Há gente assim, com vidas que nunca mais acabam. Seres com a estranha capacidade de se reinventarem mesmo no disparate.
De renascerem sempre, após cada uma das muitas mortes que vão tendo em vida. Tolos, há outros que lhes invejam este castigo como se fora uma gracinha para entreter os amigos nas noites frias de inverno ou nas amenas cavaqueiras de verão. São os tolos quatro-estações, que por desconhecerem a primavera das ideias estão condenados ao outono da mediocridade para sempre.


quarta-feira, 2 de abril de 2008

Pêquêpê o pêdêcê

Jaime Silva soma e segue. Verdadeiramente imparável, este nosso ministro da Agricultura, aparentemente auto-investido nas altas funções de Provedor da Dentada Canina, ou coisa que o valha. Pois agora o PDC teve outra ideia, outro lampejo, mais um plim! Decidiu então o senhor ministro que agora a esterilização dos cães não é suficiente, há que criminalizar os donos sem perdão. Quero dizer 'punir, 'multar'? Não senhor, quero dizer criminalizar, mesmo, transformar em infracções criminais aquilo que hoje são meras contravenções, puníveis com coima no pior dos casos. Exactamente.

Não sou bem eu quem quer dizer, entenda-se, quem quis e disse foi o senhor ministro da Agricultura, para quem, a partir de agora, devem levar roda de criminoso todos os que tiverem cão que cague fora do penico ou rosne à vizinha errada. Nem mais. E falamos de qualquer cão, não mais apenas dos famigerados cães de raça perigosa. Qualquer dono de lulu rafeiro corre o mesmo risco de ser levado à barra de um tribunal criminal, se esta ideia luminosa de Jaime Silva (mais uma entre incontáveis ataques de igual brilhantismo) fôr avante tal como foi exposta. Deus nos proteja e guarde de mais estoutra investida do senhor ministro às canelas de quem tem cães.

Entretanto, que não fique aqui confusão ou mal entendido. Concordo em princípio e em primeira análise com a punição do 'incitamento' e 'negligência' dos donos destemperados de cães potencialmente perigosos, face às suas características de raça ou arraçamento. Dos uns e dos outros, diga-se, já agora. É urgente e peca por tardia. Mas daí até bater palmas a uma má lei, de génese rafeira, preguiçosa no descriminar, desleixada no critério e amante da estimativa a olho, fácil e barata, vai a enorme distância do meu repúdio pela intenção de tamanho absurdo legislativo.

Qual será o problema deste homem, pergunto-me. Jaime, Jaime Silva, como Rui, José ou Manuel. Até consigo perceber o ministro (há bons e maus), enfim, com esforço. Mas bolas: não terá gente lá dentro, o fatinho que carrega esta pasta agrícola no Portugal socrático?

2 comentários:

Anónimo disse...

Sempre foi assim, se quer saber... ou mesmo que não queira, bastava interpretar o Código Penal. Da mesma maneira que o dono de um vaso de manjericos, numa varanda, pode levar roda de criminoso se o manjerico, mesmo que com quadra à maneira e versinho ao Santo António, cair em cima da cabeça da vizinha. Ou do vizinho. Errado ou certo, que já vi que gosta de separar em géneros e qualidades. Dói-lhe alguma coisa, é?

Rui Vasco Neto disse...

o algodão não engana.
irra, que praga.