Há gente assim, com vidas que nunca mais acabam. Seres com a estranha capacidade de se reinventarem mesmo no disparate.
De renascerem sempre, após cada uma das muitas mortes que vão tendo em vida. Tolos, há outros que lhes invejam este castigo como se fora uma gracinha para entreter os amigos nas noites frias de inverno ou nas amenas cavaqueiras de verão. São os tolos quatro-estações, que por desconhecerem a primavera das ideias estão condenados ao outono da mediocridade para sempre.


quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Up Yours, Mr. Parsons

O embaixador português no Reino Unido, António Santana Carlos, entendeu sábado passado dar uma entrevista ao Times, onde se alongou em considerações pessoais sobre o caso Maddie McCann. Na linha das habituais tolices de uma longa lista de tolos especialistas sobre este assunto, o (pouco) diplomata português referiu a certa altura que em Portugal «as famílias vivem todas juntas», razão pela qual, sugere, alguns portugueses terão criticado os McCann por terem deixado os seus filhos sozinhos a dormir num apartamento enquanto jantavam num restaurante próximo.



Foi como deitar álcool ao fogo. E o suficiente para o «Daily Mirror» de segunda-feira sair com uma crónica, do jornalista Tony Parsons, com o sugestivo título "Oh, up yours, señor". Nela o senhor Parsons estica-se em comentários e observações de fino recorte, das quais retiro a essência. «Eles erraram, embaixador. As vidas deles foram destruídas. Isso é um castigo suficiente, sem os seus comentários estúpidos e desnecessários», escreve o articulista do Mirror, que ainda aconselha que no futuro Santana Carlos «mantenha fechada a boca estúpida e trituradora de sardinhas».


Aqui entre nós, eu cá acho que o Ministério dos Negócios Estrangeiros deve ponderar seriamente a hipótese de oferecer ao embaixador Santana Carlos uma interessante progressão na carreira. E quem sabe espetar com o homem nas manhãs da televisão, ali ao lado de reconhecidos ícones da parvoíce lusitana como José Castelo Branco ou Cláudio Ramos, enfim. E aí sim, deixar o homem comentar o que lhe apetecesse. Em português e para Portugal, que assim os ingleses percebiam tanto como os chineses e a vergonha ficava aqui por casa, só para a gente. Isto é uma coisa. Um lado da questão.

Agora lá porque o pobre Carlos é incontinente verbal, coitado, isso a meu ver não é razão para deixar um merdas qualquer, inglês ou marroquino, desancar o meu Embaixador e ofender Portugal. Cada país terá os embaixadores que merece, é certo, tal como cada monarquia tem o tampax que merece na senda do trono. Só por piada os ingleses podem pretender julgar seja quem for. E nestas coisas eu cá sou mais eu, confesso, e salta-me o chinelo. Mesmo nascido lá nas ilhas sobe-me aquela varinice do bairro mais alto dos meus fados e grito daqui ao tal tónì: Up yours nada, meu amigo. É 'na peida' mesmo. E vem cá pedir sardinhas ao Algarve que a gente ensina-te outras mais giras.


RVN

Homens, meninos e maçãs

Menino ainda, lembro-me de ter pensado pela primeira vez em 'homens que não tiveram tempo para ser meninos' quando descobri a frase, nos 'Esteiros' de Soeiro Pereira Gomes. As desventuras dos putos do tijolo, os desvarios com a Louca a ensinar-lhes a vida, o filho daquela que não deitava fora o Inverno. Lembro-me de achar duas coisas. Que não haveria maior desgraça que ser homem sem ser primeiro menino. E que bom que era aquilo só acontecer nos livros.

Mais tarde lembro-me de muito e sem ordem de chegada. Lembro-me das caras dos garotos que arrastavam os seus pais e professores pelas ruas, tosquiados, amarrados, espancados e de cartaz ao peito com insultos, para neles cuspirem e baterem na praça pública de uma China exultante no crime. Lembro-me do rosto do ódio dos Khmers no Cambodja, escassas dúzias de anos armadas até aos dentes que só se viam em gritos, nunca em sorrisos. Lembro-me dos mesmos rostos e do mesmo ódio mas em preto e branco, aqui e ali e ali e ali nessa África tão imensa em tamanho como em selvejaria e estupidez.


