Há gente assim, com vidas que nunca mais acabam. Seres com a estranha capacidade de se reinventarem mesmo no disparate.
De renascerem sempre, após cada uma das muitas mortes que vão tendo em vida. Tolos, há outros que lhes invejam este castigo como se fora uma gracinha para entreter os amigos nas noites frias de inverno ou nas amenas cavaqueiras de verão. São os tolos quatro-estações, que por desconhecerem a primavera das ideias estão condenados ao outono da mediocridade para sempre.


quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Aspirina: vê!

Desde pequenino que tenho problemas com a minha grande boca. É mais com a língua, esse bicho irrequieto, não sei, com o bico, no fundo. Deu-me sempre para a pergunta, para o comentário, para a interrogação inconveniente, para abrir a boca quando aparentemente seria uma boa ocasião para a manter fechadinha e bem comportada. Pois convenhamos que foi proeza onde nunca bati recordes, esse bom comportamento.

Dias atrás, numa converseta inconsequente (querias!) com um cyberamigo, de Neto para nético, caí na esparrela de opinar sobre a sua opinião do nosso impagável ministro da saúde, mai'las suas políticas para este sector tão pouco analgésico para as dores de cabeça da Nação, esta aspirina bufa, por assim dizer. «Correia de Campos é o meu ministro favorito. Porque é o que tem a tarefa mais ingrata, aparecer como carrasco.», dizia o meu amigo. Dei em discordar, porque torna e porque deixa, mais isto e mais aquilo, pois tá bem, até, a ver se a coisa ficava por ali. Nada feito. Não ficou, que este meu amigo sabe muito e não vai em cantigas, assim às primeiras. É homem que sabe o que diz, raro fala por falar. E a casa é de respeito, dos donos às visitas. Aspirina vê, topa e chuta certeiro a suprema maldade: «Rui, pois cá te esperamos, mais aos teus remédios para a Saúde. Como sabes, não basta fazer diagnósticos, é também preciso saber receitar.» Gelei. Caíram-me, juro, espalharam-se-me cada um para seu lado. Os pensamentos, claro, uma confusão de ideias. É que não espero menos exigência nos contrapontos, mas ter que ser cozinheiro para poder opinar sobre o almoço é pedir demais, convenhamos. De repente vi-me de pasta já na pasta, ali de gravata vermelha, rosado e melífluo, tanguista e comerciante, mais um correia pelos verdes campos da esperança nacional nesse futuro de saúde mais saudável para todos que nunca mais chega. Que a esperança é a última a morrer, recorde-se.

As costas dobraram-se-me ao peso. Não da responsabilidade, qual quê. Não é lá por armarem o laço que eu tenho de me espalhar ao comprido em porquesims e talvez, assims e assados, números e citações, arautos e trombetas de tu cá tu lá com a sapiência universal. Armado em Nuno Rogeiro, por exemplo, penteados à parte, entenda-se. Verguei ao peso do desafio, isso sim. Afinal que raio se passa de facto com esta reforma que só deforma e pouco informa? Que caminho trilhamos, por que corredores andamos perdidos? Qual é o remédio para curar a saúde em Portugal? E o médico certo para todos nós, é aquele coradinho das tangas? Sim ou não? Foi-me à carteira, este meu amigo. À carteira profissional, entenda-se. Foram lá direitinhas as suas palavras. É que é certo ser obrigação do jornalista reunir o máximo de informação sobre um assunto antes de palpitar isto ou aquilo, mesmo que esteja no banho e sózinho como não era o caso. Foi assim nú e sem toalha que me senti. Não podia fazer outra coisa. Fui-me a ele. Deitei mãos ao trabalho.

