Sete vidas mais uma: Daniel de Sá
O poeta saiu de casa,
passou o portão.
Já não está na casa:
leva-a como escudo,
armadura armada de memórias.
Sonha que teve uma casa
onde havia pai e mãe,
que são outro modo de dizer casa.
Mas nada nos diz da casa.
Talvez cale por temor
de partir o sonho em dois:
a casa que ele teve,
a casa que já não o tem.
Melhor não falar dela,
bom é esquecer o que foi bom
para que haja um motivo menos
a dar razão à saudade.
Os telhados de vidro da casa
são os pontos fracos da armadura.
O poeta não pode abrir os braços
em grandes abraços,
não vá uma seta de remorsos
ferir-lhe ainda mais o coração.
O poeta não pode dar grandes passadas,
não vá uma seta de saudade
obrigá-lo a parar sangrando
por tudo o que foi; pior ainda:
por tudo o que não aproveitou ter sido.
É esta a casa que leva consigo,
como se fosse possível vivê-la,
como se fosse possível ser vivido por ela.
Do portão desta casa o poeta nunca passou.
Não o abriu, para não ter de o fechar,
para não ter de fechar-se
do lado de fora da casa,
do lado de fora da vida.
Quando o poeta fecha o portão da casa,
não pode levá-la consigo,
não pode estar na casa.
E a casa faz falta
mesmo quando já não existe.
Mesmo quando os seus telhados de vidro
são frágeis como a saudade,
inúteis como o remorso.
7 comentários:
Well, está bem. Para ser poeta têm que se fazer certos sacrifícios e os apropriados para o ser, senão não resulta. Mas pronto, ninguém é poeta a tempo inteiro, senão nem arranjava matéria prima para depois trabalhar.
lenor
lenor
Nem sempre se pode agradar a todos. Sobretudo quando o produto é de má qualiade. Peço desculpa pelos dois minutos da sua vida que terei estragado.
Daniel
Pois eu agradeço-lhe estes dois minutos (um pouco mais porque demorei tempo a saborear)
Bjos
Saci
Saci
Sinceramente, basta-me uma só leitora (ou leitor) que goste do que eu escrevo para justificar que o tenha feito.
Beijos recebidos, com agrado. Vai um punhado deles.
Daniel
Daniel,
Referia-me com "sacrifícios", à intimidade do poeta, às suas vivências interiores que expõe não as expondo, como se passasse o portão da casa sem o transpor. Para um poema maluco, um comentário igual. Mas chamei-lhe poema, portanto tem honras de tal, dadas, pelo menos, por mim!
lenor
Está bem, Lenor (é mesmo Lenor?), eu é que não percebi. Mas a culpa não foi sua. No entanto, estava no seu pleno direito de não gostar, que foi o que me pareceu. Melhor assim.
Leonor, lenor de nick.
lenor
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