Há gente assim, com vidas que nunca mais acabam. Seres com a estranha capacidade de se reinventarem mesmo no disparate.
De renascerem sempre, após cada uma das muitas mortes que vão tendo em vida. Tolos, há outros que lhes invejam este castigo como se fora uma gracinha para entreter os amigos nas noites frias de inverno ou nas amenas cavaqueiras de verão. São os tolos quatro-estações, que por desconhecerem a primavera das ideias estão condenados ao outono da mediocridade para sempre.


quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

Outra viagem, a mesma corrida.

Também eu, João, andei por muitas delas, especialmente de Lisboa para sul e do vice para o versa. São marco um do meu imaginário de férias, quando a aventura começava, no tempo em que as aventuras ainda eram todas para ganhar. Tal como tu, nunca compreendi a forma como as linhas da CP foram desmanteladas, para dar força aos mesmos que capitalizaram a privatização da Rodoviária Nacional (Cabanelas, Humberto Pedrosa) e que hoje, como sucede nos trajectos para Sul com a EVA Mundial Turismo e a Rede Expresso, funcionam em cartel concertando preços sem que ninguém os aborreça com minudências.

Tal como tu, tenho pena e não compreendo, porque a Linha do Tua, do Corgo ou do Sabor percorrem paisagens tão admiravelmente belas e as carruagens são tão apaixonadamente anacrónicas, naqueles carris mais estreitos do que todos os outros, que a sua continuidade era obrigatória em qualquer país com um mínimo de estratégia de desenvolvimento turístico para o interior.

O moderno serviço da CP é uma vergonha de desmazelo no essencial, atendimento, respeito pelos interesses dos passageiros, horários, desdobramentos, revisores. E um luxo parolo e de plástico nas aparências que passaram a ser a prioridade nos carris nacionais. Tal como tu, acredito que a CP e a Refer são detentoras de um património que os diversos Governos têm insistido em delapidar. Para os nossos governantes, o comboio só existe para andar muito, muito depressa. Como aqueles com vidros opacos, à TGV, onde apenas conseguimos ver o nosso próprio reflexo. O reflexo de alguém que atravessa um País que vai perdendo a sua Geografia. E que, ao fazê-lo, perde também parte da sua História.


Segui esta reflexão, de apeadeiro em apeadeiro, até embarcar nas palavras de João Villalobos, ditas aqui, uma das minhas estações de referência. Sugiro a viagem, veementemente. O itenerário teve origem nas espécies e passa na avenida central, também. Enquanto há linhas, é de aproveitar.

2 comentários:

João Villalobos disse...

Obrigado Rui. Um abraço intercidades.

Rui Vasco Neto disse...

joão,
alfa, roger.
over and out.