 2008
Ui! Ai! Ui! Ui!
A colocação de piercings na língua vai ser proibida em Portugal. O PS entregou na Assembleia da República (AR) um projecto-lei que proíbe a colocação daqueles acessórios na língua e na boca, bem como “na proximidade de vasos sanguíneos, de nervos e de músculos”, o que inclui os órgãos genitais. A notícia tem feito correr alguma tinta, mas nada por aí além. Embora seja, de facto, mais uma intromissão absurda do Estado em matéria do foro privado de cada um, independentemente da justeza ou não do reparo de costumes. É caricata esta vocação de Estado-Papá, preocupado com a nossa saúde, que vem sendo assumida um pouco por toda a parte neste mundo moderno. E Portugal vai bem lançado nesta corrida pela virtude instituída por decreto. Este projecto-lei dos piercings é mais um bom exemplo disso mesmo.
Eu cá confesso que é coisa que abomino, no meu gosto pessoal. Que nunca usaria ou aconselharia aos meus. E que, aparentemente, acarreta os seus riscos, a acreditar na mensagem da ilustração que aqui vemos. Ui, ai, ui, um perigo. Mas um perigo privado. Que só diz respeito a cada um.
Eu cá confesso que é coisa que abomino, no meu gosto pessoal. Que nunca usaria ou aconselharia aos meus. E que, aparentemente, acarreta os seus riscos, a acreditar na mensagem da ilustração que aqui vemos. Ui, ai, ui, um perigo. Mas um perigo privado. Que só diz respeito a cada um.
Duas garrafas de Macieira (roubadas)
O meu amigo Daniel de Sá escreve no Aspirina B, como é sabido. É ouro da casa, ela própria de luxo. Mas, de vez em quando, Daniel publica também por aqui colaboração generosa e que nos encanta, a mim e aos passantes com ou sem cartão de residência. Muitos desses são açorianos, tal como eu e tal como o Daniel. Pois foi a pensar em todos eles - em todos nós, açorianos - que esta noite fui ao galinheiro aspirínico e pilhei esta galinha gorda para a janta cá da malta. Estava por lá à vista, uma entre várias; olhei para um lado, olhei para o outro, não vi ninguém: zzzut. Ora sirvam-se, se fazem favor, que este é um fantástico documento da oralidade da nossa terra. Raro, precioso. Lembrem-me de agradecer ao Daniel, quando o vir.
Em baixo: "Duas garrafas de Macieira"
Sete vidas mais uma: Daniel de Sá
Sete vidas mais uma: Daniel de Sá
Olhe qu’ê gosto munto do João Cravalho, aquilo nã era partida qu’ele me fezesse. A gente só pode levar duas garrafas de bebida, dizem qu’a lei nã permete nem sequer essas duas, mas eles fechim os olhos s’a gente nã leva más que duas. Quer-se dezê que eu levê aquelas duas e nã podia levar más ninua. Uma era pra ofrecer ó mê doutor, um belo home, que até fala uma nisquinha de pertuguês, e tá sempre numa ipequeia comigo, quer qu’ê largue a bebida, mas, mê rico amigo, um home bebe desde o breço, nã há modos de largar, nã le parece? Isto nã é mintira ninua, era cma todos os outros pitchenos do mê tempo, mal davam um grito as mãs pansavam qu’era dôs de barriga, ala dar-les licô de esprite de canela, a gente ficava era bêbedos, coutadinhos, ó dispous, já más maorzinhos, era sopas de cavalo cansado, sabe isto o que é, o sê pai tamam dava às mulas uma garrafa de vim e um pã trigue, antes da viage da cedade prà Maia, sete léguas aluídas por aí adiante, entanse pra subir a Croa da Mata, mas más principalmente o Coucinho do Porto Formoso, aqui os carroceros tinham de metê a giga nos varales da carroça pra dar uma ajuda às bestas. Nos Calços, a camineta, qu’era a cravão, nã subia, os passageros tinham de descer e dar uma ajuda a impurrar, o malero ponhava uma pedra mal ela subia uma becadinho, os homes tomavam folgo e ala outro impurrãzinho. E cando era pra sair aqui da Maia, o malero ia aí plas quatro da manhã acender a caldera, despous a camineta tomava balanço pra pegar pla rua da igreja abaxo, se não pegava tava lá em baxo uma junta de bous pra a levar pra riba até à igreja, e lá ia ela por ali abaxo até pegar. E no Coucinho do Porto tava sempre outra junta.
