Há gente assim, com vidas que nunca mais acabam. Seres com a estranha capacidade de se reinventarem mesmo no disparate.
De renascerem sempre, após cada uma das muitas mortes que vão tendo em vida. Tolos, há outros que lhes invejam este castigo como se fora uma gracinha para entreter os amigos nas noites frias de inverno ou nas amenas cavaqueiras de verão. São os tolos quatro-estações, que por desconhecerem a primavera das ideias estão condenados ao outono da mediocridade para sempre.


domingo, 18 de novembro de 2007

Também quero ser adoptado e a minha mãe deixa

(SOL,17Nov)
«Mãe biológica concorda com adopção da filha por Jolie»

16 comentários:

Anónimo disse...

pois ... outra vez ? já não foi ?

Rui Vasco Neto disse...

bayer,
cá nada... estou para aqui numa solidão nada jolie, pobre de mim, triste, desgraçado, infeliz..
(todas as contribuições cash para aliviar a minha tristeza devem ser depositadas na conta 7657917GHT65 do BCP, antes da fusão, de preferência)

samuel disse...

Daydream
I fell asleep beneath the flowers
For a couple of hours
On a beautiful day
Daydream
I dream of you and meet the flowers
For a couple of hours
Such a beautiful day

samuel disse...

E depois? Se fosse transgénica não concordava?
Isto Brad aos céus!

Anónimo disse...

Não sei porquê, mas lembrei-me da história do Rei Salomão.
Se eu tivesse peitos secos de leite, casa vazia, sete crianças a chorar com fome e na frente um imenso horizonte onde não está escrito amanhã nenhum, também concordava, pois claro. Leve leve, que sou uma mãe africana e nem fico rebentada por dentro, já estamos habituadas a isso e sempre é melhor ir com uma Jolie que até parece jolie que um leão o leve ou a sida o coma.

Dei por mim a pensar que África sempre gostou das estrelas de Hollywood. Uma grande história de amor em écran gigante? África, concerteza. As Neves do Kilimanjaro, A Rainha Africana, Mogambo, As Minas do Rei Salomão... Tarzan,... e, claro, Cleópatra, Casablanca, Out of Africa,o Fiel Jardineiro e tantos tantos outros. Com a devida concordância África tem vindo a dar lustro ao glamour de Hollywood. Cenários de sonho porque de sonhos se trata, diamantes para brilharem nos colos níveos em noite de estreia, ouro para os anéis de noivado, esmeraldas iguazinhas à cor dos olhos e peles sumptuosas para cobrirem as sedas.
E África continua perdulária neste tempo do politicamente correcto. Vão-se as peles, mas ficam as criançinhas nos mesmos braços e nas mesmas fotografias fashion das revistas do costume. E nós, todos nós, olhamos deslumbrados para o menino lindo no colo da Jolie da mesma forma que olhavamos para os diamantes da Marilyn, as esmeraldas da Taylor e os beijos com girafas ao fundo da Streep. Tudo devidamente autorizado, pois claro!

Rui Vasco Neto disse...

sam,
helter skeltzer para ti também.

teresa,

teresa, teresa...
Bem escrito. Muito bem, mesmo. Hábil junção de palavras, excelente condução de emoções pelos carris que lhe serpenteiam o raciocínio. Atrevo-me a adivinhar-lhe um bom mestre, ou vários, quem sabe. Seja como for parabéns: um olho menos clínico deixar-se-ia seguir no embalo da música e tomaria a letra por perfeita sem notar fissuras.

África & Hollywood, casamento perfeito, claro. Estou de acordo, como não estar? Estou até capaz de lhe acrescentar ao argumento mais informação: sabia que os 'safaris de estrelas' foram prática corrente na fábricadesonhoswood? É verdade. O glamour cobrava-se ao percurso, uns tantos milhares de dólares para ir com Clark Gable ao Quénia caçar marfim. E é essa a sua questão?

Peitos secos de leite, casa vazia, sete crianças a chorar com fome e na frente um imenso horizonte onde não está escrito amanhã nenhum é uma realidade com lugar cativo na África dos sonhos priveligiados de alguns há séculos. E um cartaz turístico da solidariedade, também, que a miséria só é miserável para os pobres, para os ricos é típica. Para e por África dos peitos secos fizeram-se festivais rock, exposições mundiais de pintura, campanhas de peditórios mil e ainda agora, há semanas, uma nova campanha publicitária de incrível qualidade sobre a relatividade do custo de bens essenciais como uma carteira de pele ou uma cerveja e sacas de milho ou remédios. É esta a sua questão?

