Sete vidas mais uma: Daniel de Sá.
Personagens:
O Primeiro (P) - ou seja, o Durão, um rico diabo
O Gajo (G) - o Diabo, ele mesmo
O Gajeiro (Gi) - o Santana, um pobre diabo
G – Quem sois, senhor capitão,
Que fazeis por estas bandas?
P – Eu sou Zé Manuel Durão.
G – Por que vindes tão fujão
E trazeis as velas pandas
Se o mar já se acaba aí?
P – Trago pressa de chegar.
G – Ou de fugir?
É que desde que vos vi
Por sobre as ondas do mar,
Senhor, parecíeis vir
Trazendo lume no rabo.
P – Vós sois Deus ou o Diabo?
G – Qual dos dois vós mais quereis,
Senhor, que eu seja?
Gi – Ó meu senhor, não sabeis
Que este meu amo procura
Um lugar de onde se veja
O Mundo de grande altura?
G – Quem é este safardana?
P- É o Santana.
Sois o Demo? Dizei já!
G – Que vos importa?
Adivinhai... sois capaz...
P – Se vim de tão longe cá
Para bater nesta porta,
Ó meu senhor, tanto faz,
Desde que ela se me abra.
G – Vedes-me cornos ou pêlos,
Cauda, chifres, pés de cabra?
P – Não os vejo, mas sabeis
Que bem podeis escondê-los
Se o Demo sois.
G – E tu que dizes, gajeiro?
P – Eu respondo pelos dois!
Até pelo povo todo!
Gi – (É por isso que é primeiro.)
G – E dais-mo inteiro?
P – Não será de mais o bodo?
G – Se muito quereis que eu dê,
Muito tereis de me dar.
Gi – É o Demo, já se vê!
P – Tu não te podes calar?...
Fecha a culatra, marujo,
Não o queiras ofender.
Gi – Mas se o gajo for o Sujo
Há-de gostar
De a gente o reconhecer.
P – Se não for, estou tramado,
Volto a casa desonrado.
Gi – Saístes de lá assim...
P – Olha que saio é de mim
E mando pôr-te a afogar.
Gi – Não vale a pena o chinfrim
Que é já muito longe o mar.
P – Oh! diabo, é bem verdade!
G – Ah! já notastes quem sou!...
Vedes que tenho bondade,
E muito dou
A quem bem me for fiel.
P – Para onde me arrastou
Vossa excelência?
G – Isto é a torre Eiffel.
Gi – Ele é cornudo, tem lã...
Oh! que santa paciência!
Se isto for a torre Eiffel
Eu serei o Saint-Germain…
P – E eu Notre-Dame serei...
G – Tudo o que digo, fazei.
Ponde um joelho no chão.
P – Ou dois ou três! Já estão.
Gi – Eh! pá, que grandes chavelhos!
P – Dá-me aí a tua ajuda:
Põe no chão mais dois joelhos.
Gi- Senhor...
P – Caluda!
G – Jurais-me fidelidade?
P – Claro, até à eternidade!
G – E tu, amigo, que dizes?
Gi – Já a jurei tantas vezes
A todos os portugueses,
Fiz mil mulheres felizes,
Como posso jurar mais?
G – ‘stás dispensado da jura.
5 comentários:
Muito bom :)!
você é "dose"... :)...
mas... altamente!!
abreijos,
Maria ( atal do "i"...)
Amigo Daniel,
diverti-me a valer.
Por momentos, pareceu-me estar a ler mestre Gil Vicente.
Parabéns.
Gosto bastante deste aspecto da escrita do Sr. Daniel de Sá, mas sinto a falta daqueles contos 'do burrinho' e do 'tremor de terra'. Para quando um texto desses, Sr. Daniel?
Os meus cumprimentos aos dois.
Obrigado, anónimo, obrigado, Mifá.
Meu Caro Corrêa Simões, os cumprimentos são para mim e para o burrinho? Obrigado. Farei o possível por trazer aqui outras figuras que lhe inspirem essa ternura.
Adorei. Está genial. Um abraço vizinho Daniel.
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