Há gente assim, com vidas que nunca mais acabam. Seres com a estranha capacidade de se reinventarem mesmo no disparate.
De renascerem sempre, após cada uma das muitas mortes que vão tendo em vida. Tolos, há outros que lhes invejam este castigo como se fora uma gracinha para entreter os amigos nas noites frias de inverno ou nas amenas cavaqueiras de verão. São os tolos quatro-estações, que por desconhecerem a primavera das ideias estão condenados ao outono da mediocridade para sempre.


domingo, 13 de janeiro de 2008

Cântico da mãe escrava ao filho morto

Domingo chuvoso, este, mas se estivesse sol era igual. Todos os dias são bons para ler Daniel de Sá. «Um poema sério, mas triste, muito triste. Como ser humano, a escravatura é o meu maior remorso», diz-me em recado privado. Que eu cá faço público e conto a toda a gente, sem hesitação ou vergonha. Porquê? Elementar, meus amigos. Minorca será a culpa de um coração assim.


Em baixo: "Cântico da mãe escrava ao filho morto".
Sete vidas mais uma: Daniel de Sá.



Ai meu filho, ai meu filho, se eu pudesse

fechava, pelos teus, estes meus olhos

que a dor cega, e de novo tu verias.

Ai meu filho, ai meu filho, tens escritas

a ferro e fogo as marcas do destino,

na pele que era seda tão macia

e os olhos orvalharam de tristeza,

Ai meu filho, ai meu filho, estes que choram

lembrando que de ti eu sempre soube

que meu seria só teu sofrimento.

Como doía, ai Deus, e dói ainda,

o tronco, o viramundo, a gargalheira,

ou a peia, a gonilha e os mais tormentos

com que viveste a morte em cada dia!

Mas eu devia rir, que já não sofres!

Ai meu filho, ai meu filho, eu cantarei

“Aleluia! Aleluia!” Finalmente

és ave libertada, és anjo, és tudo

o que eu mais desejava que tu fosses,

porque menos que a morte não podia

da própria morte em vida libertar-te.



(Nota: Mais Daniel de Sá no sítio próprio, aqui.)

5 comentários:

Unknown disse...

Caro Vasco

Um bem haja pelo teu excelente blog.
"There's always more 2 the pic that meets the eye" e tu sabe-lo melhor que ninguém...
Aproveito para te fazer chegar o blog da minha perdição dedicado essencialmente ao fundo do mar (literalmente)

http://pirat-downunder.blogspot.com/

Do teu "irmão" José Ruivo
Aos velhos tempos do Camões !!! :-)

Carpe Diem meu velho lobo do Mar

Anónimo disse...

"pra ler rezando!"
Bem haja, Daniel de Sá!

Rui Vasco Neto disse...

mano pirata,
bom saber-te.
por onde andas? engenheiro, certo? e porquê piratarias e fundo do mar? (pirata sempre foste, mas pronto)
ainda tocas? e ainda estaremos ensaiados? cesaltina, canta?

rezónimo,
«e das tais opiniões que só ganhariam com a assinatura, mas pronto.

Anónimo disse...

pronto assino, caro rui:
eulalia

Rui Vasco Neto disse...

eulália,
muito melhor assim.
em nome do daniel, obrigadinho.