RVN
quarta-feira, 31 de outubro de 2007
Up Yours, Mr. Parsons
RVN
Homens, meninos e maçãs
Mais tarde lembro-me de muito e sem ordem de chegada. Lembro-me das caras dos garotos que arrastavam os seus pais e professores pelas ruas, tosquiados, amarrados, espancados e de cartaz ao peito com insultos, para neles cuspirem e baterem na praça pública de uma China exultante no crime. Lembro-me do rosto do ódio dos Khmers no Cambodja, escassas dúzias de anos armadas até aos dentes que só se viam em gritos, nunca em sorrisos. Lembro-me dos mesmos rostos e do mesmo ódio mas em preto e branco, aqui e ali e ali e ali nessa África tão imensa em tamanho como em selvejaria e estupidez.
Crianças de até 10 anos que são arrancadas ás famílias, espancadas e ameaçadas de prisão e assim forçadas a entrar nas forças armadas de Myanmar através de recrutadores militares ou intermediários civis que recebem dinheiro do Exército por cada uma. Jo Becker, representante da HRW, disse hoje à BBC que o país «está literalmente comprando e vendendo crianças» para preencher as fileiras do Exército. «Os generais do governo toleram o ostensivo recrutamento de crianças e não punem os responsáveis. Nesse ambiente, recrutadores do Exército traficam crianças livremente».
A minha alegre celinha
Ando doido por comprar uma casinha. Um têzerozinho, no Algueirão ou em Massamá, com kitch e net e vista para a rua. E quero fazer um armazém de vinhos, também, para guardar as Teobar e Casal Garcia que já tenho em stock. Não há prisão como a nossa, essa é que é essa. Cela, doce cela.
RVN
terça-feira, 30 de outubro de 2007
Soltem os prisioneiros!
Madeira. Funchal. Hoje.
Doutor Flores
Tem uma vida cheia, activa e interventiva, este nosso compatriota. Eu fico feliz. O país precisa de gente assim, dinâmica e opinativa. More than meets the eye, é frase deste blogue. Neste caso, que mais atrás da moita se acoita é a questão. Porque ser ou não ser, no caso do Dr. Moita Flores, está à vista.
Vidas Borralheiras
No que toca a beber, viver na aldeia não é muito diferente de viver em Madrid ou Estocolmo. Quem se embebeda por ritual vive no balcão onde se enfrasca e em mais lado nenhum. Se e como chega a casa depois é outra questão. O verdadeiro assunto não é bem onde bebe quem, mas sim quem bebe onde. Nos fundos do tal país real das campanhas eleitorais, de norte a sul, as noites de verão e de inverno são passadas entre copos e amigos e nem sempre ao mesmo tempo. O álcool é hábito e é problema em Portugal, todos os dias e todas as noites. Não para toda a gente, claro. Mas para gente a mais e com valorização a menos por parte de um Estado que semicerra os olhos num esgar maroto de quem acha que é tudo tradição e convívio. Em contrapartida, a cultura é já mais problema do que hábito para o povo deste mesmo Estado que nisso tem os olhos mais que abertos. Está é a olhar demasiado para cima e pouco para baixo.
De sábado para domingo passado, numa noite igual a todas as outras em Borralheira de Orjais, Covilhã, uma meia dúzia de homens esteve a beber, a rir e a contar estórias antigas, daquelas que se contam mil vezes para rir sempre, assim não falte o copo de tinto para molhar a palavra. Um deles ocupava o honroso cargo de bombo da festa por tradição privada do grupo. Embora fosse sistematicamente abusado pelos outros, nunca tinha acontecido nada, jura o povo.
E de facto ele continuava vivo no sábado, quando entrou para os copos do costume. Nessa noite a malta bebeu e bebeu e fartou-se de rir, pá, foi porreiro. Quando o dia raiou a malta já tinha ido toda para casa. O café ficou fechado, as paredes ficaram mijadas, trinta garrafas ficaram no chão e o Zé Inácio ficou com uma perna atada ao pneu de um carro e pendurado por um braço ao placard da Junta de Freguesia onde se anunciam as mortes da aldeia e os editais, pá. De manhã estava morto, afogado em álcool, que o gajo era asmático. É pá, foi uma ganda noite.
segunda-feira, 29 de outubro de 2007
Uma questão de imagem
Há imagens terríveis. Fotos, filmes, quadros, desenhos, imagens. Dispensam as palavras para contar as suas histórias. É o caso desta foto, retrato acabado do amor ao próximo num abraço apertado entre a Igreja Católica e o Franquismo. Um retrato que não tem legenda. Mas que se tivesse uma, bem podia ser "se não queres vencê-los, junta-te a eles", uma máxima que a Igreja conhece bem. E muitos crentes a conheceram também, no decurso das guerras do século passado. Muitos deles tarde demais, só quando esbarravam nas portas fechadas da casa sempre aberta da fé cristã. E aí tombavam para sempre.