Nós, todos nós, olhamos deslumbrados para o menino lindo no colo da Jolie da mesma forma que olhavamos para os diamantes da Marilyn, as esmeraldas da Taylor e os beijos com girafas ao fundo da Streep. É certo. É tudo virtual, longínquo e indolor. Quase tão distante como o hálito de George Bush. Tudo espectáculo, se quiser. Aceito. Excepto para uma pessoa, uma só. O puto ranhoso no colo da Jolie. Ranhoso, só ranhoso. E essa sim, é a questão, habilidosa Teresa. Porque antes ele seria apenas, como você mesma diz e muito bem, mais um que o leão levasse ou a sida comesse.

Para o seu texto, belíssimo texto, pouca diferença faria na essência. Sobraria emoção na mesma, teria igual base tudo o que diz. Mas para ele, meu Deus, para o puto da ranhosa questão é tudo tão diferente, mas tão diferente, que de ranhoso passou a menino lindo e deslumbrante por obra e graça das suas palavras.

Anónimo disse...

E se fosse uma das minhas filhas? Estaria menos ranhosa e mais deslumbrante ao colo da Jolie? Tenho a certeza que sim. Por onde passa o fio que separa o ranho ranho do não tão ranho assim?

Rui Vasco Neto disse...

teresa, teresa..
vá lá!
espero mais e melhor de si, depois de ler o que li.

Anónimo disse...

Teresa,

Para a sua pergunta "por onde passa o fio...?" parece-me que a resposta é, óbviamente:-pelos adultos.

Não me parece que a diferença se situe na "criança" mas sim no "colo" que a segura!

Alguma vez contribuiu para que uma criança mudasse (ou ganhasse o primeiro) "colo" e as "peles" ficassem?

A resposta em nada mudará o "ranho das suas filhas" mas nela, a Teresa, poderá encontrar-se mais ou menos "jolie".

Anónimo disse...

Gato e Anónimo/a,
Lembram-se de um sargento rosadinho, não tão fotogénico como a Jolie, que também se vooluntariou para dar um colo com a devida autorização da mãe da criança? Pois foi, muita tinta correu depois disso a discutir colos, crianças, pais, mães e quartos com peluches ou casas de banho no quintal. Se bem me recordo o tão discutido interesse da criança não passava, nem pode passar, pela qualidade do pano que cobre o colo que a segura.
Volto a dizer, as minhas filhas também ficavam mais deslumbrantes e menos ranhosas num colo estrelado, mas isso justifica o quê? Quem perdoaria o meu concordo se as deixasse ir para ficarem melhor na fotografia? No entanto, tenho a certeza que a minha decisão teria sido muito mais livre que a da mãe dessa menina. Teria uma razão fútil? De acordo. Este concordo terá sido por uma questão de sobrevivência? Infelizmente, deve ter sido. Digam-me, o grande gesto, a profunda beleza do acto, o enorme sacrifício feito por aquela criança estará do lado de quem a deu ou do lado de quem a recebeu e sorridente posa com ela? Claro que na película, para a posteridade e para o exemplo a seguir, fica melhor a beleza do colo que o drama da mãe. E sempre leva uns anónimos deste mundo a querem sentir-se nobremente jolies.
A decisão de entregar um filho, seja a quem fôr, deve ser das mais terríveis de tomar e parece-me demasiado obsceno este "concorda" da notícia. Pois senhores, não há-de concordar? A outra mãe, a tal do Salomão, percebeu bem onde passava o fio e, pelo que rezam as crónicas, devia ser bem afiado. Não sei, mas algo me diz, que deve ser o afiado do fio que faz estas mães concordarem tão depressa.
A pergunta, rvn, é como se pode decidir entre dois males.
A pergunta é como se pode estar sorridente e a segurar ao colo uma criança porque a mãe "autorizou" que fosse adoptada.
A pergunta é como é que podemos olhar para aquela fotografia sem corarmos de vergonha.
Sim, seguramente que a vida daquela criança, aquela, a do colo da Jolie, mudou. Mudou a vida, mudou a mãe, mudou a língua, mudou o sítio, mudaram os laços. Mas mudou para melhor, não se aflijam, que a jolie é generosa e boa pessoa. Podia, mas quem sou eu para sugerir isto, era não se cansar tanto, porque estou certa que, se descesse a rua, encontraria várias crianças que não lhe recusariam o colo. E já agora, rvn ajude-me, quantas sacas de milho ou remédios se podem comprar com o dinheiro de uma viagem intercontinental em primeira classe? E as sacas de milho, também dão bons bonecos para a fotografia?
Continuo a achar que Hollywood e África é a combinação perfeita – todas as estrelas precisam da noite para brilhar e a noite, assim iluminada, fica muito mais bonita.