Pous, fu ê munto prezado ofrecer uma garrafinha ó mê doutor, nem faz ideia cm’aquele home tratou a minha mulher, qu’ela morrê fou porque teve de sê, era uma santa, o que penou comigo só Dês sabe e ê tamam. É por isso que agora que tou viúve e na ritaia venho cá más vezes, mas esses coriscos pregam-me cada partida qu’ê nunca m’alembro de ter feto igual a outros, e inda menos a eles, mês ricos amigos. Mas esta fou ideia do João Cravalho, que se ri cm’o demoino cando le conté, e ê tolo inda le fu contar o que m’acontecê. Pous segue-se que cando ê incontré o doutô, despous de le dar a garrafinha, era de Macieira, tava à espera qu’ele me fezesse um elogio, qu’aquilo vendo era mesmo Macieira, eles fezeram a cousa munto bem feta, era tal qual. Um elogio, isso é qu’era bum! Cal-te-cá elogio! Sabe o qu’ele me disse? Os coriscos tinham botado era chá nas garrafas, qu’ê despous provê a outra, que tinha na ideia ofrecê-la a outra pessoa amiga. O doutor ri-se e disse-me, ele fala uma nisquinha de pertuguês, já le disse, “Ó senhor Franco, a aguardente na sua terra é munto fraquinha.”
Pous, fu ê munto prezado ofrecer uma garrafinha ó mê doutor, nem faz ideia cm’aquele home tratou a minha mulher, qu’ela morrê fou porque teve de sê, era uma santa, o que penou comigo só Dês sabe e ê tamam. É por isso que agora que tou viúve e na ritaia venho cá más vezes, mas esses coriscos pregam-me cada partida qu’ê nunca m’alembro de ter feto igual a outros, e inda menos a eles, mês ricos amigos. Mas esta fou ideia do João Cravalho, que se ri cm’o demoino cando le conté, e ê tolo inda le fu contar o que m’acontecê. Pous segue-se que cando ê incontré o doutô, despous de le dar a garrafinha, era de Macieira, tava à espera qu’ele me fezesse um elogio, qu’aquilo vendo era mesmo Macieira, eles fezeram a cousa munto bem feta, era tal qual. Um elogio, isso é qu’era bum! Cal-te-cá elogio! Sabe o qu’ele me disse? Os coriscos tinham botado era chá nas garrafas, qu’ê despous provê a outra, que tinha na ideia ofrecê-la a outra pessoa amiga. O doutor ri-se e disse-me, ele fala uma nisquinha de pertuguês, já le disse, “Ó senhor Franco, a aguardente na sua terra é munto fraquinha.”
domingo, 16 de março de 2008
Eu, com bigode sindicalista
Por esta altura já me cheira mal esta ‘Luta dos Professores’, confesso. Não a luta dos professores, que essa julgo entender, ou pelo menos esforço-me, a tanto obrigado pelo meu interesse pessoal e por todo este alarido no Portugal pós-Campos, o Corrido. Não, não essa. A questão está na outra, na ‘Luta dos Professores’ que todos gritam. Qual é a diferença? Muita, suspeito. A diferença está no caixar alto, na bandeira que já anda de repente de mão em mão, a mesma para professores e profissionais do barulho, louças portas e Menezes às vezes. Pois que no mesmo repente arrisca o país deixar de falar de Educação para passar a braços de ferro, recuos e avanços, estratégias e jogadas, tudo truques e simbolismos, rasteiras e contra-manobras dos uns que põem os outros (tudo e todos) com os olhos na televisão para ver quem ganha. E assim fazem esquecer o que está de facto em jogo, que era o que nos interessava a todos nós no início da conversa. E agora discutimos uma árvore, com a floresta a arder, enquanto vaiamos os bombeiros. Esse é o problema nesta altura, ao intervalo, para mim.
