A ele e à Maria João Nogueira devo atenções que se relectiram na qualidade do produto final.
Para eles os meus sinceros agradecimentos, para si o novo endereço do 7vidas:
setevidascomoosgatos.blogs.sapo.pt.
more than meets the eye
A ópera, como normalmente todas as formas de arte ou de outras actividades humanas, resulta de uma longa evolução, com raízes milenares, apesar de o seu conceito e a forma como a conhecemos ter apenas cerca de quatro séculos. Aliás, no caso da ópera não se pode falar de uma arte apenas, mas de um conjunto delas, pois que inclui a música, o teatro e a poesia, e até, por vezes, a própria dança, o que a transforma numa forma de representação mais complexa do que qualquer outra.
No teatro grego, o mais antigo de que se tem conhecimento abundantemente documentado, a música fazia parte do espectáculo e contribuía para o desenrolar do drama ou da comédia, através dos coros e mesmo música instrumental.
De certo modo pode dizer-se que o Homem sempre teve tendência para transformar em espectáculo coreografado e, com frequência, musicado, manifestações colectivas, sobretudo nos rituais religiosos, quer nas religiões politeístas quer nas judaico-cristãs. Basta pensar na grandiosidade das celebrações da Páscoa da Igreja Ortodoxa russa ou na missa do rito arménio, sendo nesta tão importante a função da música que ninguém pode ser ordenado presbítero se não for um bom cantor, ficando condenado a ser diácono toda a vida se não possuir boa voz e capacidade de interpretação.
A evolução, pois, das diversas formas de teatro para o espectáculo que deveria passar a ser conhecido como ópera (da palavra latina opus, que se aplica a qualquer peça – ou obra – musical) parece ser, assim, uma consequência natural da evolução da música e do teatro. A ópera acabaria por surgir na Itália precisamente como consequência do Renascimento, a partir da intenção do conjunto de artistas da Camerata Fiorentina de retornar ao teatro grego. A primeira tentativa do género foi apresentada no palácio de Jacopo Corsi, em 1594, Dafne, com libreto de Ottavio Rinuccini e música de Jacopo Peri, que três anos depois compuseram Euridice, havendo nesta já a participação do músico Giulio Caccini. Tendo-se perdido a partitura de Dafne, felizmente não aconteceu o mesmo com a de Euridice (estreada em 30 de Outubro de 1600, com o próprio Peri a desempenhar o papel de Orfeu).
As formas que precederam imediatamente este género musical, e de certa maneira o inspiraram, foram várias, com destaque para as peças musicais litúrgicas (sacre rappresentazioni) que se cantavam nas igrejas ou nas praças em frente delas, incluindo cenários, guarda-roupa e efeitos cénicos. Também em Portugal era costume organizar este tipo de autos religiosos, os “mistérios”, sem esquecer que no teatro de Gil Vicente a música desempenhava um importante papel. Outra influência terá sido a dos interlúdios (intermezzi ou intermedi), apresentados entre os dramas falados, normalmente para honrar algum momento especial na vida da nobreza, bem como a pastoral (pastorale), que era um longo poema recitado em palco e acompanhado de canções a solo e de peças corais. Também os madrigais, reunidos em grupos sob a designação de comédias madrigais, se podem considerar antecessores da ópera, apesar de, muitas vezes, os cantores estarem atrás do cenário enquanto os actores representavam em pantomima.
De Florença a ópera passa a Roma (com Emilio de Cavalieri, Domenico Mazzocchi e Stefano Landi) e depois a Veneza, onde se distingue um dos mais geniais compositores de sempre, Claudio Monteverdi, com a primeira das suas dezoito óperas, La Favola d’Orfeo, sob encomenda, em 1607, do duque de Mântua, tendo sido o seu próprio secretário de Estado, Alessandro Striggio, o autor do libreto. Estava assim definitivamente consolidado um novo género musical e dramático que maravilhava os espectadores, como ficou bem expresso por John Evelyn, um inglês que, a propósito de uma representação a que assistiu em Veneza, escreveu no seu diário: “Trata-se, no seu conjunto, do mais sumptuoso e dispendioso divertimento que o engenho humano pode conceber.”
A ilha me perdeu, sou de nenhuma.
Saudade-amor de mim, pedra que móis
Meu trigo que ceifei por outros sóis
Onde o suor não se evapora em bruma.
Sou valquíria que escolhe os seus heróis.
Minha paixão sou eu. Não me consuma
Outra paixão, amor. Bebo uma a uma
As gotas do veneno com que dóis.
Se as ilhas fossem gente, eu era o Pico,
De coração só feito de mistérios
E os longes das paisagens onde fico.
Das arribas do ser, a vida tomba
E os amores do Amor a morte fere-os.
Não libertem por mim nenhuma pomba.