Há gente assim, com vidas que nunca mais acabam. Seres com a estranha capacidade de se reinventarem mesmo no disparate.
De renascerem sempre, após cada uma das muitas mortes que vão tendo em vida. Tolos, há outros que lhes invejam este castigo como se fora uma gracinha para entreter os amigos nas noites frias de inverno ou nas amenas cavaqueiras de verão. São os tolos quatro-estações, que por desconhecerem a primavera das ideias estão condenados ao outono da mediocridade para sempre.


sábado, 9 de fevereiro de 2008

Ainda as gargalhadas do China

Estes últimos sete meses que passaram foram férteis em notícias do China, esse rapazola delinquente que vem dando uma generosa contribuição para o anedotário das forças policiais portuguesas, ao fugir da cadeia de Guimarães uma vez, liderando um grupo de condenados que feriu um guarda e ameaçou outros dois, protagonizando uma espectacular fuga colectiva; sendo preso uma outra vez e libertado a seguir por engano noutro clássico da burrice burocrática, um embuste colectivo digno de Alves dos Reis; e finalmente quando, por um mero acaso, acaba finalmente detido na sua própria aldeia, a poucos metros de casa, por uma patrulha de giro que se cruzou com ele na rua, coisa de vizinhos. Este é o China, 18 anos cheios de recursos e energia criminosa.

Vale a pena recordar os pormenores da história aqui. Só para a gente se rir um bocadinho, que agora já se pode fazê-lo mesmo nas barbas da Justiça nacional. É que o "China", que se encontrava detido preventivamente pela prática de inúmeros assaltos armados e que é suspeito em mais de dezena e meia de processos semelhantes por todo o Vale do Ave, foi libertado ontem à tarde. Exacto. Free as the wind.

A liberdade aconteceu depois de o Tribunal de Guimarães o ter condenado a uma pena de dois anos de prisão, por causa de uma assalto à mão armada, castigo que foi substituído por 480 horas de trabalho a favor da comunidade. Consultados outros tribunais, verificou-se que não existiam pedidos para que a sua prisão fosse mantida, pelo que a ordem seguiu para a cadeia, sendo cumprida por volta das 17 horas de ontem, sexta-feira. Um cenário completamente imprevisível, tendo em conta a mais de dezena e meia de processos existentes em vários tribunais, relacionados com assaltos, alguns dos quais à mão armada, para além do que tem a ver com a fuga. Mas tão possível que aconteceu.

Foi precisamente o desfecho do julgamento de um destes assaltos, a uma bomba de gasolina de Guimarães em Fevereiro do ano passado, a ditar a sua libertação. No assalto, "China" estava acompanhado por um outro jovem, que empunhava uma caçadeira de canos serrados. O seu advogado, Pedro Carvalho, tinha proposto nas alegações finais do caso que o jovem fosse obrigado a prestar trabalho comunitário em vez de cumprir prisão. E foi precisamente isso que o colectivo de juízes decidiu. Apesar de ter considerado como provada a participação dos dois jovens no assalto (roubo agravado), o tribunal decidiu substituir por 480 horas de trabalho a favor da comunidade, na junta de freguesia de Joane, Vila Nova de Famalicão, onde "China" reside, a condenação a dois anos de cadeia.

O cúmplice foi também condenado a uma pena de três anos e dez meses de cadeia, englobando já também a punição pelo crime de posse de arma ilegal, que foram suspensos por igual período. Também foi libertado. Seguindo o procedimento normal nestes casos, o tribunal perguntou aos tribunais onde "China" tem processos em curso se algum destes exigia que o jovem continuasse preso. Como a resposta foi negativa, os juízes ordenaram à cadeia de Guimarães que procedesse à sua libertação.

Num país fraco de heróis, sem Arséne Lupin que se aproveite desde o Zé do Telhado, só com cambalacheiros de segunda (eu assino o teu projecto, tu compras o meu árbitro, eles dizem mal de todos), confesso que este China está a um passo de me fazer seu fã. A um passinho apenas. Ele que assalte mais uma bombazinha que seja, que aldrabe mais dois polícias ou três guardas prisionais e eu lá estarei, na primeira fila desta imensa plateia de todas as suas escapadelas. Batendo palmas, entusiasmado, a ele e a esta Justiça de anedota que prende quem não deve e solta quem anda a gamar. E rindo à gargalhada, evidentemente.

4 comentários:

Anónimo disse...

Ó Rui, espero que nenhum tribunal ou instituição de reabilitação lhe arranje trabalho nos Açores, é que já cá temos tantos... Este China enquanto tiver o bom senso de não assaltar o advogado que o defende e o juiz que o manda "trabalhar", tem a sua vida garantida.
Abraço

Rui Vasco Neto disse...

fredo,
ouvi dizer que o rapaz vai para a escola profissional da vila franca aprender música... e desfilar pelo s.joão, claro.

Pearl disse...

Ouviu bem, caro RVN, mas o santo é outro. É o Casamenteiro, lá para os lados de Famalicão.

Rui Vasco Neto disse...

pearl,
sagaz.