sexta-feira, 30 de novembro de 2007
Sempre a mesma coisa, no fundo.

O militar era afinal suspeito de outros sete crimes do mesmo tipo. O indivíduo actuava de forma simples e sem grandes disfarces, apenas óculos escuros ou chapéu. Em algumas situações não camuflou sequer a sua identidade, o que permitiu o reconhecimento fácil através da captação de imagens dos sistemas de video-vigilância das instituições bancárias. Nunca usou violência, optando sempre por anunciar o crime através de um pedaço de papel. Houve situações em que poderá ter usado "uma arma de alarme, mas nunca a usou e sempre que os funcionários se recusavam a dar o dinheiro saía das agências sem violência", diz a polícia.
Ou seja. Uma pessoa vai ao banco, uma vez, duas vezes, tanta vez, tanta vez, e entrega os papéis sempre a pedir a mesma coisa. E eles sempre a dizerem o mesmo. No fundo a malta é cliente habitual, freguês do estabelecimento, vai lá porque precisa do dinheiro. Eles começam com aquela história do ah, pois, sabe, e coiso, talvez, pois é, e mais isto e mais aquilo, e coiso, e que a malta é nova e que ganha pouco e mais que não sei quê, e mais que não sei que mais e coiso. No final desta conversa toda dizem-nos que não e a gente vem-se embora. Mas lá que um tipo fica chateado, lá isso fica. Onde raio está a novidade é o que eu gostava de saber.
Chega de conversa
Serviços mínimos
quinta-feira, 29 de novembro de 2007
Amigo Zé, acredita: não bates bem!

"Andava a trabalhar de graça. Nunca pagaram o que me devem, apesar de eu lhes guardar os armazéns. Fiz o que tinha de fazer", argumentou José Zeferino, que ontem de manhã já se encontrava na sua habitação, na Maia, depois de ter passado pelas instalações da Polícia Judiciária do Porto. "Foi uma coisa que me deu na cabeça. Foi um aviso".»
As gargalhadas do China




quarta-feira, 28 de novembro de 2007
Abençoada galinha

É um dos apenas doze ovos de Fabergé (1846-1920) conhecidos no mundo e foi o presente que Beatrice Ephrussi de Rothschild, mulher do banqueiro multimilionário russo Maurice Ephrussi, que eu não cheguei a conhecer, ofereceu a Germaine Halphen en 1905, depois do anuncio do noivado da jovem com o irmão mais novo de Beatrice, o barão Edouard de Rothschild. Ficaria a matar na cozinha da minha casita lá no Algueirão. Pois antes que eu tivesse tempo para licitar, um comprador privado russo resolveu a questão e arrematou, como o Ronaldo fez ontem contra o Sporting. Senti-me anarca, revolucionário, combatente e injustiçado. A foto diz tudo. É preciso pôr um fim urgente à exploração destas galinhas. Quem quiser ovos assim que os ponha.
Ai, estes miúdos!

«Uma crise de ciúmes levou um idoso de 79 anos residente no lar da Santa Casa da Misericórdia de Paredes de Coura a agredir à paulada outro idoso, quatro anos mais novo. No centro da confusão está uma utente do lar, vinte anos mais nova, mas "loira e muito vistosa", segundo o provedor da instituição.»
terça-feira, 27 de novembro de 2007
A morte das Vidas Reais

Chamava-se 'Tudo por dinheiro' e era isso mesmo. Tudo por dinheiro. O que é que você está disposto a fazer por dinheiro? Uma hora disto, gravado. Sílvio escolhia uma rua, praça, um jardim. E interpelava as pessoas que passavam com uma mão cheia de notas. "Você está disposto a fazer isto ou não?", perguntava Sílvio. E as notas iam saindo a cada negativa. "E agora?". Mais notas ainda se era não e mais e mais, até à esmagadora maioria de sims. Eu juro que vi gente comer merda, ipso factum. E tomar banho em fontes públicas, vestida e calçada, dançar e zurrar na calçada. Vi tirar a roupa, gatinhar e ladrar, toda a galeria de ilustrações populuchas tiradas da imensa e perversa imaginação de Sílvio Santos, génio televisivo e um dos maiores intrujões da comunicação mundial. E todos sorriam no fim, agradecendo e dizendo adeus para a camera, abraçados ao sorriso cintilante do patrãozinho.

