
Assim, a esta hora que escrevo, o pequeno Miguel estará a ter a sua primeira aula práctica de Justiça Portuguesa, primeiro semestre do resto da sua vida. Estará a conhecer os seus novos amiguinhos e amiguinhas e as novas senhoras e senhores que são todas e todos muito simpáticas e simpáticos e gostarão decerto imenso dele como gostam de todos os outros miguéis que o destino pôs neste mundo de merda com o carimbo de indesejados, pouco desejados, desejados de vez em quando ou à vez, chamem-lhe o que quiserem. Por entre as suas desgraças pessoais, estes são meninos com uma única sorte a protegê-los, qual estrelinha que guiou os Reis até ao perdido estábulo da cristandade. Têm todos a Justiça nacional de olho nos seus problemas, sempre atenta ao 'superior interesse do menor', como reza a Lei, explícitamente. E o Miguel, em especial, tem mais sorte do que todos, que o pai natal, como se pode ver, mora em Mirandela.
Eu cá desejo a todos um feliz Natal e um próspero Ano Novo. Em especial ao senhor doutor juiz que assinou a ordem para este castranço a frio, num gesto tão natalício e que tanto honra a magistratura em geral e Portugal em particular. Que a consoada lhe assente na perfeição são os meus votos. Que os doces o consolem e o licor lhe ruborize a face branca de emoções. E que a sorte do Miguel não lhe retire sequer um segundo da concentração que vai necessitar para ouvir esta noite, por entre arrotinhos de satisfação, as leituras do evangelho na missa do galo a que não faltará por certo, como bom cristão. Depois dormirá o soninho dos justos, em paz com a vida, consigo e com o céu. Deus, estou certo, perdoar-lhe-á todos os pecados. Eu é que não.
5 comentários:
Por azar de quem é vítima delas, há bestas que conseguem chegar a juízes.
"E as crianças, Senhor?"
daniel,
um santo e feliz natal para ti, querido amigo.
um abraço
Que as mães do Miguel, da Esmeralda e da Iara os tivessem abandonado aquando o seu nascimento, por falta de condições e que estas crianças tivessem sido entregues ( de forma mais ou menos legal) a casais que os amaram como filhos, isto parece-me normal.
Que uns anos mais tarde, essas (mães) biológicas, por excesso de euros na carteira, se tivessem lembrado que afinal já tinham parido uma criança e que tinham condições para a criar, isto já me custa a aceitar.
Agora que a justiça retire estas crianças dos seus lares, dos seus quartos e de onde e com quem se sentem seguros, isto já me parece chocante.
Não sei como é que estes juízes e estas biológicas (e recuso-me a chamar-lhes mães) interpretam “o supremo interesse do menor”.
O ar condicionado da futura casa do Miguel e a sua tia professora que irá tomar conta dele quando a sua biológica estiver a estudar e trabalhar, devem ter sido argumentos de peso…..
Em má hora passei por aqui. Eu, que estava tão bem, desconfio que vou dar voltas nos leçóis antes que venha o "joão pestana".Só desejo é que essa coisa que dá pelo nome de juíz( merdíssimo que não meretíssimo ) venha a dar as mesmas voltas no inferno. Mas, até lá, que se lhe atravesse uma alheira na goela já que nada parece atravessar-lhe a consciência. Estafermo!Desculpem o desabafo mas, se não vomitar, congestiono.
E que tal um abaixo-assinado?
saci, mifas,
tira-me a vontade das graças, este assunto merdoso.
acreditem que até eu, que tenho a pele dura e o isso calejado, deixei que esta notícia abalasse o meu dia.
lembrei-me de outra, não tão antiga assim, 4, 5 anos, de outro miguel que era espancado com regularidade pelo namorado da avó, a quem estava confiado.
os vizinhos fizeram queixa e o tribunal retirou a criança por uns dias, mas como o Estado não sabia o que fazer com ela um juiz devolveu-a ao cuidado da avó, com muitas recomendações.
morreu na sova seguinte. ao pontapé.
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