Sei que tenho uma opinião escanhoada, se pensarmos no bigode sindicalista que Mário Nogueira vem dando à nação desde que a indignação desesperada (ou teria sido o desespero indignado) da classe docente disparou e acertou em cheio no coração do governo uma rajada de cem mil, todos juntos e a gritarem o mesmo de uma razão comum. Os professores contestam a avaliação, querem uma solução para esse seu problema profissional? Pois logo os sindicatos não querem, exigem uma. E o governo “não discute sob ultimato” e é tudo o que diz, grato pela borla para escapar ao debate técnico. E de repente já tudo gira em torno do tom de voz de um lado e outro, já tudo se resume à avaliação dos professores, ao que Sócrates tem que fazer, ao que o Ministério tem que ceder, ‘força!’ ou ‘forca!’ para Marilu, passe o exagero. Os professores, ou porque lhes interessa, ou porque é uma questão do seu trabalho, ou porque envolve a sua dignidade pessoal e de classe, ou porque os incomoda, ou porque é justo, ou porque os assusta, ou porque seja, não vêm a terreiro dizer que há mais e pior para corrigir quando falamos de Educação e Ensino em Portugal, que há outras questões que se calhar há anos os incomodam e perturbam o seu desempenho e a vocação dos que o são. Porque teriam que o fazer, aliás, perante o facto? Até porque só a questão da avaliação tem de facto pano para mangas, quer pela sua importância real, quer pela sua natural complexidade, não fosse o brio um requisito de humanidade de cada profissão. Resultado? Isto que vemos, isto que temos. Um mar de metades: meias verdades, meias medidas, meias desfeitas, meias curtas para estas pernas que fazem andar a cultura nacional, a educação e o ensino. E os putos sujeitos a quotas de dias perdidos. Os pais a pagarem essas quotas em cãs e numerário, nem sempre por essa ordem. E o país a perder agora e mais tarde, numa derrota colectiva com temporizador activado.
Tal como eu dizia, entre mim e o Mário Nogueira existe mais que um bigode sindicalista. Eu faria diferente se fosse a cara da luta dos professores (e não a cara da ‘Luta dos Professores’). Se tivesse acesso ao microfone principal do palco da reivindicação docente, também eu não aceitava que o Estado me impusesse a avaliação. Eu próprio impunha a avaliação dos professores, a minha avaliação, tão alto que o país pararia para me ouvir e o governo bateria a compasso quando eu exigisse uma gigantesca avaliação à prestação de cada professor. Nos termos que o ME sugere? Não, vamos carregar nas cores. Se resumem os senhores o tal ‘braço de ferro’ à avaliação, pois faça-se um aferir que inclua a prestação profissional nos critérios que preocupam o governo, sim, mas juntem-se ainda mais estes e estes e estoutros que espelham isto e mais aquilo e mais aqueloutro que prejudica a educação, que tolhe o ensino, no saber daqueles que há décadas o fazem e estão aí, insatisfeitos. E aí falemos de currículos, de colocações, de horários, de instalações, de carreiras, de números, de programas, do diabo a quatro que inferniza a escola em Portugal há anos demais. E de avaliação também. São os professores a exigi-lo. A gritá-lo, mais alto e mais duro que o governo. Querem conferir? Confiramos, mas todo o stock, não só a montra escolhida. E chamem-se os arautos do costume para mostrar o escândalo ao país e ao mundo. E faça-se tudo agora e com a mobilização de tudo e todos, professores, sindicatos, alunos, pais, varredores e apanha bolas - o país inteiro, porque o país inteiro não sobrevive sem educação, não respira sem ensino. E faça-se depressa, porra, numa só motivação, numa onda comum, que as crianças crescem depressa e tendem a reproduzir-se que nem martas.
