Há gente assim, com vidas que nunca mais acabam. Seres com a estranha capacidade de se reinventarem mesmo no disparate.
De renascerem sempre, após cada uma das muitas mortes que vão tendo em vida. Tolos, há outros que lhes invejam este castigo como se fora uma gracinha para entreter os amigos nas noites frias de inverno ou nas amenas cavaqueiras de verão. São os tolos quatro-estações, que por desconhecerem a primavera das ideias estão condenados ao outono da mediocridade para sempre.


sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

Claro.

Ser poeta é ser mais alto, é ser maior do que os homens, morder como quem beija.
É ser mendigo e dar, como quem seja Rei do reino de áquem e de além dor.
É ter de mil desejos o esplendor e não saber sequer que se deseja. É ter cá dentro um astro que flameja. É ter garras. E asas de condor.
É ter fome. É ter sede de infinito (por elmo, as manhãs de oiro e de cetim...). É condensar o mundo num só grito e amar-te, assim, perdidamente. É seres alma e sangue e vida em mim.
E dizê-lo cantando a toda a gente, claro.

19 comentários:

Anónimo disse...

É um soneto de Florbela Espanca.
Merece ser respeitado na forma inicial, entende?

Rui Vasco Neto disse...

quadradónimo,
Não, não entendo. Mas entendo que assim o entenda. Chamam-se liberdades. De expressão, a sua, e criativa a minha. Ou se calhar era uma tentativa de plágio. Ok, apanhou-me.

Rui Vasco Neto disse...

Já agora e só por curiosidade: a forma original é a do Luís Represas ou a da Sara Tavares?

samuel disse...

A florbela era, como se sabe, uma moça conhecida por grandes qualidades...
Nunca me constou que respeitasse por aí além a "forma/norma original".
A não ser, talvez, nas paixões :))))

Anónimo disse...

samuel,

nem nas paixõe. Aliás, deixou-se espartilhar mais (muito mais) pela forma (soneto) e pela métrica ( decassílaba) do que pelas paixões...

Teresa disse...

Deixei aqui um comentáriozinho mas deve-se ter perdido nas voltas do correio...

Teresa disse...

E podemos fechar com Pessoa? O Fernando, claro. E esta é para ti, gato de serviço:

Gato que brincas na rua
Como se fosse na cama,
Invejo a sorte que é tua
Porque nem sorte se chama.

Bom servo das leis fatais
Que regem pedras e gentes,
Que tens instintos gerais
E sentes só o que sentes.

És feliz porque és assim,
Todo o nada que és é teu.
Eu vejo-me e estou sem mim,
Conheço-me e não sou eu.

Rui Vasco Neto disse...

Todo o fundamentalismo é burro e o mundo está cheio de gente burra. Levei anos a recitar poemas na escola cujo sentido me estava vedado porque tinha de me concentrar na métrica do cantar em ladainha para as festas de natal. Palavras, isso que importa? Ideias, sentimentos, leituras, interpretações? Ao diabo com isso tudo. Importante é 'a forma original'. E para que nunca esqueçamos as regras existem os guardiões do templo, os fiscais da palavra, os curadores da virtude, únicos detentores do franchising exclusivo das verdadeiras intenções de cada autor em cada inflexão, cada acento, cada tudo que só eles sabem, por confidência divina debaixo de um chaparro. São os donos da cultura, toda ela, os sobas do intelecto. Não tenho competência para a eminência. Parda, vainda menos. Nem no natal.

Rui Vasco Neto disse...

sam, mifas,
onde é que a gente ia?

Anónimo disse...

Enquanto andava eu a cantar a nossa poesia, andavam vocês por aqui também, cantando. Bonito este poema da Florbela, lindo mesmo.

Rui Vasco Neto disse...

nesta,
como deve ter percebido, o sistema de aprovação de comentários cá da loja tem assim uma espécie de vida própria que, juro, me escapa completamente.
a mensagem vale para a geral, já que não é a primeira (e suspeito que não será a derradeira) vez que isto acontece sem que eu possa adivinhar.
mas acaba por ir ao lugar, eventualy. costuma, pelo menos.
gadinho pelo gato pessoano, foi um mimo inesperado. espero que seja a 'forma original', que aqui as regras são rígidas.

Rui Vasco Neto disse...

pi,
correu bem? levaste a garrafinha de licor 'para a voz'? e o alfredo ainda tem dedos? tocou alguma que soubesse?

Anónimo disse...

Correu bem, sim, bebi tintol, aquece bem a garganta. Alfredinho tocou e tocou bem, baboso !!!

Maria disse...

O que me importam são as palavras, pronto.
É um prazer passar por aqui, sempre..

Anónimo disse...

Realmente, o mundo está cheio de gente burra.
Nem mais nem ontem.
Ninguém tem o direito de desvirtuar obra alheia.
É assim tão difícil de entender?
Da-se!!!

PS - Quadradónimo, uma ova!

Anónimo disse...

dedicada ao anónimo, com votos que ele não construa mas semeie versos e, assim, colha poesia:

Bato à porta do Silêncio:
Abre meu Amor! Abre! Sou eu!...
Sou eu! Sou eu! A que nas mãos ansiosas prendeu da vida, assim como ninguém, os maus espinhos, sem tocar nas rosas.

Anónimo disse...

Esquecia-me, de forma imperdoavel, de acrescentar ao anónimo que, não me Espanta nada, faça uso, e bom uso da sua liberdade para por as """""""" os ()() e as .....
aonde achar por bem ser adaptado ou inadaptado.

MARIA disse...

Adoro a Florbela Espanca ... com forma sem forma ... mas muita essência ...
Votos de festas muito felizes e um 2008 extraordinário!
Maria

Rui Vasco Neto disse...

ovónimo,
Estamos de acordo pela primeira vez. Ninguém tem o direito de desvirtuar obra alheia. 'Da-se' não existe. Por isso, sempre que sentir o apelo do chinelo que há em si, por favor use a forma original: foda-se.

guizos a tilintar,
Não percebi quem é o anónimo a que se refere, mas fico feliz pelo pézinho poético que deu neste baile.

estranha sinfonia na alma,
Com esta fiquei à toa. Quer explicar ou, como suspeito, não tem explicação?

maria,
Grato pelos votos e parabéns por ver bem ao longe. Por aqui, vira e mexe, bate uma miopia crassa...