É público e sabido que a série 'Vidas Reais' terminou por comum desacordo entre mim e a produção do programa. Razões várias desgastaram uma relação que - só o saberá quem faz destas vidas, atrás ou à frente das cameras - foi muito intensa e muito tensa também, coisa que faz parte do próprio conceito de televisão em directo. Passaram dois anos sobre o final da série e nunca falei publicamente do assunto, exactamente por entender que não havia assunto para falar. Hoje, ao ler este post sobre este caso, entendi que era tempo de comentar o fenómeno 'Vidas Reais', mais que o programa em si.
"O Diário de Patrícia" é um reality show da Antena 3 espanhola que é uma mistura de 'Fiel ou Infiel' e 'Ponto de Encontro'. Svetlana era uma jovem russa que aceitou ir ao programa para conhecer um homem que lhe propusesse casamento. Sem lhe dizer, a produção do programa aceitou a candidatura do ex-noivo de Svetlana, que depois de cumprir onze meses de cadeia por maus tratos infligidos e denunciados pela própria, foi ao 'Diário de Patrícia' ajoelhar, tirar do bolso o anel e propor novamente casamento à sua ex-vítima. Vá lá perceber-se porquê, a jovem disse que não. Vá lá perceber-se porquê, o homem matou Svetlana dias depois, ainda no eco da sua pública vergonha.

Ver o 'Fiel ou Infiel', o 'Você na TV', a 'Fátima Lopes' ou as 'Tardes de Júlia', é ver em acção o mesmo exacto princípio que faz o 'Prós e Contras'. Sem tirar nem pôr. Aqui d'el rei, dirão as sumidades do costume, grande disparate, que programas tão diferentes! Deixem-se disso. E das caganças de quem até nunca viu o Goucha, nunca, talvez só uma vez ou duas, taltrês. Claro que sim. Gente séria não gosta de peixeirada. É por isso que o 'Porque no te callas' do rei de Espanha não é já um videoclip de sucesso no you tube. Na produção televisiva da era moderna, 'tele-espectador' é a tradução de sentido exacto para 'voyeur'. E a 'peixeirada' para as classes C e D é a 'polémica' para as classes A e B. Este é o abc do produtor e a regra primeira do criativo de televisão, que precisam de trabalhar como toda a gente. Daí ser a regra de ouro do director de programas.

Por isso Sílvio Santos, meu ex-patrãozinho e ainda dono do maior império de televisão do Brasil, o SBT, hoje com centenas de pequenas emissoras de rádio e TV em cadeia, apareceu ainda recentemente em todos os meios de comunicação, em directo da varanda do seu apartamento de Miami, sentado numa cadeira de rodas, ar frágil, manta sobre os joelhos e côr amarelada no rosto. Veio informar o mundo que estava em estado terminal, com um cancro, e que por isso iria vender o SBT. As lágrimas caíram e as acções do grupo subiram. E quando o mundo soube que era mentira, muito tempo depois e pela voz do próprio, entre outras, Sílvio resolveu o assunto com a risada gutural e aquele mesmo sorriso cintilante com que cai num aquário em directo, ou manda comer merda por dinheiro no seu programa de domingo. E não é que acabou tudo numa grande salva de palmas?
É este o grande encanto da televisão, o fermento das vidas reais, a atracção do número mágico e o vírus que matou Svetlana em Espanha. É o básico que vende, quanto mais primário melhor, que o boçal é cultural e é barato. Dá milhões. Ninguém quer qualidade, que é difícil e cara. Custa milhões. Por isso nada se inventa, tudo se decalca, o mau em cima do pior. A morte de Svetlana em Espanha é a morte das vidas reais, fiéis, infiéis e teledifundidas, de programa em programa, de telejornal em telejornal, até ao colapso final de toda a decência numa qualquer megaprodução em directo do inferno das nossas piores expectativas. Mais um campeão de audiências, naturalmente.
Macho que é macho

Uma médica do centro de saúde de Bragança encaminhou para o Ministério Público um caso de violência doméstica de que foi vítima uma jovem grávida e que levou à morte do feto de 28 semanas. A notícia surge a propósito de mais um dia internacional contra a violência doméstica, divulgada por uma médica do Centro de Saúde de Bragança. Tratou-se de "uma agressão física por parte do companheiro, ela nunca deixou transparecer qualquer indicador de maus tratos, apenas de violência psicológica", explicou Fátima Ramos.
Aconteceu então que estavam todos á mesa, ela mais o marido e mais três dos cinco filhos do casal. Palavra puxa palavra, lá por causa da sopa que não sei quê ou da carne que não sei quantos, o facto é que o ‘meu João’, como ela dizia, levantou da mão e mandou-a calar com uma chapada que a estendeu de costas no chão. Os filhos berraram, um deles apanhou também, a comida voou para todo o lado, enfim, uma confusão de se lhe tirar o chapéu. Mas o que a D. Maria guardou de mais importante de todo o episódio, aquilo que chegou a ser enternecedor aos seus olhos, era aquilo que ela agora me contava, de lágrima a escorrer sem parar. O seu filho mais velho, numa atitude que a deslumbrou, impôs-se ao pai enraivecido. “Levantou-se, sr. Rui, agarrou no braço do meu marido e disse-lhe: vocemessê só bate na minha mãe quendo ela merecer, ouviu? Ai, sr. Rui, meu rico menino!!”.
Assim se vê a força do pê cê

