Há gente assim, com vidas que nunca mais acabam. Seres com a estranha capacidade de se reinventarem mesmo no disparate.
De renascerem sempre, após cada uma das muitas mortes que vão tendo em vida. Tolos, há outros que lhes invejam este castigo como se fora uma gracinha para entreter os amigos nas noites frias de inverno ou nas amenas cavaqueiras de verão. São os tolos quatro-estações, que por desconhecerem a primavera das ideias estão condenados ao outono da mediocridade para sempre.


sábado, 15 de março de 2008

Pessoas de raça perigosa

«Quatro crianças foram atropeladas hoje numa passadeira, no Porto, por um taxista alcoolizado que fugiu do local, revelou a PSP; uma das raparigas está internada com ferimentos graves no Hospital de S. José.
Às 15:50, uma menina de sete, outra de oito e duas de 12 anos foram atropeladas por um taxista de 44 anos quando atravessavam uma passadeira da Praça das Flores, na freguesia do Bonfim. As raparigas foram transferidas para o Hospital de São José: três com ferimentos leves e uma das mais velhas com ferimentos graves. "A rapariga de 12 anos deverá ficar internada no Hospital", disse à Lusa o oficial de Dia da PSP do Porto.
Mais de uma hora após o acidente, o taxista, casado e residente em Campanhã, apresentou-se na esquadra e foi constituido arguido por atropelamento com fuga e omissão de auxílio, revelou a PSP. Além destes crimes, o condutor apresentava ainda uma taxa de alcoolémia de 0,92, quando o máximo permitido é 0,5.»

Quero saber, sem ironia, sem intenção de gracinha: deve o Estado mandar esterilizar todos os condutores, ou só os taxistas? Ou apenas os condutores taxistas bêbedos? Um condutor bêbado trata-se ou não de uma raça perigosa? Quantos mortos até hoje, atropelados nas passadeiras ou fora delas, crianças, velhos, novos, homens, mulheres? Por falta de uma lei ou por falta de cumprimento da lei existente? Como se resolve, esteriliza-se? Sei que pode parecer absurda a comparação, sobretudo para quem logo à partida não se quiser dar à maçada de pensar. Quem já souber tudo sobre tudo. Mas esqueçam por um segundo se falamos de cães se de gente. Só por um instante. Falemos só de governos, de leis, de povos e de aplicação e cumprimento ou não das leis existentes. Era bom se o fizessemos, por um instante. Porque nessa perspectiva estaríamos a falar da mesmíssima coisa, uma só nas duas situações: um problema social que não é exterminável por decreto. Que existe nas pessoas, não nas leis. Em pessoas de raça perigosa.

Alguém pode fazer o favor de explicar isto ao senhor Silva que é ministro?

1 comentário:

Anónimo disse...

Rui, isto passou-se comigo:
Estava no meio de um bairro a conduzir, que fica perto da minha casa, quando uma criancinha, com cerca de um ano, semi-nua, sentada no meio da via estreita, me impedia a passagem. Olhei, e na soleira de uma porta ali perto, permanecia impávido o pai da criança, comletamente embriagado. A mãe, pelo que depois me disseram, "andava na vida".
Pedi delicadamente ao pai, o favor de retirar a criança, ao que ele me respondeu: "Passa por cima, que eu logo à noite faço outra". Chocante, mas aconteceu comigo.
Agora pergunto: achas que este senhor deveria ser esterilizado?