Lembro-me das expressões assustadas de uns gaiatos loiros de uniforme nazi, apanhados de armas e calças na mão nas derradeiras barricadas de Berlim e quantos fuzilados na hora, por tolice e imaturidade. E lembro-me do relatório da Human Rights Watch (HRW) que acusa o Exército de Myanmar de recrutar crianças à força para suprir a falta de soldados voluntários e a alta taxa de deserção no exército. Claro que me lembro, foi publicado hoje.

Crianças de até 10 anos que são arrancadas ás famílias, espancadas e ameaçadas de prisão e assim forçadas a entrar nas forças armadas de Myanmar através de recrutadores militares ou intermediários civis que recebem dinheiro do Exército por cada uma. Jo Becker, representante da HRW, disse hoje à BBC que o país «está literalmente comprando e vendendo crianças» para preencher as fileiras do Exército. «Os generais do governo toleram o ostensivo recrutamento de crianças e não punem os responsáveis. Nesse ambiente, recrutadores do Exército traficam crianças livremente».

Menino ainda, lembro-me de ter insistido em plantar um belo rebento de macieira, certa vez, num caminho que era pisado e calcado por toda a gente. Fui avisado e avisado, vezes sem conta. Insisti. Só deu merda. Não saiu uma única maçã de jeito.

RVN

Bem me parecia que andavam a meter muita...

(JN,31Out)


A minha alegre celinha

Ando doido por comprar uma casinha. Um têzerozinho, no Algueirão ou em Massamá, com kitch e net e vista para a rua. Ter casa própria é tudo. Eu já andava com esta ideia, mas a notícia de hoje da BBC News sobre o caso do senhor Graeme Alford fez-me decidir de uma vez por todas.

Graeme Alford, ex-alcoólico, passou vários anos na australiana Pentridge Prison, em Melbourne, condenado por roubo e desvio de fundos. Antes do seu encerramento em 1997, a Pentridge Prison era o mais célebre estabelecimento prisional do país, o local onde em 1967 teve lugar o último enforcamento ditado pela lei australiana. Agora, Graeme Alford comprou a sua antiga cela ao Estado Australiano e hoje mesmo vai receber as respectivas chaves, as mesmas que o mantiveram lá fechado durante o seu período de reclusão. De hoje em diante, entra e sai quando quiser. A cela é dele.

Graeme Alford foi libertado em 1980 e jurou nunca mais beber. Mas nas primeiras declarações que fez agora à imprensa, depois da concretização do negócio, confessou ser sua intenção fazer da velha cela um armazem de vinhos. «A grande ironia é que eu já não bebo. Isto é para puro investimento», garantiu.


Ando doido por comprar uma casinha. Um têzerozinho, no Algueirão ou em Massamá, com kitch e net e vista para a rua. E quero fazer um armazém de vinhos, também, para guardar as Teobar e Casal Garcia que já tenho em stock. Não há prisão como a nossa, essa é que é essa. Cela, doce cela.

RVN

Hoje eu sou espanhol.


Mas como? Porquê? E até quando?

(Lusa,31 Out)

«O Dia Mundial da Poupança é motivo para reflectir. Na dificuldade que muitos portugueses enfrentam para conseguir amealhar algum dinheiro».

Talvez se oferecerem mais qualquer coisita...


terça-feira, 30 de outubro de 2007

Soltem os prisioneiros!

E mais um dia chegou ao fim. O sol deu a sua voltinha do costume cá pelo bairro e a lua já está na Praça da Concentração, pronta para inundar a noite da Sapucaí com a sua luz.
Por toda a parte a vida continua, igual a si própria na versão de cada um. Os velhinhos ficam mais velhinhos e os novinhos também. Os assim-assim não passam disso, é garantido. Os uns ficam mais limpos e macios. E os outros lavam a alma à mão, que não há crédito na Singer para uma máquina de lavar.


Separados pelo oceano, eu e o Jorge Bush pensamos na vida. Eu escrevo este texto e o Jorge, que governa o mundo, vai contemplar este mesmo sol poente com nostalgia, lá no rancho, daqui a umas horas. Eu penso muito no Jorge e em todos os Jorges e Osamas e Aníbais e Putines que há neste mundo de Deus. E rendo-me a um pensamento por eles neste final de dia feliz: 'Jamais retenhas um peido dentro de ti. Sobe-te pela coluna vertebral e aloja-se no cérebro. É assim que nascem as ideias de merda.'
Jorge, Osama, Putine, Aníbal, pessoal: soltem os prisioneiros!
Até amanhã.