Ninguém acredita possível este lirismo, certo? Mas eu respeitaria uma classe docente que fizesse tal exigência. Eu parava o meu passo, estacionava qualquer preconceito, encostava qualquer embalo para ver e ouvir um braço feito deste aço inox. Quereria saber mais da tal indignação que agora se confunde perigosamente nas sombras do jogo político, que se escoa na transparência das razões de todos (que todos as têm para a troca, é sabido e escusado discutir). E exigiria mais e melhor da outra parte, por mais minha equipa que fosse pela cor do voto, simpatia ou convicção. Que a verdade faz cair as máscaras, derrete-lhes o sebo de mentira que as cola à cara de quem as usa para sobreviver, politica ou profissionalmente. Por isso avalie-se o que se questiona de um lado, mas questione-se o que se avalia também, acrescentando as nossas razões na mesma exposição nacional. E porque não fazê-lo, se o essencial da classe docente, os bons que dão o seu melhor, não temem avaliações e não se deixam iludir com falsas questões? Mas ande-se para a frente com a carroça, que gritos e diz-que-disse, bigodes e porreirospá, só trazem fumaça e poeira aos tais avanços e recuos que dão meia volta e continuam em frente, para acabarem no mesmo sítio. Eles e nós.
Sei que tenho uma opinião escanhoada, se pensarmos no bigode sindicalista que Mário Nogueira vem dando à nação desde que a indignação desesperada (ou teria sido o desespero indignado) da classe docente disparou e acertou em cheio no coração do governo uma rajada de cem mil, todos juntos e a gritarem o mesmo de uma razão comum. Os professores contestam a avaliação, querem uma solução para esse seu problema profissional? Pois logo os sindicatos não querem, exigem uma. E o governo “não discute sob ultimato” e é tudo o que diz, grato pela borla para escapar ao debate técnico. E de repente já tudo gira em torno do tom de voz de um lado e outro, já tudo se resume à avaliação dos professores, ao que Sócrates tem que fazer, ao que o Ministério tem que ceder, ‘força!’ ou ‘forca!’ para Marilu, passe o exagero. Os professores, ou porque lhes interessa, ou porque é uma questão do seu trabalho, ou porque envolve a sua dignidade pessoal e de classe, ou porque os incomoda, ou porque é justo, ou porque os assusta, ou porque seja, não vêm a terreiro dizer que há mais e pior para corrigir quando falamos de Educação e Ensino em Portugal, que há outras questões que se calhar há anos os incomodam e perturbam o seu desempenho e a vocação dos que o são. Porque teriam que o fazer, aliás, perante o facto? Até porque só a questão da avaliação tem de facto pano para mangas, quer pela sua importância real, quer pela sua natural complexidade, não fosse o brio um requisito de humanidade de cada profissão. Resultado? Isto que vemos, isto que temos. Um mar de metades: meias verdades, meias medidas, meias desfeitas, meias curtas para estas pernas que fazem andar a cultura nacional, a educação e o ensino. E os putos sujeitos a quotas de dias perdidos. Os pais a pagarem essas quotas em cãs e numerário, nem sempre por essa ordem. E o país a perder agora e mais tarde, numa derrota colectiva com temporizador activado.
