Há gente assim, com vidas que nunca mais acabam. Seres com a estranha capacidade de se reinventarem mesmo no disparate.
De renascerem sempre, após cada uma das muitas mortes que vão tendo em vida. Tolos, há outros que lhes invejam este castigo como se fora uma gracinha para entreter os amigos nas noites frias de inverno ou nas amenas cavaqueiras de verão. São os tolos quatro-estações, que por desconhecerem a primavera das ideias estão condenados ao outono da mediocridade para sempre.


sábado, 8 de março de 2008

Menos um

Morreu Miguel Lemos, colega, amigo, tudo 'ex' por capricho divino que teve lugar hoje. Foi quem me recebeu na RTP, julgo que o meu primeiro editor no canal 1. Não há palavras especiais, nem tinha que haver. Tristeza, sim, a natural. Chegámos à amizade. Foi sempre um homem decente comigo, devo-lhe atenções profissionais. Palavras apenas as suficientes para me lembrar que o meu mundo está cada vez mais cheio de gente que não conheço ou conheço pouco. Os outros vão-se acabando, um por um.

2 comentários:

Anónimo disse...

Ai Rui, muda o título.
Juro que se fica com a sensação de "menos um, não faz falta".
Já estava a estranhar tanta falta de sensibilidade. Afinal, o texto contraria o título (ou pelo menos o que ele sugere) e até dá-lhe sentido.
Mas a primeira impressão...

Rui Vasco Neto disse...

mifas,
Sou uma vítima profissional da primeira impressão dos outros, facto que a eventualidade da minha culpa pontual não altera ou impede. Se calhar, de tanto o ser sem querer, acabei por ganhar agora o inconsciente mecanismo de me pôr até a jeito, seja por pura provocação, (o que evidentemente não é o caso) seja por me estar nas tintas para o que os outros decidem à partida que deve ser só porque gostariam que fosse assim, por conveniência de malvadez própria da espécie. E então estico-lhes a corda, só pelo gozo de imaginar a cambalhota dupla das expectativas mirambolantes de cada gambozino apanhado.

Neste caso em particular trata-se de uma reacção na hora a uma notícia que me toca pessoalmente. O itálico revela a reflexão privada, e o que sai nessas condições é o coração a falar, não se corrige, não se emboneca para mostrar à madrinha. Por mais arrogante que te possa soar, a verdade é que em casos destes se permite aos outros o privégio da partilha, nada mais. E assim se espera alcançar um instante de comunhão no sentir, seja este comum ou não a quem lê. É sempre uma entrega de verdade, só assim faz sentido. Quem conseguir a proeza de ver aquém da decência num post destes, sofre de miopia de alma e é merecedor da piedade devida aos poucochinhos de espírito.

Já em termos estritos de língua portuguesa, a observação que fazes tem toda a pertinência, é por demais evidente a possibilidade alternativa de mau gosto. Eu poderia ser uma pessoa capaz de escrever uma coisa assim como tu própria imaginaste possível. Mas afinal não sou. Ao leres, constataste o contrário, foste surpreendida pela positiva, pela minha já não esperada decência. E viste que afinal eu era um nadita menos pior (!!) que me julgavas. Que tudo fazia sentido no final, de resto o local apropriado para esse efeito, a arte está em chegar lá por caminhos mais bonitos que a auto-estrada da vulgaridade. E foi lá, no sentido finalmente por ti encontrado, que finalmente nos encontrámos também. Ora diz-me, não ficaste feliz? Não foi uma revelação absolutamente divinal? Foi tão bom para ti como foi para mim?