RVN




Madeira. Funchal. Hoje.

('Tribuna da Madeira',30Out, 16:06h)



Doutor Flores

O Dr. Moita Flores é cada vez mais uma referência do país que somos. O tal Portugal de todos nós. Ele foi polícia da Judiciária, canta e dança nos spots promocionais da RTP, apresenta-se como criminologista, promove encontros entre Pedro Namora e Carlos Cruz, é professor, tem uma empresa de segurança e investigação privadas, escreve telenovelas, é autarca em Santarém, explica no Correio da Manhã o que aconteceu a Maddie e quem tem razão na Casa Pia, escreve manifestos políticos sobre a vida interna do PSD e faz flores regulares nas televisões nacionais. È assim uma espécie de Dr.Fernando Negrão, mas com queda para a música.

Tem uma vida cheia, activa e interventiva, este nosso compatriota. Eu fico feliz. O país precisa de gente assim, dinâmica e opinativa. More than meets the eye, é frase deste blogue. Neste caso, que mais atrás da moita se acoita é a questão. Porque ser ou não ser, no caso do Dr. Moita Flores, está à vista.

RVN

Vidas Borralheiras

Para a grande maioria das pessoas são os rituais que fazem a vida. Dia após dia fazem-se as mesmas coisas, repetem-se gestos e hábitos até já mal se distinguirem uns dos outros. E a vida vai passando, melhor, pior, mas igual na essência. É assim na cidade e no campo, na capital e na aldeia. Depois há é rituais e rituais, mas isso é outra conversa. A escolha já passa a depender das opções disponíveis, do dinheiro, da vontade e do gosto de cada um. E da cultura, acima de tudo da cultura. De todos, do indivíduo e do meio onde vive.

No que toca a beber, viver na aldeia não é muito diferente de viver em Madrid ou Estocolmo. Quem se embebeda por ritual vive no balcão onde se enfrasca e em mais lado nenhum. Se e como chega a casa depois é outra questão. O verdadeiro assunto não é bem onde bebe quem, mas sim quem bebe onde. Nos fundos do tal país real das campanhas eleitorais, de norte a sul, as noites de verão e de inverno são passadas entre copos e amigos e nem sempre ao mesmo tempo. O álcool é hábito e é problema em Portugal, todos os dias e todas as noites. Não para toda a gente, claro. Mas para gente a mais e com valorização a menos por parte de um Estado que semicerra os olhos num esgar maroto de quem acha que é tudo tradição e convívio. Em contrapartida, a cultura é já mais problema do que hábito para o povo deste mesmo Estado que nisso tem os olhos mais que abertos. Está é a olhar demasiado para cima e pouco para baixo.

De sábado para domingo passado, numa noite igual a todas as outras em Borralheira de Orjais, Covilhã, uma meia dúzia de homens esteve a beber, a rir e a contar estórias antigas, daquelas que se contam mil vezes para rir sempre, assim não falte o copo de tinto para molhar a palavra. Um deles ocupava o honroso cargo de bombo da festa por tradição privada do grupo. Embora fosse sistematicamente abusado pelos outros, nunca tinha acontecido nada, jura o povo.

E de facto ele continuava vivo no sábado, quando entrou para os copos do costume. Nessa noite a malta bebeu e bebeu e fartou-se de rir, pá, foi porreiro. Quando o dia raiou a malta já tinha ido toda para casa. O café ficou fechado, as paredes ficaram mijadas, trinta garrafas ficaram no chão e o Zé Inácio ficou com uma perna atada ao pneu de um carro e pendurado por um braço ao placard da Junta de Freguesia onde se anunciam as mortes da aldeia e os editais, pá. De manhã estava morto, afogado em álcool, que o gajo era asmático. É pá, foi uma ganda noite.

RVN

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Your ass is mine!