Tal como eu dizia, entre mim e o Mário Nogueira existe mais que um bigode sindicalista. Eu faria diferente se fosse a cara da luta dos professores (e não a cara da ‘Luta dos Professores’). Se tivesse acesso ao microfone principal do palco da reivindicação docente, também eu não aceitava que o Estado me impusesse a avaliação. Eu próprio impunha a avaliação dos professores, a minha avaliação, tão alto que o país pararia para me ouvir e o governo bateria a compasso quando eu exigisse uma gigantesca avaliação à prestação de cada professor. Nos termos que o ME sugere? Não, vamos carregar nas cores. Se resumem os senhores o tal ‘braço de ferro’ à avaliação, pois faça-se um aferir que inclua a prestação profissional nos critérios que preocupam o governo, sim, mas juntem-se ainda mais estes e estes e estoutros que espelham isto e mais aquilo e mais aqueloutro que prejudica a educação, que tolhe o ensino, no saber daqueles que há décadas o fazem e estão aí, insatisfeitos. E aí falemos de currículos, de colocações, de horários, de instalações, de carreiras, de números, de programas, do diabo a quatro que inferniza a escola em Portugal há anos demais. E de avaliação também. São os professores a exigi-lo. A gritá-lo, mais alto e mais duro que o governo. Querem conferir? Confiramos, mas todo o stock, não só a montra escolhida. E chamem-se os arautos do costume para mostrar o escândalo ao país e ao mundo. E faça-se tudo agora e com a mobilização de tudo e todos, professores, sindicatos, alunos, pais, varredores e apanha bolas - o país inteiro, porque o país inteiro não sobrevive sem educação, não respira sem ensino. E faça-se depressa, porra, numa só motivação, numa onda comum, que as crianças crescem depressa e tendem a reproduzir-se que nem martas.
Ninguém acredita possível este lirismo, certo? Mas eu respeitaria uma classe docente que fizesse tal exigência. Eu parava o meu passo, estacionava qualquer preconceito, encostava qualquer embalo para ver e ouvir um braço feito deste aço inox. Quereria saber mais da tal indignação que agora se confunde perigosamente nas sombras do jogo político, que se escoa na transparência das razões de todos (que todos as têm para a troca, é sabido e escusado discutir). E exigiria mais e melhor da outra parte, por mais minha equipa que fosse pela cor do voto, simpatia ou convicção. Que a verdade faz cair as máscaras, derrete-lhes o sebo de mentira que as cola à cara de quem as usa para sobreviver, politica ou profissionalmente. Por isso avalie-se o que se questiona de um lado, mas questione-se o que se avalia também, acrescentando as nossas razões na mesma exposição nacional. E porque não fazê-lo, se o essencial da classe docente, os bons que dão o seu melhor, não temem avaliações e não se deixam iludir com falsas questões? Mas ande-se para a frente com a carroça, que gritos e diz-que-disse, bigodes e porreirospá, só trazem fumaça e poeira aos tais avanços e recuos que dão meia volta e continuam em frente, para acabarem no mesmo sítio. Eles e nós.
(Deve-se este post a mais uma daquelas discussões aspirínicas que só lá, mesmo. Onde? Aqui, claro.)
Jardim Piaff
«É soltando o trecho Je ne regrette rien que Alberto João Jardim recua 30 anos e condensa o que foram os seus três decénios à frente dos destinos da Região Autónoma da Madeira. É no Porto Santo e em plena quadra pascal, que Alberto João Jardim vai passar pelo inexorável traço do tempo ainda que não goste, nem queira comemorar: «Non! Rien de rien.../ Non! Je ne regrette rien/ Ni le bien qu'on m'a fait/ Ni le mal tout ça m'est bien égal!», solta aos quato ventos...»
Bom dia. Hoje eu juro, juro que não era eu.
«Eu também já vi aqui alguém dos Açores.»
(José Sócrates, ontem, no comício do PS, no Porto)
(José Sócrates, ontem, no comício do PS, no Porto)
sábado, 15 de março de 2008
Pessoas de raça perigosa
«Quatro crianças foram atropeladas hoje numa passadeira, no Porto, por um taxista alcoolizado que fugiu do local, revelou a PSP; uma das raparigas está internada com ferimentos graves no Hospital de S. José.
