Há gente assim, com vidas que nunca mais acabam. Seres com a estranha capacidade de se reinventarem mesmo no disparate.
De renascerem sempre, após cada uma das muitas mortes que vão tendo em vida. Tolos, há outros que lhes invejam este castigo como se fora uma gracinha para entreter os amigos nas noites frias de inverno ou nas amenas cavaqueiras de verão. São os tolos quatro-estações, que por desconhecerem a primavera das ideias estão condenados ao outono da mediocridade para sempre.


segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Segure aí que eu já venho

A morte de uma mulher na sala de espera do Hospital Universitário de Coimbra, depois de violentamente agredida por outro utente com pontapés na barriga e pancadas na cabeça é, já de si, um episódio deprimente. Tem vários pormenores que ultrapassam em muito os limites do puro surrealismo. Como a atitude do segurança das urgências, por exemplo. No meio de toda aquela cena macaca, com um homem a fazer uma cama nas cadeiras da sala de espera e a exigir que se apagasse a televisão para ele dormir, aos gritos e a discutir com as outras pessoas, o responsável pela segurança do local não foi capaz de evitar a primeira agressão, um pontapé na barriga da senhora. E não foi capaz de evitar a segunda agressão, minutos depois, com o mesmo homem a bater com dois livros na cabeça da mesma mulher e a atirá-la para o chão. Percebe-se mal, esta incapacidade de um profissional de uma empresa de segurança privada, colocado num posto potencialmente problemático e supostamente capaz para a função. Mas onde a coisa raia o absurdo é quando já depois das duas agressões, com a mulher estendida no chão e a sala inteira aos gritos, o guarda manda a vizinha da vítima 'segurar o homem ali e não o deixar sair' que ele ia chamar a polícia.

E não é que foi mesmo?


3 comentários:

Anónimo disse...

é o país que temos ...

Pearl disse...

"Percebe-se mal, esta incapacidade de um profissional de uma empresa de segurança privada, colocado num posto potencialmente problemático e supostamente capaz para a função."
Eu percebo bem.
Em primeiro lugar, porque, de facto, a situação extrapola todos os limites da normalidade. Se o segurança deveria estar habilitado profissionalmente para estas situações? Deveria.
Em segundo lugar, porque o segurança não estava presente no momento em que o indivíduo decidiu fazer da sala de espera da urgência um local de repouso, e a acção dissuasora nesse primeiro momento poderia ter evitado o desfecho. Se deveria estar presente? Deveria. Se essa fosse a sua única função.
E percebo bem sobretudo, porque para além de saber ler e escrever e ter um registo criminal "mais ou menos" limpo, pouco mais se exige a alguém que queira trabalhar como vigilante/segurança privado. E digo-o sabendo que apesar de ser obrigatório, para o exercício da profissão, o reconhecimento pelo Ministério da Administracção Interna, que é atribuído mediante aprovação em exames escritos - cujas perguntas, por norma, são já do conhecimento dos examinandos antes da prova - com base numa formação de cerca de 30 horas em conhecimentos de sociologia e vigilância e segurança, grande parte das empresas de vigilância enquanto entidades formadoras, não investem na formação dos seus futuros quadros no que respeita ao relacionamento interpessoal, a grande lacuna destes seguranças.
E note-se que estes profissionais em algumas circunstâncias, são equiparados aos agentes de segurança pública.

Rui Vasco Neto disse...

pearl,
tudo razões para ele dispor de um walkie talkie, pelo menos, para chamar a polícia sem sair do local, não?