Rui Vasco Neto disse...

teresa,
fiz bem, como se pode ver pela nova prosa, em esperar mais e melhor de si. foi exactamente o que obtive. muito mais e infinitamente melhor.
li e vou ler mais. levanta questões que têm a pertinência das coisas evidentes e incontornáveis. serão lados de uma mesma questão, mas devem ser pensados com tempo e cabeça. é o que vou fazer.

deixo apenas uma concordância imediata e sem discussão: «Digam-me, o grande gesto, a profunda beleza do acto, o enorme sacrifício feito por aquela criança estará do lado de quem a deu ou do lado de quem a recebeu e sorridente posa com ela?» Sem dúvida de quem não está nem nunca estará nesta ou em qualquer outra fotografia. Sem dúvida nenhuma.

Anónimo disse...

Teresa,

Consigo perceber a beleza do seu discurso e do seu pensamento!

Consigo perceber a sua preocupação com as mães "salomão"!

Porém....infelizmente, há mães que nada autorizam, nada sacrificam, nada autorizam porque nada têm de seu.... nem berço, nem colo nem herança....

Pariram, sem nunca ser mães!
Lamentavelmente....

Creia-me.....

Um beijo

Rui Vasco Neto disse...

A decisão de entregar um filho, seja a quem fôr, deve ser das mais terríveis de tomar e parece-me demasiado obsceno este "concorda" da notícia. Pois senhores, não há-de concordar? Se sempre levar uns anónimos deste mundo a querem sentir-se nobremente jolies, será razão suficiente para a chacina do coração de mãe.
A pergunta é como é que podemos olhar para aquela fotografia sem corarmos de vergonha. A resposta é: de uma única maneira, alinhando na única parada que vai a passar para ver se ela ao menos reduz um pelo à cabeleira de escândalo universal deste assunto. Há outra maneira, claro. Ir para o terreno e ajudar lá, no local, dar tudo de nós áqueles outros. Você, está disposta a ir? E se estiver, vai mesmo? Quando?

É um mundo cão este nosso, teresa. Compreendo o que disse e entendo o que quis dizer. E quando o acordo é assim, sobra pouco para discutir.
Volte sempre.

Anónimo disse...

Anónimo/a,

Obrigada pela simpatia.

Sabe, tenho para mim que mãe não é um qualificativo de pessoa nem implica uma transcendencia em relação ao resto dos mortais. Assim, há tantas mães e com tantas vidas como as pessoas que elas são.

O que tenho posto em causa nesta notícia e nesta fotografia é a bondade que lhe tem servido de legenda. Venham com os velhos chavões de que quem salva um homem salva a humanidade, que é uma chamada de atenção para o drama africano, que até a ONU lhes dá o pomposo titulo de embaixadoras de boa-vontade, que me custa muito, mas muito, a comprar todo este amor ao próximo.

(rvn, a si já lhe respondo, que eu volto)

Rui Vasco Neto disse...

teresa,
grato pelo tratamento diferenciado. sabe sempre bem, lenine que se lixe com o contrário.

Anónimo disse...

RVN e Teresa

Há parideiras que nem conhecem os anónimos, nem as "jolies"!

Apenas a "carga" que eles pariram e da qual se querem livrar.

Cruel demais? Sei que sim! Pareço-o, de facto....

A propósito da história do sargento, lembrei-me de uma outra....daquela miúda (creio que da Covoada) a quem a mãe descarregou, à nascença, nos braços da madrinha...

Veio o rendimento minímo e, a mãe "lambeu-se" toda e tratou de arregaçar as mangas e lembrar-se que era mãe.
Com a ajuda de um juíz fabricou-se um colo (legal)!

Chorando, em vão, a menina saltou do colo/colo da madrinha....para o colo (legal, pois claro) da "mãe".

Poucos dias depois (creio que não mais que dois) a criança deu entrada no hospital morta à pancada!

O colo legal materno não aguentou com os incomodos do seu choro de criança! Desfez-se dele...arremessando-o contra a parede...calando-o de vez na penumbra da morte!

Até hoje o colo/colo (natural e não legal), da madrinha, ainda chora de saudades e o juíz continua fabricando sentenças, todas elas legais (naturais de preferência) e atoladas de papéis e burocracias que impedem as "jolies" de descer a uma rua qualquer e abrir, o seu colo, na primeira esquina orfã!

Adoraria ser apenas uma anónima com pretensões a jolie....se daí resultasse a falsidade desta "história".

Lamentavelmente...não posso.

É tarde demais....

Um beijo aos dois