É outra música
O senhor da direita chama-se Aníbal Cavaco Silva e é o Presidente da República de Portugal.
A Argentina é a pátria do tango, música quente, lânguida, dança voluptuosa e sensual.
Portugal é fado.
domingo, 28 de outubro de 2007
Chapeladas e um corno
Jogava-se quase a feijões no tempo do Torres. Eusébio que o diga. E diz. Não é preciso dizer quem é o Eusébio, pois não? Pois é. Também não devia ser preciso dizer quem é o José Torres.
Para o 'mundo do futebol', essa pasta viscosa de interesses que faz mexer as pernas de toda a gente, (jogadores para jogar e público para ver), José Torres deveria ser conhecido. E reconhecido, já agora. Nas clássicas mariscadas dos donos da bola, enquanto chupam os dedos sujos de camarão, os homens do futebol não falam de Torres mais do que falaram de Vitor Batista, que já lá está, enterrado por outro coveiro que não ele próprio, no mesmo cemitério onde trabalhou os últimos miseráveis anos. A malta é solidária mas não é parva, não senhor. Elogios a estralejar é uma coisa. Pagar é outro verbo. E ajudar é palavrão.
Quando se recorda com emoção os cinco violinos, mais o Pinga, mais os Eusébios que nunca chegaram a ser reis e se chama 'velhas glórias' aos ídolos do futebol de outros tempos, com a voz embargada pela comoção e o copo estendido ao brinde, era de toda a justiça que as bocas encortiçassem aos que o fazem tendo responsabilidades clubísticas e federativas. Exactamente, encortiçassem. Sabem como é? Acontece quando a gente come muitos figos, ou quando exageramos no camarão. Aquela sensação de ardor e fogo amargo que nos queima o palato e não nos deixa apreciar bons vinhos, como aqueles que foram leiloados hoje em Santarém numa iniciativa particular de solidariedade para com José Torres, velha e doente glória do futebol nacional.
O fado d' Amália
Foi Amália Morgado quem enviou uma participação ao procurador-geral da República, Pinto Monteiro, sobre factos que lhe suscitaram dúvidas no âmbito de um processo em que Carolina Salgado, ex-companheira do presidente do F. C. Porto, Pinto da Costa, acabaria por ser acusada pelo MP por autoria moral dos crimes de incêndio e de ofensa à integridade física grave qualificada.
sábado, 27 de outubro de 2007
Então e hoje fazemos o quê?
RVN
sexta-feira, 26 de outubro de 2007
Por uma lágrima tua
Por entre a raiva e confusão que todo o espírito sente quando subitamente agredido pelo destino, Portugal e o mundo procuram desesperadamente um culpado porque desesperadamente não conseguem encontrar uma razão. Uma explicação para o que raio aconteceu. Ontem à noite, milhares e milhares de pessoas pararam as suas próprias vidas para assistirem a mais uma entrevista do casal McCann, numa busca ansiosa de uma lágrima em Kate, finalmente. Como quem até quer acreditar mas não consegue. Não sem lágrimas. Para servir com a entrevista, a SIC apresentou a opinião da pedopsiquiatra Ana Vasconcelos, convidada especificamente para analisar as lágrimas de Kate ou a ausência delas. Eu pensei em Maddie e no triste fado português. Por uma lágrima tua, isso sim que alegria. Me deixaria matar.
É da praxe! É da praxe?
(SIC online, 26Out, 11:16)
«A PSP foi obrigada a intervir para evitar que oito caloiros minhotos que estavam escondidos numa oficina fossem agredidos. Cerca de duzentos estudantes da Universidade do Porto e do Minho envolveram-se em cenas de violência com recurso a matracas e gás pimenta.
Os organizadores do convívio académico afirmam que a polícia interpretou mal a situação e que tudo não passou de um mero episódio de praxe, admitindo, no entanto, que possa ter havido excessos.»
Cenouras sim, burros não
quinta-feira, 25 de outubro de 2007
E agora, Putin?
Londres expulsa quatro diplomatas russos
«O Reino Unido decidiu, esta segunda-feira, expulsar quatro diplomatas russos em protesto pela recusa de Moscovo em extraditar Andrei Lugovoi, o principal suspeito do assassínio em Londres do ex-espião russo Alexander Litvinenko, envenenado com uma substância radioactiva.»
«A Rússia expulsou, esta quinta-feira, quatro diplomatas britânicos e decidiu deixar de cooperar com o Reino Unido na luta contra o terrorismo. Esta é a resposta de Moscovo à decisão de Londres de expulsar quatro diplomatas russos no caso Litvinenko.»