(TVI, 29Out)

Arnold Schwarzenegger. Governador da Califórnia

Uma questão de imagem

Há imagens terríveis. Fotos, filmes, quadros, desenhos, imagens. Dispensam as palavras para contar as suas histórias. Registam a memória, imóvel no tempo que já passou. E num qualquer outro tempo, tempos e tempos passados, exibem a mesma história mesmo quando a História já a quis mudar. Estaline mandava retocar as fotos de grupo, sempre e de cada vez que mandava retocar uns amigos. Já Hitler queria a sua verdade intocável para sempre e fazia questão absoluta de guardar o horror dos outros em imagens de arquivo que eram o espelho da sua glória. O fascismo sempre primou pelas botas luzidias das suas convicções e pela ausência de rugas no vinco impecável da ordem pública.
É hoje asunto do dia a beatificação de 498 mártires espanhóis, mortos pelas forças republicanas no contexto que conduziu à Guerra Civil de Espanha (1936-39). Numa altura em que os espanhóis ainda acertam contas internas sobre aquele período da história, quer o quadro legal do Governo de Zapatero quer as beatificações do Vaticano só vêm reavivar as brasas.
Bento XVI bem apelou "à reconciliação e à coexistência pacífica", depois do cardeal Saraiva Martins ter ontem proclamado, na Praça de São Pedro, a beatificação dos 498 mártires. Mas as feridas ainda em aberto voltam a sangrar memória em Espanha e pingam na brancura do perdão papal. A poucos dias da entrada em vigor da Lei da Memória, destinada à reabilitação de vítimas da ditadura de Franco, esta iniciativa do Vaticano vem fazer renascer a discussão sobre o cariz político dos critérios utilizados. E sobre a bondade das escolhas que ficaram por fazer. Como as dos nomes de inúmeros sacerdotes católicos que terão morrido ás mãos dos franquistas na defesa dos ditreitos do povo basco, por exemplo. E no agitar das águas, vem à tona de tudo um pouco.


Há imagens terríveis. Fotos, filmes, quadros, desenhos, imagens. Dispensam as palavras para contar as suas histórias. É o caso desta foto, retrato acabado do amor ao próximo num abraço apertado entre a Igreja Católica e o Franquismo. Um retrato que não tem legenda. Mas que se tivesse uma, bem podia ser "se não queres vencê-los, junta-te a eles", uma máxima que a Igreja conhece bem. E muitos crentes a conheceram também, no decurso das guerras do século passado. Muitos deles tarde demais, só quando esbarravam nas portas fechadas da casa sempre aberta da fé cristã. E aí tombavam para sempre.

É certo que Cristo morreu descalço e quase nú. Mas os seus representantes na Terra, para além do brilho do ouro, é sabido serem igualmente apreciadores de uma bota bem engraxada e de uma batina sem rugas, para vestir quando são chamados a enfeitar as fotos do poder político. De qualquer poder político, diga-se. No abraço de sempre que sempre condiz com a ordem pública. Uma questão de imagem, seguramente. Que como toda a gente sabe, vale mil palavras.


RVN

Ó pá, eu já fiz isso em Gondomar...

«George Bush pediu a criação de um fundo internacional para agilizar a «transição democrática» em Cuba e ofereceu incentivos, como bolsas de estudos e computadores, caso ocorra uma mudança de regime.»



O chique e o choque

Na Cova da Moura:
Grande maioria contesta visitas da PSP no geral...

É por isso que eu já bebo álcool

(DD,29Out)

É outra música


O senhor da direita chama-se Aníbal Cavaco Silva e é o Presidente da República de Portugal.

A Argentina é a pátria do tango, música quente, lânguida, dança voluptuosa e sensual.

Portugal é fado.

domingo, 28 de outubro de 2007

Chapeladas e um corno

José Torres está doente. E a morrer. Eu não sabia. Quem é o José Torres? Tem razão, há muitos. Este é o Torres que já não é figura pública vai para uma ou duas gerações, pelo menos. Mas que foi grande no seu tempo, em nome e em altura. Era o cabeceador por excelência da selecção nacional pré-Figo & Cia, o jogador do Benfica pré-ordenados milionários e contratações das arábias, o que tabelava com Zé Augusto, Coluna e Eusébio, entre outros. Esse mesmo.

Jogava-se quase a feijões no tempo do Torres. Eusébio que o diga. E diz. Não é preciso dizer quem é o Eusébio, pois não? Pois é. Também não devia ser preciso dizer quem é o José Torres.