Nos últimos dois dias procurei, pesquisei, questionei, vi e ouvi o possível sobre a saúde dos portugueses. De vários lados. Por vários ângulos. Tenho Correia de Campos na carola em milhares de caracteres, embora tenha feito por não olhar as fotos. Fui aos arquivos dos diários para recordar comparações, Leonor Beleza, Maria de Belém, a outra senhora, o outro senhor, uma multidão de boas intenções a marchar num compasso nunca síncrono. Encontrei até um Correia de Campos no rol dos ex da saúde, imagine-se; deve ser um primo e tão afastado como as ideias desse e deste separadas em tempos diferentes de um mesmo país. Mas sempre uma só realidade, antes, durante e depois. Pobrezinha, convenhamos. Segunda-feira à noite pus um fim à pesquisa com um brinde de oportunidade: sentei-me a papar o Prós e Contras na RTP-1, assunto saúde, com a rara oportunidade de ver e ouvir toda a gente, todos os lados, ministro incluído, médicos e autarcas, todos juntos e frente a frente com direito a protesto público em cada deslize. Vi e ouvi o irritante José Manuel Silva, o lúcido mas enrolado José Manuel Almeida, o INEM, os presidentes de Câmara, os directores clínicos, estes e aqueles e os outros que couberam em tão pouco tempo para tanto que dizer. Comparei com o que já tinha pesquisado, medi e reflecti. Com um dia dormido sobre o eco das vozes e embrulhado nos lençóis de informação assimilada, estou pronto às conclusões. Ou melhor, à conclusão, a conclusão, única possível, de resto. É a receita mágica da estratégia milagrosa que os senhores querem? Pois tenham paciência, não encontrei. Não a tenho para vos dar. Mas tenho umas pistas que talvez ajudem. E uma opinião que conta, queiram ou não, que eu também fui plantado neste à beira mar e sou dado a gorjeios, como sabem.

Não gosto do Dr. António Correia de Campos, é um facto. É um problema de patia, não sei se de 'anti' se de falta de 'em'. Não confio no Dr. António Correia de Campos, nas suas motivações ou na bondade dos seus propósitos. Não compro a humildade do Dr. António Correia de Campos, que me parece uma sinceridade socrática made in taiwan, sendo que o original já não é um autêntico por aí além. Não aceito a máxima preferida do Dr. António Correia de Campos, «A política é a arte do possível», bordão repetido como farol desta sua viagem na governação que nos pode custar a todos um naufrágio de anos das nossas vidas. Anos que não temos para perder em aventuras, ou para gastar em malabarismos de palavras e de números. Mas sei que este argumento não colhe junto de quem acha que "a Constituição é um documento idealista, e tu não a esperas ver realizada em todos os seus preceitos", ou quem entende que a saúde tendencialmente gratuita "é um fundamentalismo que, a ser respeitado na sua literalidade, rapidamente afundaria o Estado na bancarrota". Por isso há que levar "a questão para a área da gestão e da correlação com as contas a fazer entre o desejável e o possível". Vamos a isso.

O Dr. António Correia de Campos foi colocado pelo destino, por nós e pelo engenheiro Sócrates (escolham os senhores a ordem dos factores) na garupa de um cavalo bravo de montar: uma reforma inadiável no serviço nacional de saúde, estamos de acordo. A necessidade de uma reforma é inquestionável para mim, ponto um, e urgente para tresanteontem, ponto dois. E até esta reforma é melhor que nenhuma reforma, tão mal se esteve e está, ponto três e último do princípio de conversa. Esta reforma cumpre o seu propósito de deixar o país melhor servido de cuidados de saúde, entre básicos e emergências, primários e continuados, numa perspectiva de futuro próximo e mesmo com o fatal sacrifício de vidas no incontornável entretanto? Esse é o ponto quatro e de maior interrogação. Eu cá digo que não. Porquê? (Seja, valupi.) Vamos aos factos.