Adoro quando é lá entre eles...
Tustes vitalícios
O ex-líder do PSD Luís Marques Mendes, que na semana passada renunciou ao cargo de deputado, pediu agora a atribuição da subvenção mensal vitalícia a que tem todo o direito legal, depois de vinte anos a ser eleito deputado. A subvenção mensal vitalícia é uma prestação social a que vários deputados ainda em funções têm direito e que chegou a ser garantida para quem estivesse apenas oito anos no Parlamento. Mais tarde passou para um limite de 12 anos. Foi revogada em Outubro de 2005. Mas todos os deputados que até 2009 cumpram esses 12 anos têm direito a pedi-la. Marques Mendes tem 20 anos de parlamentar, ainda que muitos deles passados com o mandato suspenso para exercer funções governativas. Ou seja, tem direito ao máximo da pensão, 80% do último ordenado, dois mil e novecentos euros, mais tuste menos tuste. E quando o seu pedido for aprovado pela Caixa Geral de Aposentações, o que será breve, Luis Marques Mendes será aos 50 anos o nº 384 da lista de portugeses que recebem uma pensão vitalícia por fazerem política. Oito milhões de euros previstos no O.E. de 2008, no total. Para quem faz ou fez política.
RVN
Está bem, pronto.
Os portugueses são, em média, os europeus mais desconfiados, à frente dos franceses (24º lugar) e da maioria dos outros povos desenvolvidos, de acordo com uma outra sondagem realizada entre 1990 e 2000 pela «World Values Survey» que inclui os países membros da OCDE, nomeadamente EUA, Japão, Austrália e Canadá. No último lugar, imediatamente depois de Portugal, apenas os turcos conseguem ser ainda mais desconfiados. Em resposta à pergunta "Regra geral, pensa que é possível confiar nos outros ou acha que a desconfiança nunca é suficiente?", os portugueses ficaram no último lugar, com menos de 18% a responderem afirmativamente. Ou seja, 82% de nós acha que não é possível confiar nos outros. E que a desconfiança nunca é suficiente.
As conclusões deste estudo estabeleceram ainda que os portugueses são os menos cívicos e apenas ultrapassados por mexicanos e franceses, ocupando também a terceira posição entre os povos que acham legítimo receber apoios estatais indevidos (baixas por doença, subsídios de desemprego etc.), adquirir bens roubados (14º lugar para os portugueses contra 20º lugar dos franceses) ou aceitar luvas no exercício das suas funções (12º lugar para os portugueses e 21º lugar para os franceses).
Mas há mais. Para quase 20 por cento dos portugueses e franceses "para se chegar ao topo, é necessário ser corrupto". Convidado pela agência Lusa a comentar este estudo, Mira Amaral, ex-ministro de Cavaco, economista e professor universitário, fez questão de explicar que neste ponto existem duas motivações. Uma assente na inveja dos que não suportam ver alguém triunfar e outra baseada na convicção justificada do povo de que a classe política, através de esquemas, promoções e "amiguismo", consegue obter mais privilégios do que os devidos. "A promiscuidade entre grupos económicos e políticos leva as pessoas a terem alguma razão nessa sua desconfiança", constata Mira Amaral.
Eu cá estou de acordo. Cem por cento. E muita gente estará também de acordo com o Dr. Mira Amaral, estou certo. Mas o que me deixa de facto reconfortado nestas declarações do ex homem forte da Indústria nacional e da vida político-partidária é saber que embora afastado da governação, o Dr. Mira Amaral continua naturalmente a viver nos mesmos círculos profissionais e a dar-se, no geral, com as mesmíssimas pessoas. Os interesses dos uns, dos outros e de todos mantêm-se iguais, que eu saiba. E as regras do jogo também não me consta que tenham sido alteradas por aí além nos últimos trezentos anos, para já não recuar até à Roma Antiga que fica longe. Por isso digam lá que não aquece a alma à gente ver e ouvir uma candura assim, qual rabinho de bébé, nesta confissão resignada de Mira Amaral.
As coisas são mesmo assim e não há nada a fazer? OK. Tá certo.
RVN
Não doeu? É legal.
(P.D., 2007/07/25)
Polícia tenta descobrir se o animal sofreu durante o acto
A Polícia holandesa informou esta quarta-feira que deteve um homem suspeito de ter abusado de uma ovelha na localidade de Haaksbergen (leste) e investiga se o animal sofreu, escreve a agência EFE.
A Polícia tenta agora determinar se a ovelha sentiu dores durante o acto, já que na Holanda o bestialismo só é punido quando se pode comprovar que o animal sofreu, informou a agência holandesa «ANP».