De repente foi o que foi. O português ficou destemido, inchou-lhe o peito e subiu-lhe o brio. E soltou-se-lhe a língua. Não me agarrem que é pior, segurem-me que eu vou-me a eles. Eu digo o que me apetecer e não tenho medo de ninguém. O Papa deve dar uma volta. Há muita incompetência na polícia. O governo quer meter os juizes no bolso. E agora? Querem o quê? Quantos são, hã, quantos são?
Pinto Monteiro abriu a loja e aviou logo uma saraivada séria para a mesa do canto, a do governo. Visão, tenha uma. Arrasou a lei que reduz os magistrados a funcionários públicos, opinou sobre o caso Maddie, sobre a Operação Furacão e, na passada, teve tempo sobejo para a Casa Pia. Caiu que nem ginjas, que a Asae não estava. Ainda a coisa marinava na loja quando entra em cena o Inspector Geral da Administração Interna. E que cena, meu Deus, mal deu tempo para um Expresso.
Muita intolerância e incompetência, foi o que o juiz desembargador Clemente Lima disse ter encontrado nas polícias, em dois anos de funções. E tiros a mais na GNR. O homem começou a disparar e fez sensação na loja logo às primeiras citações. "A autoridade não se defende a tiro", disse; e eu sentei-me para ouvir o resto. Que há polícias que não sabem lidar com os cidadãos. Que é preciso muito cuidado com esses agentes infiltrados que têm a mania que são da PJ e viram demasiados filmes de cowboys. Que há muita incompetência, muito mostrar de pistola e muito abuso nas nossas polícias, tudo isto dito por quem tem por missão fiscalizar as ditas. Toda a gente na loja esteve de acordo num ponto, pelo menos: este homem deve saber do que fala. E a maioria esteve de acordo com os outros todos.
Com as emoções ao rubro na política e com o futebol meio parado como assunto, agora que o Scolari avisou que não admite críticas, a loja ficou quieta por uns instantes, que o tópico que faltava não se discute por aqui. Religião não é assunto. É regra antiga da loja portuguesa, para evitar chatices. Mas eis que, para espanto de todos e alegria de muitos, entra o bispo da tropa, D. Januário Torgal Ferreira. E entra a matar, passe o termo, passo pesado e voz clara na primeira antena da rádio nacional. "A Igreja em Portugal é totalmente conservadora. Por que é que não se fala do desemprego, da violência contra as mulheres, das purgas contra as crianças, da pouca vergonha instalada na Justiça? Não tenhamos medo de dizê-lo: vejo pouca gente da Igreja a defender os direitos humanos. Há, mas pouca. A Igreja tem de dar uma volta. Também ele, o Papa, em muitas coisas deve dar uma volta."
Não se ouviu um pio na loja. D. Januário falou e disse, isto e muito mais, um rol de coisas que Maomé até poderia dizer do toucinho ou tavez não. Ninguém abriu o bico, não fosse o diabo tecê-las, mas quando o senhor bispo se calou houve alguns que se lembraram de D. Manuel Martins, ex-Bispo de Setúbal e da justiça nacional.
A malta cá na loja anda feliz, depois destes dias de animação. Tasquita habitualmente discreta e apagada, qualquer assunto deste calibre dá conversa para um mês, pelo menos, antes que a freguesia se esqueça e passe à frente. Com o Natal à porta vem o tempo das compras e dos regalos para amigos e família, que o povo pode sofrer todo o ano mas não perdoa a consoada ao perú. Este final de Novembro, em que só o sol anda tímido, ficará na memória curta da grande loja nacional como um tempo de voz grossa que até foi giro, sei lá. Três boas prendas, digo eu. Agora siga a dança mas baixinho, como dantes. Como sempre.
Pinto Monteiro abriu a loja e aviou logo uma saraivada séria para a mesa do canto, a do governo. Visão, tenha uma. Arrasou a lei que reduz os magistrados a funcionários públicos, opinou sobre o caso Maddie, sobre a Operação Furacão e, na passada, teve tempo sobejo para a Casa Pia. Caiu que nem ginjas, que a Asae não estava. Ainda a coisa marinava na loja quando entra em cena o Inspector Geral da Administração Interna. E que cena, meu Deus, mal deu tempo para um Expresso.