Todo o discurso desta reforma se perde difuso por entre pózinhos de perlimpimpim. O senhor ministro esgrime argumentos ao molho, alhos e bugalhos numa mistura fina que é um atentado grosseiro à credulidade nacional. Quer à força que confiemos no seu juizo de valor ao encerrar urgências, serviços e maternidades porque não rentáveis, mas não dá cromos novos para a troca, de valor que justifique a vantagem do negócio. Pede fé, Correia de Campos, mas não explica em quê. E o pouco que explica só complica, quando se vê bem o que implica no dia a dia da doença e da cura no viver e morrer da nação. General de pacotilha, dispõe médicos e recursos como se fossem soldadinhos de chumbo numa batalha de faz de conta. Buuum, fez em Anadia! «Sim, foi uma decisão política, e então? È proibido tomar decisões políticas?». Catrapum fez em Peniche, Gouveia, Cinfães do Douro, Faro, Régua, Vila Real, Vila Pouca de Aguiar, Chaves, Alijó, milhares e milhares de pessoas destapadas da mantinha fina que lhes tapava o frio pela rama. Em Barcelos, Amarante, Lamego, Águeda, Alcobaça, Torres Novas, Tomar, Elvas, Lagos estão os nove hospitais já a funcionar como SUB mas com urgências que já tinham, dos quarenta e dois Serviços de Urgências Básicas anunciados pelo ministro da Saúde no âmbito da reestruturação dos serviços de urgência. E apenas um, Odemira, resultou do reforço de meios em centros de saúde. O resto é tanga e mais tanga, pum, catrapum, tiros à proa e à popa, navegação à deriva e sem mapa fiável. E sem confiança, que "a política é a arte do possível", não esquecer. Hoje promete-se, planeia-se, garante-se. Amanhã não se cumpre e muda-se o rumo mas não faz mal, está tudo numa boa. Tenham paciência. A política é a arte do possível? Como político reformador, Correia de Campos é o retrato do impossível.

É com intenção saloia que o ministro atira custos de ambulâncias ultra-modernas para as horas críticas como contraponto à insatisfação popular face a um sistema de saúde que nos traz doentes a vida inteira. A escassa formação das equipas deslocadas para esses transportes, a par com o seu desconhecimento dos caminhos e atalhos, retira eficácia a uma tão preciosa valência. O mesmo chico-espertismo está bem patente no jogo de palavras permanente, no malabarismo com a 'média' e a 'mediana' das contas ministeriais, sendo que a segunda é metade da primeira, para estabelecer o tempo de espera para intervenções que não podem esperar. Bem questionada por Carlos Enes há uns dias, a Secretária de Estado da Saúde tossiu e embatucou três vezes em busca de respostas que não tinha para dar. O máximo que se conseguiu foram uns quantos sorrisos amarelos e um 'não é bem assim' que não convenceu ninguém que não quisesse já desesperadamente ser convencido. O mesmo se aplica às contas dos últimos Orçamentos para o sector, mais aldrabadas por Correia de Campos do que as saudosas contas do PIB do Engº Guterres. E vendidas à populção como peixe fresco, claro, tão verdadeiras como os sorrisos do senhor ministro.

A política de Correia de Campos é um susto de improviso permanente. Hoje há hospital em Peniche, amanhã já não há. Hoje abre-se aqui, amanhã fecha-se aqui e abre-se ali. Fez-se um plano para esta reforma que destapa os pés sempre que tenta tapar a cabeça. Médicos de clínica geral que não servem para um hospital, já dão para tapar buracos noutro hospital, como prova Aveiro até à saciedade. A reestruturação do INEM é um passo de mérito, mas as lacunas da emergência médica ficam à vista quando se escuta os homens que andam de facto no terreno e se percebe que andam às aranhas com a indefinição dos objectivos para que são suposta panaceia. E só compra como bom o exemplo do hospital de Cantanhede, que Correia de Campos faz questão de salientar estar muito melhor, despejando números de rajada, atendimentos, intervenções, tratamentos, (tantos desde Março de 2007, tantos desde Agosto de 2007, os senhores vêem, vêem como está melhor?), quem nunca bateu com o nariz na porta desse enorme hospital que nunca serviu para mais que para colocar um penso rápido, que para o resto sempre se foi a Coimbra. Por capricho? Não, porque o hospital de Cantanhede sempre foi uma piada de mau gosto, qual ministro da saúde.