Para o 'mundo do futebol', essa pasta viscosa de interesses que faz mexer as pernas de toda a gente, (jogadores para jogar e público para ver), José Torres deveria ser conhecido. E reconhecido, já agora. Nas clássicas mariscadas dos donos da bola, enquanto chupam os dedos sujos de camarão, os homens do futebol não falam de Torres mais do que falaram de Vitor Batista, que já lá está, enterrado por outro coveiro que não ele próprio, no mesmo cemitério onde trabalhou os últimos miseráveis anos. A malta é solidária mas não é parva, não senhor. Elogios a estralejar é uma coisa. Pagar é outro verbo. E ajudar é palavrão.

Quando se recorda com emoção os cinco violinos, mais o Pinga, mais os Eusébios que nunca chegaram a ser reis e se chama 'velhas glórias' aos ídolos do futebol de outros tempos, com a voz embargada pela comoção e o copo estendido ao brinde, era de toda a justiça que as bocas encortiçassem aos que o fazem tendo responsabilidades clubísticas e federativas. Exactamente, encortiçassem. Sabem como é? Acontece quando a gente come muitos figos, ou quando exageramos no camarão. Aquela sensação de ardor e fogo amargo que nos queima o palato e não nos deixa apreciar bons vinhos, como aqueles que foram leiloados hoje em Santarém numa iniciativa particular de solidariedade para com José Torres, velha e doente glória do futebol nacional.
A generosidade do povo rendeu mil e quinhentos euros para ajudar às contas do hospital. Bem mais do que a generosidade dos donos da bola e do Estado português, pessoal do discurso fácil e emotivo. Essa e esses, desde que José Torres calçou as botas e até hoje, rendeu-lhe e renderam-lhe o mesmo de sempre. Chapeladas, um corno e metade de outro.
RVN



O fado d' Amália

Esta senhora chama-se Amália Morgado. É juiza, ex-presidente do Tribunal de Instrução Criminal (TIC) do Porto e actualmente a exercer funções no Tribunal de Execução de Penas de Coimbra, para onde pediu transferência. Os motivos dessa transferência foram assunto de uma entrevista da juiza publicada no JN em Setembro passado e dizem respeito a alegados casos de corrupção supostamente ocorridos no âmbito do Ministério Público (MP) do Porto.

Foi Amália Morgado quem enviou uma participação ao procurador-geral da República, Pinto Monteiro, sobre factos que lhe suscitaram dúvidas no âmbito de um processo em que Carolina Salgado, ex-companheira do presidente do F. C. Porto, Pinto da Costa, acabaria por ser acusada pelo MP por autoria moral dos crimes de incêndio e de ofensa à integridade física grave qualificada.

Na entrevista, a magistrada teceu várias críticas a procedimentos do MP e da Polícia Judiciária, no que toca a escutas telefónicas, bem como a colegas juízes, sobre quem denunciou utilizarem formulários pré-existentes e completados por funcionários judiciais com os nomes dos arguidos, para terem menos trabalho na elaboração de despachos judiciais.
A directora do DIAP do Porto, Hortênsia Calçada, leu e enviou uma participação para o Conselho Superior de Magistratura sobre a entrevista. Para além disso, a denúncia de Amália Morgado está entre o conjunto de casos sob averiguação pela Procuradoria Geral da República, como as declarações da irmã de Carolina que comprometiam Maria José Morgado e um inspector da PJ encarregue da investigação Apito Dourado.
Amália Morgado já foi ouvida por um inspector judicial. Agora, três coisas podem acontecer. A denúncia assumida de uma juiza presidente do TIC sobre deficiências graves e corrupção no sistema judicial a que pertence pode resultar em inquérito ordenado pelo CSM. Ou pode resultar num processo disciplinar contra Amália Morgado por ter aberto a boca para além do desenho dos lábios.
Resta uma terceira hipótese aos superiores conselheiros de toda a magistratura. Podem mandar arquivar a denúncia, mais a denúncia da denúncia e mais os próprios factos, tudo por baixo de quatro camadas de jurisprudência pesquisada nas colectâneas, num desvio para canto a toque de calcanhar. E todos viveremos felizes para sempre. Aceitam-se apostas sobre o que vai acontecer.
RVN

Don't cry for me, Carolina.

