Começou por ser uma brincadeira entre nós dois, pai teimoso, filho igual. Ele dizia um número. Dez, por exemplo. Eu dizia quinze, ou vinte. O que ficasse mais perto ganhava. Nunca acertámos. Depois a coisa começou a ficar mais séria. A aposta engordou no sentido da teimosia. Não pode ser, dizia eu. É impossível, dizia ele. No dia em que batemos todos os recordes, desisti da indignação e levei o puto a almoçar. Quarenta e três é definitivamente uma marca invejável!! Exactamente. Quarenta e três minutos!!! É obra, em qualquer parte do mundo. Bem vindo ao call center da SATA. A sua chamada é muito importante para nós. Para português marque um. Se não é membro do clube SATA, marque dois. Para reservas marque um. A sua chamada vai ser transferida para um assistente. Por favor aguarde. Ouve-se um sinal de chamada, um toque, dois toques. Depois a mesma voz. Bem vindo ao call center da SATA. A sua chamada é muito importante para nós. Para português marque um. Se não é membro do clube SATA, marque dois. Para reservas marque um. A sua chamada vai ser transferida para um assistente. Por favor aguarde. Ouve-se um sinal de chamada, um toque, dois toques. E lá começa tudo outra vez. Quarenta e três minutos.
A razão de ser deste serviço terá seguramente raízes que ultrapassam os limites da minha imaginação. Na prática, é um exercício de mau gosto e inoperância, irritante na forma e no conteúdo, a que só não se chama incompetência porque nem sempre é de bom tom dar o nome aos bois. Sobretudo quando se lida com uma situação de monopólio para um serviço básico e essencial ao viver da população açoriana. Foi assim que eu cheguei aos quarenta e três minutos de espera. Afinal, qual era a minha alternativa? Exacto. Bem vindo ao call center da SATA.
As características de um serviço público em regime de monopólio, na óptica da salvaguarda dos direitos fundamentais da população a que se destina, estão longe das que presentemente definem os serviços da SATA. As passagens são caras, os voos são escassos e são definidos pela conveniência da própria companhia aérea e não dos passageiros que ela devia servir. Se não há passageiros para encher dois aviões, mas apenas um avião e mais uma parte de outro, pura e simplesmente deixa-se o pessoal em terra até ao próximo voo que seja rentável para a companhia. Em condições normais, vista a coisa num critério estritamente economicista, pode até ser uma medida correcta para quem gere os destinos da transportadora. Está no seu direito de não querer fazer mais um transporte. É a sua política. O passageiro só tem que se dirigir à companhia da concorrência e exercer a sua opção de escolha. Na ausência dessa alternativa, por decisão sancionada pelo governo e suportada pelo bolso do contribuinte, uma política destas não é de todo aceitável e deveria ser objecto do mais vivo protesto por parte dos utentes. Nos Açores, pelos vistos, não é o caso. Não é prática corrente. Não é de bom tom. Por isso, seja bem vindo ao call center da SATA. A sua chamada é muito importante para nós. Para português marque um. Se não é membro do clube SATA, marque dois. Para reservas marque um. A sua chamada vai ser transferida para um assistente. Por favor aguarde.
15 comentários:
Assino o protesto com letras grandes,
PRESENTE!!!!!!
Quando eu andava pela Horta como deputado regional, cheguei certa tarde ao aeroporto de Castelo Branco e pedi regresso para S.Miguel, pois tinha-o deixado em aberto, como era costume, dada a imprevisibiliadde do dia e hora a que acabavam os trabalhos da Assembleia. O rapaz que me atendeu disse que eu tinha passagem garantida para a Terceira, nesse voo que era o último do dia, mas de lá para S. Miguel ficava à consignação. Perguntei-lhe se não havia hipóteses de confirmar a continuação da viagem. Respondeu-me que não havia, de maneira nenhuma. Perguntei cinco vezes cinco (não sei se "eran las cinco de la tarde"), e cinco vezes cinco recebi a mesma resposta. Até que, feito parvo, resolvi arriscar: "E se ligar para a Terceira?" O rapaz disse logo: "Não há problema." Pegou no telefone (com ligação directa, creio eu) e disse simplesmente: "Sá Daniel, para S. Miguel." Uns instantes de pausa, e "O.K., está confirmado."
presente,
somos dois.
daniel,
é o que eu dizia: tudo na sata é transferido para um assistente enquanto os utentes assistem.
(sabes que rezo sempre por ti por teres sido político um dia, não sabes?)
Obrigado pelas orações, Rui. Se calhar por isso é que até não me correram muito mal as coisas.
Parece que não ficou registada a minha mensagem. Repito. E desculpai se a dose vai repetida também.
Eu agradeci-te, Rui, as orações. E disse que talvez tenha sido por isso que as coisas até não me correram mal.
daniel,
pois passarei a rezar também duas vezes.
qualquer deputado precisa, acredita.
a diferença em ti é que tu mereces, provavelmente...
grande abraço e esquece lá a vinhaça que eu sou mentiroso e só restou o vidro.
Eu passo metada da vida em aeroportos e aviões (infelizmente) agora mesmo estou a caminho de um voo. Ao longo destes 19 anos de vida comercial interrompidos por quatro de político, b«nunca tive um serviço de Callcenter tão eficiente como o da SATA, isso apesar das longas esperas. Viajar com qualquer a`^encia de viagens é ainda mais dificil do que voar com a SATA e o seu Call Center.
Um abraço aos dois, que vou a voo para Santa Maria.
Eu passo metada da vida em aeroportos e aviões (infelizmente) agora mesmo estou a caminho de um voo. Ao longo destes 19 anos de vida comercial interrompidos por quatro de político, b«nunca tive um serviço de Callcenter tão eficiente como o da SATA, isso apesar das longas esperas. Viajar com qualquer a`^encia de viagens é ainda mais dificil do que voar com a SATA e o seu Call Center.
Um abraço aos dois, que vou a voo para Santa Maria.
nuno,
quatro anos de político? também rezarei por ti. quatro vezes.
e boa viagem, claro.
Pois, já percebi. Essa das orações é como o vinho. Este já não existe, aquelas nunca existiram. Mas não faz mal, já não sou deputado há montes de anos. Mas o nosso amigo Nuno precisa. Oremos, irmãos.
O que faz mais falta nos Açores ainda são jornalistas à séria, que os que por cá andam todos querem ser assessores do regime.
" A auditoria ao Sector Público Empresarial dos Açores apurou que as «despesas de representação são abonadas aos administradores 14 vezes por ano, com excepção da Lotaçor em que são 12, pelo exercício de funções de representatividade, que, ocorrem, normalmente, num período de 11 meses por ano».
(...)
O TC conclui, também, que as empresas EDA (energia eléctrica) e SATA Air Açores são as que detêm maiores custos com a concessão de benefícios adicionais aos seus administradores. "
Percebido ou queres que explique? Se a guita não estica, corta-se nas telefonistas....
Caro Daniel
Agradeço as tuas preces, bem preciso, mas não para a política que essa já era. Foram 4 anos de grande dedicação, não posso voltar a impor à minha familia e às minhas empresas outros 4 que sejam.
daniel,
tens olho para a coisa, amigo.
zénónimo,
pois, se você diz.
teresa,
o nuno vai-se babar todo com esses números...
nuno,
as tuas empresas também cortam nas telefonistas?
Eu só invisto, não corto. As EPS e SAs de capitais públicos é ue cortam uns para meterem outros. na verdade, não chega a haver corte, é só costura.
Mais um smile com o olho a piscar
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