António Correia de Campos é um ministro sem futuro que brinca com o nosso, fazendo experiências de governação. A chave de qualquer reforma na saúde está nas pessoas que fazem o sistema, não nos números e muito menos nos governantes, no mais das vezes. Qualquer plano, da mirambolância à exequibilidade, não dispensa o concurso das boas vontades profissionais de quem tem trabalhos que não há dinheiro que pague. Houvesse uma situação de emergência e seria ver toda a gente a dar o litro, não pelo ministro mas apesar deste ministro. Correia de Campos é a imagem de tudo aquilo que o sistema odeia, o chefe que dá gosto contrariar. Ou, se quiserem, o chefe para quem não dá gosto trabalhar, o que já não é brilhante quando falamos de médicos, uma classe de gente com mentalidade de funcionária. Habituada ao privilégio e à chantagem da competência. Moldada ao feudo que a inoperância governativa e a interminável clientela lhe foram permitindo criar. Sem o voluntarismo da classe médica e dos profissionais de saúde não há reforma possível, não há sistema que funcione. Correia de Campos nunca conseguirá cumplicidade alguma a menos que faça uma requisição civil à simpatia.

Deve então o ministro ceder aos médicos a cada ai? Claro que não. Ponham-se as coisas em termos de braço de ferro e é garantido que ninguém ganhará e todos perderemos, mais e pior. È o que está à vista, de resto. E a razão pela qual José Manuel Silva tem aquele discurso jocoso com uma impunidade que se estranha. É escandaloso o esmifranço constante da população nos consultórios dos mesmos médicos que não resolvem no público e gratuito o que curam no privado e caro. Mas nada disso se afigura em mudança nesta ou em outra reforma. Nem sequer passam por aí as aspirações do Campos, coitado. Ele é apenas um político com aspirações a tempo de gabinete, não a um lugar na História para o qual sabe não ter cú. Por isso e por falta de jeito não se lançou às feras com mão de domador. Não apelou à inteligência, à cumplicidade, ao amor, ao brio, à solidariedade, ao serviço público de todos aqueles que fazem o serviço nacional de saúde. Não veio para a praça transferir a responsabilidade da inoperância para os inoperantes, tirar máscaras e impor rectificações assinando com a voz do povo. Nada disso. Vestiu a casaca do iluminado e pôs aquela gravatinha vermelha que lhe disseram ser sinal de poder e autoridade à luz dos sinais de comunicação. Colocou duas palas, uma de cada lado, e fez-se à estrada do disparate montado na asneira de uma reforma que não vai conseguir rolar com os pneus vazios como tem. È e será boicotado pela esquerda, pela direita, por baixo e até por cima, de onde virá mais tarde ou mais cedo a guia de marcha merecida aos palermas. Mesmo aos palermas úteis.

Sou assumidamente a favor de um serviço de saúde universal e gratuito, que não levará à bancarrota Estado algum que, ao fazer a gestão dos impostos pagos pelos seus cidadãos, ponha a segurança social do povo à frente do esbanjamento despesista da sua classe política em privilégios pessoais ou de classe. O respeito e a obediência são filhos do exemplo da contenção. Sou contra a permanência em funções de ministros mentirosos ou manipuladores, cheios de meias verdades e meias mentiras nos discursos com que nos embalam enquanto empocham o nosso dinheiro e bebem o nosso sangue em cálices de cristal (sendo que neste particular terei de ser algo flexível, ou nunca terei um ministro em funções). Sou assumidamente contra António Correia de Campos porque o vejo sem norte, sem plano, sem bondade, sem clarividência, sem humildade (que não a de plástico que tanto tocou o meu amigo valupi) sem dignidade e sem aliados de peso nesta guerra que não se ganha sem ser no colectivo. Porque lhe escuto mentiras descaradas e vejo nas poucas verdades que diz a intenção de uma mentira ainda maior. Nem que seja pela sua flagrante incapacidade de comunicar e comprovar competência, eu despedia-o já, hoje mesmo, ontem se possível. A política é a arte do possível, será certo. Mas a História è escrita pelos governantes que apontam ao impossível para conseguirem o melhor. E que pelo caminho desprezam as vantagens pessoais ou políticas que as suas escolhas possam gerar. Este homem é politicamente guloso e ministerialmente medíocre para mandar na saúde do meu país. Corram com ele.