Surpresa: Filomena de véu e grinalda
Pinto da Costa escolhe enlace tradicional
(CM, 27Out)

O PGR tinha razão...

"Governo cria rede de vigilância de mosquitos"
(DN, 28 Out)

sábado, 27 de outubro de 2007

Então e hoje fazemos o quê?

«Dificilmente conseguimos alcançar a perfeição de oferecer a outra face a quem nos bate, mas o desprezo teria quase o mesmo efeito. O orgulho, porém, é muitas vezes mais forte que o nosso desejo de paz. Ou até nos apetecem mesmo algumas guerras, para provarmos que somos capazes de enfrentá-las ou de atiçá-las. No entanto, as palavras do ódio não são nunca proferidas por uma língua eloquente.»
A frase não é minha. Mas tenho pena, confesso. O conceito que exprime também não é novo, mas eu cá não me importo com minudências. A questão é que hoje é sábado e está sol. Putin foi-se, Pinto da Costa casa-se, a Califórnia arde menos e os brancos Springboks campeões sul-africanos de rugby vão jogar com os pretos em pleno Soweto, pela primeira vez. E eu, se tenho que pensar em alguma coisa de jeito e à escolha, penso nestas palavras que Daniel de Sá, escritor, açoriano e boa gente, escreveu ontem mesmo no Aspirina B.
E você, tem que fazer hoje?

RVN

E então? Há horas felizes..

(SOL, 26 Out)

Carolina, despacha-te!! Ainda chegamos atrasados!

(Correio da Manhã, 27Out)

sexta-feira, 26 de outubro de 2007

Por uma lágrima tua

Maddie McCann desapareceu há seis meses. Nunca escrevi uma linha sobre o assunto. Nem uma. Entendi que o mundo passaria muito bem sem mais uma opinião sobre este caso que tem já tanta opinião generalizada. Para além disso, para ser franco, não tenho uma que me satisfaça. É verdade. Não sei o que pensar do que vejo e ouço. De tanto especialista, tanto perito, nacional e estrangeiro, oficial e oficioso, português ou inglês, de tanta e tão horrorosa conjectura que me faz desejar que não venha a ser verdade a verdade que for.

No meio de um assunto tão sério dou por mim a ver e ouvir as bancadas de Heisel Park zangadas com Portugal. E a ver e ouvir a Polícia Judiciária portuguesa a dizer uma coisa e o contrário dessa coisa, dia sim dia não, durante meses e mais meses, quando o maior acerto do ignorante é saber estar calado. Leio os jornais, ouço a rádio, vejo a televisão. E sinto pena de ter o jornalismo cravado na alma, tantas vezes, que dava-me jeito ter nascido outra coisa qualquer nessas alturas.


Maddie McCann deixou de ter cheiro e textura, neste universo virtual. É natural que assim seja. Ninguém consegue não ganhar distância do factor humano de alguém que desapareceu e todos os dias é papel amarrotado no chão do Metro, ou imagem anterior à Floribela e interior do Você na TV. Como numa doença prolongada, a mente dos homens interiorizou o pior, pelo sim pelo não. E com a catástrofe em modo de processamento automático, a atenção de todos vira-se naturalmente para todos os outros aspectos da questão. Os mais suculentos primeiro, claro. E os pais, são culpados ou inocentes? E a polícia, agiu bem ou mal? E os ingleses, já viram o que dizem? E eles vão jantar e bebem oito garrafas de vinho? E a miúda não gritou, estaria drogada? Dizem que uma vizinha contou a uma amiga que tem um tio que é empregado de uma pastelaria onde vai um agente da judiciária que trabalha com uma senhora que chamada Luisa, ou Maria. E o que é que eu estava a dizer?

Toda a gente sabe, toda a gente ouviu dizer, toda a gente viu até aquilo que não havia para ver. Maddie é mais um nome, tão perto e tão distante de nós como Michael Jackson. E tão presente como Princesa Diana, na doçura da memória. As suas realidades enquanto pessoas estarão sempre muito aquém dos seus mitos enquanto nomes. É outro escalão, outro universo onde o sol é o ego de cada um.


