Há gente assim, com vidas que nunca mais acabam. Seres com a estranha capacidade de se reinventarem mesmo no disparate.
De renascerem sempre, após cada uma das muitas mortes que vão tendo em vida. Tolos, há outros que lhes invejam este castigo como se fora uma gracinha para entreter os amigos nas noites frias de inverno ou nas amenas cavaqueiras de verão. São os tolos quatro-estações, que por desconhecerem a primavera das ideias estão condenados ao outono da mediocridade para sempre.


domingo, 21 de outubro de 2007

Deus ao domingo

Hoje é domingo e está sol. Eu sei. Mas aceite um palpite. Faça de conta que chove a potes e perca uma horita a ouvir Christopher Hitchens na apresentação e discussão do seu novo livro "God is not great: how religion poisons everything". A dica foi-me dada em boa hora. Não se tem que concordar, não é preciso discordar, é obrigatório reflectir.

Eu vi. Soberbo christopher, de facto. Entre várias, há uma soberba reflexão do não menos. Diz o senhor Hitchens que subjacente à ideia de religião está um ‘desejo de ser escravo’ por parte do ser humano. Que se for escravo do poder dos homens só pode alcançar a liberdade morrendo. Se acima do poder dos homens estiver o poder dos deuses, nem morrendo ele se liberta. Qual é então o maior medo, o maior de todos, o que explica os incontáveis atropelos e abusos feitos por todos os franchising do divino em nome desta ou daquela fè? Diz o senhor Hitchens que é ‘o medo da liberdade’. Da autonomia do intelecto, se a salvo da permanente dependência do lápis azul do céu.

Digo eu que em nome dessa insegurança os homens procuram a religião e nela se agarram ao corrimão firme das normas e proibições, para dogma a dogma escalarem os degraus que os levarão até ao perdão eterno dos seus erros. E que é em nome dessa insegurança que a religião lhes abre os braços seguros da fé e lhes guia os passos medrosos por caminhos de subserviência. Tudo por amor, claro. Mas pagando, evidentemente.
RVN

6 comentários:

Anónimo disse...

Não confundamos religião e fé de cada um, com dignidade, honestidade, sinceridade, enfim, um cem número de princípios, que nos foram dados, não sei se pela religião, se pela educação, ou sómente, pelo berço em que nascemos. Sem o "medo da liberdade" seríamos anarquistas ... sem as "normas e proibições", seriamos o quê ? Selvagens ? Irracionais ? Acho que este tema é demasiado complicado. Aprofundá-lo ? Até onde ? Talvez nem tivéssemos tempo de chegar a uma conclusão !

P.Maria disse...

religiomania?

Anónimo disse...

ofereço-lhe estas três pérolazinhas de sabedoria:
"Pedir a um ser humano para explicar o que é Deus é o mesmo que pedir a um peixe para explicar a água em que nada!"
"As religiões, assim como as luzes, necessitam de escuridão para brilhar." - Arthur, Schopenhauer
"A fé não é crer no que não vimos, mas criar o que não vemos"-Unamuno,Miguel

Rui Vasco Neto disse...

sou eu:
não confundamos, de facto.
eu não o fiz.
e você?
com o tempo não se preocupe, que temos uma vida inteira. não vejo melhor forma de a viver que pensando.
e você?

p.maria:

grato pela visita.
quanto a manias, as minhas são outras, nem melhores nem piores.
mas outras, definitivamente.
volte mais vezes. conversar é um prazer.

anónimo:
obrigado pelas pérolas.
mande mais que eu faço um colar.
com amizade

rvn

Anónimo disse...

Apenas algumas reflexões, ao capricho das teclas:

A nossa convivência com os deuses está longe de ser pacífica: quando não os temos, criamo-los mas, quando os temos, matamo-los...

Não recusa o pássaro, que está em cativeiro, evadir-se pela porta que mão descuidada deixou aberta?

Liberdade não será também a vontade de não querer ser livre?

Não será cada um de nós,simulta neamente, o amo mais severo e o escravo mais servil de si-próprio?

Levem a religião dos homens mas deixem intacta a das plantas.

Rui Vasco Neto disse...

Nem mais, mifá.
cactus forever.

rvn