«O líder da Juventude Centrista apontou hoje o presidente do Grupo Parlamentar do PCP, Bernardino Soares, como um dos principais protagonistas dos "distúrbios revolucionários" do "Verão Quente" de 1975, altura em que tinha apenas quatro anos.»
Duas coisas notáveis pelo preço de uma: a tolice de Pedro Moutinho, líder da juventude centrista, que é novo e não pensa. E esta ilustração de Pedro Vieira, mais uma, deste mano L para mim e Irmão Lúcia para o resto de uma blogosfera que é bem mais animada com a prestação diária do seu talento. Um abraço ao segundo e um tautauzinho no tutuzinho do primeiro, coitado.
Bom dia. Hoje estou mais pobre.
Nós conhecemos os nossos amigos na adversidade.»
segunda-feira, 26 de novembro de 2007
Segure aí que eu já venho

E não é que foi mesmo?
Cabora Massa

domingo, 25 de novembro de 2007
A loja da voz grossa

Pinto Monteiro abriu a loja e aviou logo uma saraivada séria para a mesa do canto, a do governo. Visão, tenha uma. Arrasou a lei que reduz os magistrados a funcionários públicos, opinou sobre o caso Maddie, sobre a Operação Furacão e, na passada, teve tempo sobejo para a Casa Pia. Caiu que nem ginjas, que a Asae não estava. Ainda a coisa marinava na loja quando entra em cena o Inspector Geral da Administração Interna. E que cena, meu Deus, mal deu tempo para um Expresso.


Não se ouviu um pio na loja. D. Januário falou e disse, isto e muito mais, um rol de coisas que Maomé até poderia dizer do toucinho ou tavez não. Ninguém abriu o bico, não fosse o diabo tecê-las, mas quando o senhor bispo se calou houve alguns que se lembraram de D. Manuel Martins, ex-Bispo de Setúbal e da justiça nacional.

Onde está o tolo?

No recente desmoronamento de terras nos Socorridos, em Câmara de Lobos, uma derrocada esmagou por completo um laboratório da construtora Tâmega, matando dois funcionários daquela empresa. Já em 2005, no mesmo exacto local, tinha havido uma derrocada de menor dimensão e com prejuízos menores. E há duas semanas atrás, no mesmo local, tinha caído da escarpa uma quantidade significativa de rocha. Agora foi o que foi.
Enterrados os mortos e avaliados os prejuizos, impõem-se duas perguntinhas discretas. Quem foi a mente brilhante que licenciou um laboratório de uma construtora naquele local é uma delas, embora Alberto João Jardim já tenha decretado "que as causas são naturais e não há culpados". Miguel de Albuquerque também diz que a Câmara só licenciou o que a Indústria autorizou, mas a directora regional do Comércio e Industria diz que não existem indústrias naquele local. O ex-vereador da Câmara, Raimundo Quintal, responsável pela pasta do Ambiente, afirma que votou contra o licenciamento do alargamento da zona industrial para aquela zona, exactamente por causa do perigo que a escarpa representava. E Santos Costa, o Secretário Regional do Equipamento Social, também dá de Pilatos nesta história sem maus e só com coitados, lavando de responsabilidades suas as mãos na terra caída.
A segunda pergunta terá uma resposta ainda mais complicada, estou certo. É que sendo a Construtora Tâmega a responsável pelos incontáveis túneis feitos por toda a ilha da Madeira, sendo no juizo dos seus engenheiros e geólogos que todos os passantes nesses túneis têm que confiar, eu gostava que alguém me explicasse quem foi o idiota que mandou colocar as suas próprias instalações mesmo na boca de um lobo conhecido pela sua eterna fome de obras e vidas humanas. E já agora se é o mesmo que construiu os túneis.
O Natal do Pinóquio

«A Direcção Nacional da PSP promete mobilizar 600 agentes do Corpo de Intervenção, para patrulhar as principais cidades do País e zonas de maior criminalidade durante a ‘Operação Segurança Natal 2007’. No entanto, ao que o CM apurou, aquela unidade de reserva nem tantos elementos operacionais tem (o efectivo disponível para patrulhamento não ultrapassa os 500 agentes).»
Bom dia. Hoje eu obedeço ao Presidente.