Muita intolerância e incompetência, foi o que o juiz desembargador Clemente Lima disse ter encontrado nas polícias, em dois anos de funções. E tiros a mais na GNR. O homem começou a disparar e fez sensação na loja logo às primeiras citações. "A autoridade não se defende a tiro", disse; e eu sentei-me para ouvir o resto. Que há polícias que não sabem lidar com os cidadãos. Que é preciso muito cuidado com esses agentes infiltrados que têm a mania que são da PJ e viram demasiados filmes de cowboys. Que há muita incompetência, muito mostrar de pistola e muito abuso nas nossas polícias, tudo isto dito por quem tem por missão fiscalizar as ditas. Toda a gente na loja esteve de acordo num ponto, pelo menos: este homem deve saber do que fala. E a maioria esteve de acordo com os outros todos.
Com as emoções ao rubro na política e com o futebol meio parado como assunto, agora que o Scolari avisou que não admite críticas, a loja ficou quieta por uns instantes, que o tópico que faltava não se discute por aqui. Religião não é assunto. É regra antiga da loja portuguesa, para evitar chatices. Mas eis que, para espanto de todos e alegria de muitos, entra o bispo da tropa, D. Januário Torgal Ferreira. E entra a matar, passe o termo, passo pesado e voz clara na primeira antena da rádio nacional. "A Igreja em Portugal é totalmente conservadora. Por que é que não se fala do desemprego, da violência contra as mulheres, das purgas contra as crianças, da pouca vergonha instalada na Justiça? Não tenhamos medo de dizê-lo: vejo pouca gente da Igreja a defender os direitos humanos. Há, mas pouca. A Igreja tem de dar uma volta. Também ele, o Papa, em muitas coisas deve dar uma volta."
Não se ouviu um pio na loja. D. Januário falou e disse, isto e muito mais, um rol de coisas que Maomé até poderia dizer do toucinho ou tavez não. Ninguém abriu o bico, não fosse o diabo tecê-las, mas quando o senhor bispo se calou houve alguns que se lembraram de D. Manuel Martins, ex-Bispo de Setúbal e da justiça nacional.
A malta cá na loja anda feliz, depois destes dias de animação. Tasquita habitualmente discreta e apagada, qualquer assunto deste calibre dá conversa para um mês, pelo menos, antes que a freguesia se esqueça e passe à frente. Com o Natal à porta vem o tempo das compras e dos regalos para amigos e família, que o povo pode sofrer todo o ano mas não perdoa a consoada ao perú. Este final de Novembro, em que só o sol anda tímido, ficará na memória curta da grande loja nacional como um tempo de voz grossa que até foi giro, sei lá. Três boas prendas, digo eu. Agora siga a dança mas baixinho, como dantes. Como sempre.
5 comentários:
Disse também D. Januário que não compreende porque é que o clero teima em viver em palácios e não os tranforma em orfanatos, bibliotecas, hospitais, enfim algo de útil.
Há uns 17 anos atrás, fui crismada por D. Januário (sim, que eu já fui uma menina de bem). E no final da cerimónia, D. Januário consegue gelar os familiares e convidados dos crismados porque teve a ousadia de pedir uma salva de palmas em plena Basiica de Mafra. Uma salva de palmas! Apesar do burburinho que isso causou, eu já na altura tive o discernimento de ver que este senhor era muito à frente do seu tempo.
E continua....
O Januário é um tonto.
A Igreja não tem coragem para o correr de vez e vai-lhe aguentando as insolências.
Mas qualquer dia a coisa rebenta, vão ver.
saci,
d.januário é da velha escola do arcebispo de graga, d.eurico dias nogueira, que dizia mais palavrões por semana que cópias vai vender o rio das flores.
quanto ao facto de já ter sido, num passado distante, uma menina de bem, estou pronto a perdoar e esquecer. hoje estou assim. foi d.januário que me inspirou.
zénónimo,
pois, se diz.
desculpa, se mal pergunte, por acaso viste por aí a oposição? Parece que desapareceu há uns tempos, tantos que já ninguém precisa dela. Pelas últimas bocas lá na loja andavam por aí dois tipos bem apessoados a discutir riscas de gravatas e qual se senta onde e para dizer o quê, mas o Ti Xico garantiu que a esses já os conhece e que pela saudinha dos netos não eram a tal de oposição coisa nenhuma.
Não sei porque me terei lembrado disto agora, mas parece que não fazem falta nenhuma que ainda ontem o Pinto e o Clemente iam aqui a descer a rua e tão satisfeitos que até há quem jure que os ouviu cantar. Era uma musiqueta qualquer com uns versos esquisitos, qualquer coisa como "se outros calam cantemos nós"... e já havia mais uns quantos a baterem o pezinho e a fazer coro. Até o Sr. Bispo dos magalas se juntou à festa e parece que não falta muito para o arraial estar montado. Não sei se é os outros senhores conseguem escolher a tempo as riscas das gravatas a usar na ocasião.
Com o Pinto pia tudo fininho, ora!
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