Às 15:50, uma menina de sete, outra de oito e duas de 12 anos foram atropeladas por um taxista de 44 anos quando atravessavam uma passadeira da Praça das Flores, na freguesia do Bonfim. As raparigas foram transferidas para o Hospital de São José: três com ferimentos leves e uma das mais velhas com ferimentos graves. "A rapariga de 12 anos deverá ficar internada no Hospital", disse à Lusa o oficial de Dia da PSP do Porto.
Mais de uma hora após o acidente, o taxista, casado e residente em Campanhã, apresentou-se na esquadra e foi constituido arguido por atropelamento com fuga e omissão de auxílio, revelou a PSP. Além destes crimes, o condutor apresentava ainda uma taxa de alcoolémia de 0,92, quando o máximo permitido é 0,5.»
Quero saber, sem ironia, sem intenção de gracinha: deve o Estado mandar esterilizar todos os condutores, ou só os taxistas? Ou apenas os condutores taxistas bêbedos? Um condutor bêbado trata-se ou não de uma raça perigosa? Quantos mortos até hoje, atropelados nas passadeiras ou fora delas, crianças, velhos, novos, homens, mulheres? Por falta de uma lei ou por falta de cumprimento da lei existente? Como se resolve, esteriliza-se? Sei que pode parecer absurda a comparação, sobretudo para quem logo à partida não se quiser dar à maçada de pensar. Quem já souber tudo sobre tudo. Mas esqueçam por um segundo se falamos de cães se de gente. Só por um instante. Falemos só de governos, de leis, de povos e de aplicação e cumprimento ou não das leis existentes. Era bom se o fizessemos, por um instante. Porque nessa perspectiva estaríamos a falar da mesmíssima coisa, uma só nas duas situações: um problema social que não é exterminável por decreto. Que existe nas pessoas, não nas leis. Em pessoas de raça perigosa.
Alguém pode fazer o favor de explicar isto ao senhor Silva que é ministro?
Às 15:50, uma menina de sete, outra de oito e duas de 12 anos foram atropeladas por um taxista de 44 anos quando atravessavam uma passadeira da Praça das Flores, na freguesia do Bonfim. As raparigas foram transferidas para o Hospital de São José: três com ferimentos leves e uma das mais velhas com ferimentos graves. "A rapariga de 12 anos deverá ficar internada no Hospital", disse à Lusa o oficial de Dia da PSP do Porto.
Mais de uma hora após o acidente, o taxista, casado e residente em Campanhã, apresentou-se na esquadra e foi constituido arguido por atropelamento com fuga e omissão de auxílio, revelou a PSP. Além destes crimes, o condutor apresentava ainda uma taxa de alcoolémia de 0,92, quando o máximo permitido é 0,5.»
Quero saber, sem ironia, sem intenção de gracinha: deve o Estado mandar esterilizar todos os condutores, ou só os taxistas? Ou apenas os condutores taxistas bêbedos? Um condutor bêbado trata-se ou não de uma raça perigosa? Quantos mortos até hoje, atropelados nas passadeiras ou fora delas, crianças, velhos, novos, homens, mulheres? Por falta de uma lei ou por falta de cumprimento da lei existente? Como se resolve, esteriliza-se? Sei que pode parecer absurda a comparação, sobretudo para quem logo à partida não se quiser dar à maçada de pensar. Quem já souber tudo sobre tudo. Mas esqueçam por um segundo se falamos de cães se de gente. Só por um instante. Falemos só de governos, de leis, de povos e de aplicação e cumprimento ou não das leis existentes. Era bom se o fizessemos, por um instante. Porque nessa perspectiva estaríamos a falar da mesmíssima coisa, uma só nas duas situações: um problema social que não é exterminável por decreto. Que existe nas pessoas, não nas leis. Em pessoas de raça perigosa.
Alguém pode fazer o favor de explicar isto ao senhor Silva que é ministro?
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