24 comentários:

Ângela disse...

Rui,
já disse vezes sem conta que gostava muito de ter um décimo da tua genialidade.
Nunca to tinha dito.
Hoje é o dia.
PARABÉNS!

Anónimo disse...

Estes lençóis fazem-me dores de cabeça, resistentes à aspirina.
Por isso, não li e não gostei.

Rui Vasco Neto disse...

lita,
eh, pá!
gadinho.

coisónimo,
pois faz muito bem.
se eu pedir desculpa, posso comer sobremesa?

Anónimo disse...

Eu tambem não gosto nada destes lençóis. Basta-me um saco cama pequenino, com uma ideia ou duas, o máximo que aguento.
Morre-se estúpida mas vive-se feliz como os tontos. E com sorte chega-se a ministro da saúde.

samuel disse...

Porra, amigo!...
Os tais amigos que se tratam a "aspirina" estão já à procura das ampolas da morfina...
Juro que li tudo até ao fim, mas nunca é demais lembrar que há mais não sei quantos ministros e um senhor presidente do conselho... vá, vá... mãos ao trabalho!...
Se puder ser "a la carte" posso pedir a Ministra da Cultura em primeiros?
Rematando... parabéns!

Anónimo disse...

Rui,

ainda não jantei. Em vez disso, trago no bucho uma reunião sobre o tema da indisciplina na escola, acabei de fazer 60 piscinas e juro que li o texto até ao fim. E mais: vou relê-lo. Não hoje mas, sim, com o vagar e ócio com que gosto de saborear as coisas boas.
É um texto absolutamente brilhante! Estou convencida que esse "imperador da língua portuguesa", que foi António Vieira, no dizer de Pessoa, não conseguiria "docere, delectare et movere" melhor.
Mesmo pondo a hipótese académica de alguém não concordar com o teu ponto de vista, não creio que seja possível não reconhecer o brilhantismo da dialéctica e da retórica e o pujante trabalho de articulação e de lógica que ambas requerem. A menos que sofra de dor de cotovelo, mas aí não há remédio que o salve.
Em suma: brilhante, Vasquinho, brilhante! Ou, mais queirosianamente falando, de apetite, menino, de apetite!

P.S. Esses canais de televisão andam cegos!
Autorizas-me a utilizar este texto( com a devida salvaguarda dos direitos de autor, claro) para o "trabalhar" com os meus alunos?

Anónimo disse...

Já te respondo, dear..... até quanto ao Hospital de Cantanhede ser uma piada de mau gosto.....

Teresa disse...

mifá,

Queirosiano. Sem dúvida.Mas lá por as Cartas de Londres ainda hoje fazerem as minhas delicias, isso não implica que o homem tenha sido um político de excelência de quem ainda hoje se recordam as reformas. AS letras sim, as reformas sociais de certeza que não.
Gosto do gato e do que ele escreve, mas ele próprio é o político por excelência - fala bem, escreve ainda melhor, mas ainda não vi obra feita.
O João Pedro George escreveu um livro com um título fabuloso - "É tão fácil dizer mal"..... - sim, o JPG é um crítico literário, mas lá sabe o que diz.

Anónimo disse...

Tanta palha para dizer nada?

Anónimo disse...