Por entre a raiva e confusão que todo o espírito sente quando subitamente agredido pelo destino, Portugal e o mundo procuram desesperadamente um culpado porque desesperadamente não conseguem encontrar uma razão. Uma explicação para o que raio aconteceu. Ontem à noite, milhares e milhares de pessoas pararam as suas próprias vidas para assistirem a mais uma entrevista do casal McCann, numa busca ansiosa de uma lágrima em Kate, finalmente. Como quem até quer acreditar mas não consegue. Não sem lágrimas. Para servir com a entrevista, a SIC apresentou a opinião da pedopsiquiatra Ana Vasconcelos, convidada especificamente para analisar as lágrimas de Kate ou a ausência delas. Eu pensei em Maddie e no triste fado português. Por uma lágrima tua, isso sim que alegria. Me deixaria matar.

É da praxe! É da praxe?

Praxe violenta: Oito caloiros minhotos obrigados a fugir
(SIC online, 26Out, 11:16)
«A PSP foi obrigada a intervir para evitar que oito caloiros minhotos que estavam escondidos numa oficina fossem agredidos. Cerca de duzentos estudantes da Universidade do Porto e do Minho envolveram-se em cenas de violência com recurso a matracas e gás pimenta.
Os organizadores do convívio académico afirmam que a polícia interpretou mal a situação e que tudo não passou de um mero episódio de praxe, admitindo, no entanto, que possa ter havido excessos.»

Cenouras sim, burros não

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Ó meu amigo, claro que sim, por quem sois...

Evadido apanhado ao pedir dinheiro a GNR
(JN, 25Out)

E agora, Putin?

• ALEXANDER LITVINENKO
Londres expulsa quatro diplomatas russos
«O Reino Unido decidiu, esta segunda-feira, expulsar quatro diplomatas russos em protesto pela recusa de Moscovo em extraditar Andrei Lugovoi, o principal suspeito do assassínio em Londres do ex-espião russo Alexander Litvinenko, envenenado com uma substância radioactiva.»
( 22:14 / 16 de Julho 07 )


• ALEXANDER LITVINENKO
Rússia expulsa quatro diplomatas britânicos
«A Rússia expulsou, esta quinta-feira, quatro diplomatas britânicos e decidiu deixar de cooperar com o Reino Unido na luta contra o terrorismo. Esta é a resposta de Moscovo à decisão de Londres de expulsar quatro diplomatas russos no caso Litvinenko.»
( 15:04 / 19 de Julho 07 )

Porreiróvzky, Pázovzky!!


Adoro quando é lá entre eles...

Vila Real: Polícia fora de serviço agredido por militares
(Lusa, 25 Out, 15:14)

Tustes vitalícios

Não haverá dúvidas que Portugal é um país que trata miseravelmente os seus velhos.
As pensões de miséria com que vivem inúmeros gaiatos e gaiatas de antigamente são famosas por não chegarem sequer para a conta da farmácia da maioria dos pensionistas. Por isso acautelar a velhice é um dever de todos nós. Cada um como souber e puder, claro, que isto é como tudo. Há os uns e há os outros, como de resto falávamos há poucochinho.

O ex-líder do PSD Luís Marques Mendes, que na semana passada renunciou ao cargo de deputado, pediu agora a atribuição da subvenção mensal vitalícia a que tem todo o direito legal, depois de vinte anos a ser eleito deputado. A subvenção mensal vitalícia é uma prestação social a que vários deputados ainda em funções têm direito e que chegou a ser garantida para quem estivesse apenas oito anos no Parlamento. Mais tarde passou para um limite de 12 anos. Foi revogada em Outubro de 2005. Mas todos os deputados que até 2009 cumpram esses 12 anos têm direito a pedi-la. Marques Mendes tem 20 anos de parlamentar, ainda que muitos deles passados com o mandato suspenso para exercer funções governativas. Ou seja, tem direito ao máximo da pensão, 80% do último ordenado, dois mil e novecentos euros, mais tuste menos tuste. E quando o seu pedido for aprovado pela Caixa Geral de Aposentações, o que será breve, Luis Marques Mendes será aos 50 anos o nº 384 da lista de portugeses que recebem uma pensão vitalícia por fazerem política. Oito milhões de euros previstos no O.E. de 2008, no total. Para quem faz ou fez política.

