Há gente assim, com vidas que nunca mais acabam. Seres com a estranha capacidade de se reinventarem mesmo no disparate.
De renascerem sempre, após cada uma das muitas mortes que vão tendo em vida. Tolos, há outros que lhes invejam este castigo como se fora uma gracinha para entreter os amigos nas noites frias de inverno ou nas amenas cavaqueiras de verão. São os tolos quatro-estações, que por desconhecerem a primavera das ideias estão condenados ao outono da mediocridade para sempre.


quinta-feira, 22 de novembro de 2007

É o lobo, é o lobo, é o lobo!!

Triste figura a da PSP ao anunciar, em comunicado oficial ao país, que graças á sua pronta intervenção teria impedido um suícidio colectivo de um grupo de jovens de uma escola em Vale de Cambra. A mãe de um rapaz de 14 anos deu o alerta sobre os hábitos on-line do filho e dos amigos. E a PSP anunciou ter impedido um suicídio colectivo, tiro e queda. Depois das hilariantes declarações do Intendente Teles em Vila de Conde, há poucos dias, que afirmava ter impedido um assalto a um banco após ter estado três horas a encurralar um ladrão que não existia, o vasto anedotário de declarações públicas daquela força policial ficou agora mais rico com esta acção inexistente da PSP, contada a toda a gente pela própria PSP e que mereceu honras de primeira página em vários jornais. Com o Correio da Manhã, no grupo dos 'sérios', a assumir especial destaque com as parangonas «Polícia trava suicídio colectivo de jovens» que titulavam a sua edição de anteontem, cheia de pormenores sobre auto-mutilação, Orkut e conspirações escolares. Em contraste com a notícia equilibrada, profissional e rigorosa do JN, por exemplo, da autoria de João Paulo Costa. Nas rádios, em todas as rádios, só faltou saber-se a cor dos caixões dos já suicidas, que até eram muitos, parece, ouvi dizer, sei lá, dizem. E assim andou Portugal um dia de cabeça perdida com o seu massacre escolar caseirinho.

Ontem, o presidente da Câmara de Vale de Cambra, José Bastos, confirmou que o jovem de 14 anos, residente nos arredores da cidade, "não se automutilou". O autarca, que esteve reunido com a Comissão de Protecção de Crianças e Jovens (CPCJ) de Vale de Cambra, desmentiu igualmente a existência de qualquer ideia de suicídio colectivo que alegadamente estaria a ser preparado por jovens residentes no concelho. José Bastos desmentiu assim a informação da PSP de Aveiro e lamentou que a informação da PSP tenha sido tornada pública, assegurando que "o único erro do jovem foi ter consultado sites impróprios". Também o vereador da Acção Social daquela autarquia veio confirmar que o jovem «não fez nada ao seu corpo», de forma taxativa. «Ao contrário do que tem sido divulgado, não corresponde à verdade que o jovem de 14 anos tivesse praticado automutilação», declarou Manuel Augusto de Carvalho.

A gravidade do efectivamente sucedido não pode nem deve ser subestimada. Não é para graças aquilo que uma mente juvenil perturbada pode fazer consigo própria e com os outros que a rodeiam. Vemos, ouvimos e lemos que é assim nos dias de hoje. Por isso mesmo temos todos de estar muito atentos à nossa geração não rasca, para que esta nunca o venha a ser. E atentos a todos os avisos que possam soar nesta sociedade por norma distraída. Temos de estar prontos a agir na primeiríssima necessidade. Quando alguém gritar 'olha o lobo', é bom que a gente corra e salve as crianças, recolha o avô, tranque as galinhas, feche a porta e mate o bicho. Mas para isso, a condição primeira é não pôr um idiota de serviço à torre de vigia, que vai distrair toda a gente com os seus gritos minuto a minuto. Só para a gente olhar para ele.

4 comentários:

Anónimo disse...

Um alerta bem mandado, arru. Vou passar a ir mais vezes lá fora. E o cordeirinho vai ler isto quando vier da escola !!!

samuel disse...

Infelizmente é quase sempre "o idiota" que está de serviço.
E voltando à vaca fria... ser padeiro é depreciativo(!?)
Mas eu lá disse isso? A história do pai das primas que era padeiro é rigorosamente verdade, tenho imensas saudades das muitas directas que fiz naquela padaria antiga com forno de lenha e grande amassadeira de madeira (à mão ah pois!...), da idade que tinha quando as fazia. Essas noitadas em que "ajudei" o primo António a fazer o pão, que tinha que chegar para duas aldeias e meia, foram das mais divertidas e felizes da minha vida.
Quanto ao padeiro-primo-António, não posso garantir que se divertisse sempre, mas aquela era uma família feliz e ele amava o que fazia.
Devo estar a precisar de lhes fazer uma visita...

Anónimo disse...

O sanha propagandística do Governo Sócrates contamina tudo. A PSP não podia escapar.
Ridículo, para não dizer vergonhoso.

Rui Vasco Neto disse...

marquesa,
o cordeirinho anda na escola? não vai a perceptora ao chateau?

sam,
pois, pronto, ok, já percebi que foi mal entendido, tal como eu suspeitava.
mas sabes como isto é, quem não sabe pergunta...

silvio,
páre lá de falar no jogo da selecção, homem!