Meu caro Rui Vasco Neto:
Sou visita habitual deste seu espaço e várias vezes li aqui bons textos seus. Bastas vezes lhe dei razão, outras discordei de si. Nunca deixei de reconhecer a qualidade dos seus artigos num caso ou no outro.
Hoje não importa se estou ou não de acordo consigo, este é um texto brilhante em qualquer dos casos e do melhor que tenho lido no jornalismo do nosso país. Dou-lhe os meus parabéns sinceros e fico à espera de mais.

Anónimo disse...

Ernesta,

Então, se se delicia com As Cartas de Inglaterra, sugiro-lhe, caso não conheça (é muito pouco conhecida, a obra) O Conde D`Abranhos.
Eça não foi um político por excelência? Permita-me discordar:então não é política (e da melhor)fazer sátira de costumes? Chafurdar, com luva de pele, na estrumeira social? E n`Os Maias ( para citar,apenas, uma das suas obras ) não estão lá todas as chagas sociais, desde os gouvarinhos aos palmas cavalões, passando pelos cohens? Se quer dizer que o cônsul Eça de Queiroz ( eu insisto no"z" ) não ficou na história como político, tudo bem. Concordo a duzentos por cento. Mas o reformador social, pela pena do escritor, ah, esse ficou e ficou bem ( em quantidade, em qualidade e, sobretudo, em profundidade ).Tomara que os nossos melhores políticos fizessem tanta reforma social como Eça fez.E faz.
E isto já para não falar no dandismo, na elegância, no glamour( também pode ser masculino, não acha?)do nosso amigo.


P:S.nº1 : desde miúda, via o meu avô referir-se às Cartas de Inglaterra com o mais regalado sorriso anti-saxónico.É que ele nunca foi nas lérias dos nossos aliados.

P.S.nº2 : também acho que o nosso Rui devia ser menos diletante e arrasar os palma cavalão que pejam a nossa comunicação social. Mas, de maneira a que eles sintam a bofetada. Sem a luva.

Anónimo disse...

Uma análise de arrasar. Parabéns.

Teresa disse...

Mifá,

Eu quero uma política para a saúde e alguém que a saiba aplicar no terreno, não quero um Eça de Queiroz a deliciar-me com análises fabulosas e cofianços de bigode. O Eça era um político sim, mas por muito me que agradem os seus escritos - e conheço o Conde de Abranhos e sou fã do Eça - ele é um pouco do nosso Portugal - muita parra, pouca uva. Sem dúvida que o Eça nos deixou obras que ainda hoje leio como se hoje escritas tivessem sido, mas inda assim prefiro que tivesse sido o marquês de todos os pecados a reconstruir Lisboa.
Letras redondas e palavras bonitas não são fáceis de escrever com a genialidade com que o Rui o faz, mas tiro-lhe o chapéu pela arte e o tapete pela vacuidade. Ele foi, aqui, o político por excelência - disse o que queriamos ouvir de uma forma que encanta de bonita que é e dando aparência de certo ao conteúdo por certíssima estar a forma.
Gosto do Rui e gosto de ler o Rui, mas se Lisboa ardesse queria lá o Marquês e se os hospitais fechassem preferia que fosse por ordem do Correia de Campos.

Anónimo disse...

