Os portugueses são, em média, os europeus mais desconfiados, à frente dos franceses (24º lugar) e da maioria dos outros povos desenvolvidos, de acordo com uma outra sondagem realizada entre 1990 e 2000 pela «World Values Survey» que inclui os países membros da OCDE, nomeadamente EUA, Japão, Austrália e Canadá. No último lugar, imediatamente depois de Portugal, apenas os turcos conseguem ser ainda mais desconfiados. Em resposta à pergunta "Regra geral, pensa que é possível confiar nos outros ou acha que a desconfiança nunca é suficiente?", os portugueses ficaram no último lugar, com menos de 18% a responderem afirmativamente. Ou seja, 82% de nós acha que não é possível confiar nos outros. E que a desconfiança nunca é suficiente.
As conclusões deste estudo estabeleceram ainda que os portugueses são os menos cívicos e apenas ultrapassados por mexicanos e franceses, ocupando também a terceira posição entre os povos que acham legítimo receber apoios estatais indevidos (baixas por doença, subsídios de desemprego etc.), adquirir bens roubados (14º lugar para os portugueses contra 20º lugar dos franceses) ou aceitar luvas no exercício das suas funções (12º lugar para os portugueses e 21º lugar para os franceses).
Mas há mais. Para quase 20 por cento dos portugueses e franceses "para se chegar ao topo, é necessário ser corrupto". Convidado pela agência Lusa a comentar este estudo, Mira Amaral, ex-ministro de Cavaco, economista e professor universitário, fez questão de explicar que neste ponto existem duas motivações. Uma assente na inveja dos que não suportam ver alguém triunfar e outra baseada na convicção justificada do povo de que a classe política, através de esquemas, promoções e "amiguismo", consegue obter mais privilégios do que os devidos. "A promiscuidade entre grupos económicos e políticos leva as pessoas a terem alguma razão nessa sua desconfiança", constata Mira Amaral.
Eu cá estou de acordo. Cem por cento. E muita gente estará também de acordo com o Dr. Mira Amaral, estou certo. Mas o que me deixa de facto reconfortado nestas declarações do ex homem forte da Indústria nacional e da vida político-partidária é saber que embora afastado da governação, o Dr. Mira Amaral continua naturalmente a viver nos mesmos círculos profissionais e a dar-se, no geral, com as mesmíssimas pessoas. Os interesses dos uns, dos outros e de todos mantêm-se iguais, que eu saiba. E as regras do jogo também não me consta que tenham sido alteradas por aí além nos últimos trezentos anos, para já não recuar até à Roma Antiga que fica longe. Por isso digam lá que não aquece a alma à gente ver e ouvir uma candura assim, qual rabinho de bébé, nesta confissão resignada de Mira Amaral.
As coisas são mesmo assim e não há nada a fazer? OK. Tá certo.
RVN
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