Quando eu comecei a ver bem como se fazia televisão, quem fazia televisão era o Raul Durão. Ele e outros, claro. Mas nesse ponto exacto das minhas recordações o homem da altura era o Raul. Foi uma referência incontornável, para mim e para muitos como eu, que achavam ter jeitinho para a coisa. Tiques e trejeitos, colocação de voz e postura, rodapés de ironia fina ou notas de humor, tudo era muito ele, muito o retrato do tempo televisivo da altura. Quando anos depois entrei para a RTP, a primeira equipa que integrei foi a do Raul Durão, já nas tardes do Canal 1 mas activo e coordenador. Com o passar do tempo a sua imagem esfumou-se do écran e com toda a lógica. Com a lógica perversa do audiovisual, que o Raul conhecia de gingeira. É assim. Faz parte. A gente estrebucha mas habitua-se a qualquer prateleira se não quiser cair no chão e ficar por lá. Toda a gente, que o chão é duro para todos.
Raul Durão morreu hoje, diz o site da RTP e eu fiquei a saber há dois instantes. Um para me lembrar dele, sem estremeços de histeria. E o outro para arquivar a memória, com amizade e respeito, naquela galeria de figuras de sempre que encontro por aí, sempre iguais, pelas esquinas da minha televisão. Morrer é outra coisa.
RVN
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