Ernesta,

em suma, " em tempo de guerra, não se limpam armas ".
Compreendo a sua perspectiva e concordo com ela. Porém, não deixo de estar convicta de que as verdadeiras reformas, as autênticas se fazem pela mudança de mentalidade. Não têm, como arautos, todas as revoluções, as penas de escritores, filósofos, pensadores...?!
É moroso, pois claro e, nem sempre, a urgência e as "urgências" se compadecem com as delongas.
Lá porque a cabeça trabalha, não precisam as mãos de estar paradas.
E, se reparar no meu p.s.nº 2, lá está o remoque ao diletantismo do Rui.Também acho que ele tem a capacidade e, consequentemente, o dever social de intervir de forma mais activa.Mas, já chega de o pôr na berlinda. Afinal, se ele, agora, descansar um pouco, até que o merece! Não lhe sobressaltemos o descanso do guerreiro. Além disso, ele tratou-nos tão bem da última vez : prometeu-nos chá e bolo e scones... Verdade seja que ainda não vi nada. Mas,enfim,tenhamos fé de que seja menos teórico, como anfitrião do que é na prosa.
Quanto ao Marquês, assegure-se de que não está nenhum Távora por perto, quando falar dele.
Há anos, num então liceu de Lisboa, coube-me na rifa dos alunos um do clã. Quando me aborrecia, dizia-lhe "olha que te obrigo a passar no Marquês!...". Sorria. Não sei se por ignorar as implicações da provocação, se por eu o dizer meio a sério, meio a brincar.

Anónimo disse...

Rui, só agora reparei na ilustração.
Estás duplamente blasfemo, homem!

Teresa disse...

Está a ver Mifá que eu tenho razão? É que de scones e chá eu ainda só li promessas...
Estou a ler de esguelha que tenho um jantar para fazer, mas "descanso do guerreiro"?? Ora ora, Mifá, depois de uns tempos no paraíso, descansado deve estar ele. Agora é tempo de vergar a mola, ou dobrar a verga ou qualquer outra coisa menos bocagiana e mais pombalina.
Quanto aos Távoras acho que estavam com aqueles outros da companhia de jesus, não era?
Já falamos, as costeletas de novilho esperam-me....

Anónimo disse...

Ernesta,
o desejo de bom apetite deve ser extemporâneo, por isso, boa digestão.
Quanto ao Rui, bem... é melhor contermo-nos não vá ele, para além de se ter arrependido da oferta do chá e dos scones, expulsar-nos da casa de chá.
..................................
..................................
Pois é, efectivamente, os Távora estavam em má companhia!...

Teresa disse...

Mifá,

Tasca que se quer Michelin não expulsa freguesas como nós e o Rui, como já disse, tem bom olho. Estamos de pedra e cal.

Anónimo disse...

Ai, Ernesta, eu não estaria assim tão segura!
Veja mais adiante,sff.

Rui Vasco Neto disse...

meus senhores,
obrigado a todos pelas palavras de cada um.
sem ironia e com toda a sinceridade.

Teresa disse...

Ai Mifá, eu bem lhe digo que tudo o que é mau faz bem. Estivesse eu mais treinada em jogos de vídeo e conseguia responder por todos os lados...
Mas não se preocupe que eu, pelo menos, sou pior que araldite.

Anónimo disse...

Angela,

Vê-se logo que andaste pelos direitos, porque contas não é contigo. Quinze anos? Há quinze anos atrás inda eu nem sabia ler...

(bom rev(l)er-te)

Anónimo disse...

Estava eu a pôr a leitura em dia no Aspirina... vim cá parar.

O problema da medicina em Portugal está no número de médicos – não chegam!

E estão mal distribuídos. Isto é, poucos querem ir para outras cidades que não Lisboa, Porto ou Coimbra devido às valências que nestas 3 cidades podem obter.
Daí termos cada vez mais médicos espanhóis.

Sendo que a previsão é para piorar – daqui a dez, quinze anos teremos um défice de médicos ainda maior, pois o número actual de estudantes em medicina é inferior ao número que será necessário para responder às necessidades futuras.

Provavelmente será necessário perceber porque é que, conhecendo esta situação, a média para medicina continua em 18 (se é que já não subiu!). Sim, porque o que pode provar que um estudante será um bom médico não é, com certeza, a média que obteve no 12ºano.

Para lá das aparências, quem é o carrasco?

Anónimo disse...

Este texto é um dos raros casos em que a democracia não deveria existir no acrescento dos comentários! Todo ele é, em si, o texto e o comentário!
FABULOSO!
MUITOS PARABÉNS ao autor!