Política. Aquilo que propõe, discute e determina as regras escritas e a escrever para atravessar as ruas, aprender a ler, vender laranjas ou ter pensões vitalícias de dois mil e novecentos euros. Mais tuste menos tuste.

RVN

Está bem, pronto.

Um estudo da OCDE destinado a medir a amplitude da desconfiança e falta de civismo nos povos determinou serem os portugueses o povo mais desconfiado da Europa Ocidental. Nem mais. Os estudos da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) e da "World Values Survey" demonstram que esta "ausência de confiança generalizada nos outros e nas instituições é mensurável e afecta a economia e a sociedade em geral" em todos os países avaliados. Não fosse isso e os portugueses teriam, por exemplo, aumentado em 18 por cento os seus rendimentos médios entre os anos 2000 e 2003, com efeitos idênticos sobre o PIB.

Os portugueses são, em média, os europeus mais desconfiados, à frente dos franceses (24º lugar) e da maioria dos outros povos desenvolvidos, de acordo com uma outra sondagem realizada entre 1990 e 2000 pela «World Values Survey» que inclui os países membros da OCDE, nomeadamente EUA, Japão, Austrália e Canadá. No último lugar, imediatamente depois de Portugal, apenas os turcos conseguem ser ainda mais desconfiados. Em resposta à pergunta "Regra geral, pensa que é possível confiar nos outros ou acha que a desconfiança nunca é suficiente?", os portugueses ficaram no último lugar, com menos de 18% a responderem afirmativamente. Ou seja, 82% de nós acha que não é possível confiar nos outros. E que a desconfiança nunca é suficiente.


As conclusões deste estudo estabeleceram ainda que os portugueses são os menos cívicos e apenas ultrapassados por mexicanos e franceses, ocupando também a terceira posição entre os povos que acham legítimo receber apoios estatais indevidos (baixas por doença, subsídios de desemprego etc.), adquirir bens roubados (14º lugar para os portugueses contra 20º lugar dos franceses) ou aceitar luvas no exercício das suas funções (12º lugar para os portugueses e 21º lugar para os franceses).

Mas há mais. Para quase 20 por cento dos portugueses e franceses "para se chegar ao topo, é necessário ser corrupto". Convidado pela agência Lusa a comentar este estudo, Mira Amaral, ex-ministro de Cavaco, economista e professor universitário, fez questão de explicar que neste ponto existem duas motivações. Uma assente na inveja dos que não suportam ver alguém triunfar e outra baseada na convicção justificada do povo de que a classe política, através de esquemas, promoções e "amiguismo", consegue obter mais privilégios do que os devidos. "A promiscuidade entre grupos económicos e políticos leva as pessoas a terem alguma razão nessa sua desconfiança", constata Mira Amaral.


Eu cá estou de acordo. Cem por cento. E muita gente estará também de acordo com o Dr. Mira Amaral, estou certo. Mas o que me deixa de facto reconfortado nestas declarações do ex homem forte da Indústria nacional e da vida político-partidária é saber que embora afastado da governação, o Dr. Mira Amaral continua naturalmente a viver nos mesmos círculos profissionais e a dar-se, no geral, com as mesmíssimas pessoas. Os interesses dos uns, dos outros e de todos mantêm-se iguais, que eu saiba. E as regras do jogo também não me consta que tenham sido alteradas por aí além nos últimos trezentos anos, para já não recuar até à Roma Antiga que fica longe. Por isso digam lá que não aquece a alma à gente ver e ouvir uma candura assim, qual rabinho de bébé, nesta confissão resignada de Mira Amaral.

As coisas são mesmo assim e não há nada a fazer? OK. Tá certo.


RVN

Não doeu? É legal.

Homem suspeito de abusar de ovelha
(P.D., 2007/07/25)
Polícia tenta descobrir se o animal sofreu durante o acto
A Polícia holandesa informou esta quarta-feira que deteve um homem suspeito de ter abusado de uma ovelha na localidade de Haaksbergen (leste) e investiga se o animal sofreu, escreve a agência EFE.
A Polícia tenta agora determinar se a ovelha sentiu dores durante o acto, já que na Holanda o bestialismo só é punido quando se pode comprovar que o animal sofreu, informou a agência holandesa «ANP».