«Cavaco manda fazer mais bebés»
«“Por que é que nascem tão poucas crianças? O que é preciso fazer para que nasçam mais crianças em Portugal?” Em jeito de desabafo, o Chefe de Estado frisou: “Eu não acredito que tenha desaparecido nos portugueses o entusiasmo por trazer novas vidas ao Mundo”.»
sábado, 24 de novembro de 2007
Porra, Doutor!

Foi nessa ignorante sabedoria que o autor se baseou para explicar aos seus alunos de medicina a manobra de Valsalva (realizada ao exalar forçadamente o ar contra os lábios fechados e o nariz tapado, forçando o ar em direcção ao ouvido médio se a trompa de eustáquio estiver aberta). "Uma explicação complicada, que um paciente traduziu da forma mais simples ao dizer 'quando me assoo dou um traque pelo ouvido'", contou. Mas há mais. Muito, muito mais nesta "Medicina na voz do povo". Tudo o que se segue, todas as palavras, nas frases respectivas, são tiradas do livro. Sic. Não são anedotas, é a realidade tal e qual. A arrumação é fiel ao sentido de cada uma, fidelíssima, até, mas é minha. Porque sim.

Tenho de ser operado ao stick. Já fui operado aos estículos.' O Médico mandou-me lavar a montadeira logo de manhã.' Ando com o fígado elevado.' Já o tive a 40, mas agora está mais baixo.' Fizeram-me um exame que era uma televisão a trabalhar e eu a comer papa.' O meu reumatismo é climático. Metade das minhas doenças é desfalsificação dos ossos e intendência para a tensão alta. Além das itroses tenho classificação ossal.' O pouco cálcio que tenho acumula-se na fractura.'

Fujo dos antibióticos por causa do estômago. Prefiro remédios caseiros, a aguardente queimada faz-me muito bem. Tomo um vinho que não me assobe à cabeça.' Senhor Doutor, a minha mulher tem umas almorródias que, com a sua licença, nem dá um peido.'
Não sou muito afluente de vir aos médicos. Na minha opinião sinto-me com melhores sintomas. Quando me assoo dou um traque pelo ouvido, e enquanto não puxar pelo corpo, suar, ou o caralho, o nariz não se destapa.
Choques e canalhices

Não me chocam tanto as quatro crianças mortas. Choca-me mais, muito mais, a morte do bombista suicida. A imagem dos pedaços do seu corpo voando pelo ar, postados nas pedras, nas árvores, no chão antes da ponte que ele queria rebentar e não conseguiu. Tal como todos os outros pedaços de todos os outros bombistas suicidas, agarrados às paredes de cafés, restaurantes, correios, esquadras, hospitais, autocarros, aviões, torres e escolas. Isso sim, choca-me até à medula. Porquê? Elementar, cara futura vítima.
Se uma morte assim canalha tem, seja em que circunstâncias fôr, um aliciante romântico, nobre e carismático para o canalha que a ela se propõe; se não faltam canalhas para mortes assim; se sobram outros canalhas para continuar acanalhando gente apenas injustiçada, manipulando as suas revoltas e assim ganhando seguidores da morte canalha; se tudo isto é assim, então cada pedaço de cada suicida, canalha ou injustiçado, de hoje ou de ontem, representa muitas e muitas mais crianças mortas, feridas e estropiadas, num futuro cada vez mais presente. E homens, também. E mulheres. E velhos e novos e loiros e morenos e cães e gatos e civilização e humanidade e tudo e todos espalhados e estilhaçados em pedaços de carne e sangue que escorre pelos quatro cantos deste mundo de merda. E isso sim, é chocante.
Bom dia. Hoje eu sou soldado.
Soldado português morre em patrulha nocturna em Cabul
«Um soldado português em missão no Afeganistão morreu num acidente rodoviário com um blindado durante uma patrulha nocturna nos arredores de Cabul, disse à Lusa uma fonte do Estado Maior-General das Forças Armadas (EMGFA). O soldado que morreu é Sérgio Miguel Vidal Oliveira Pedrosa e a família do militar já foi informada da situação pelo EMGFA.»