
E assim aconteceu, que o que tem que ser tem muita força, como é sabido. O processo de selecção dos bens até foi rápido, fez-se num instante e levou à apreensão de um televisor, uma pequena aparelhagem, um leitor de DVD e uma consola de jogos "playstation". Quatro aparelhitos, tudo o que havia. Todos considerados em "razoável estado de conservação", reza o auto da diligência. Mas houve um mas, uma pícula discrepância: é que o valor que foi atribuído a cada um dos objectos, uns modestos 100 euros cada, não chegou para cobrir o valor total da multa, aliás não chegou nem para tapar metade, sequer, para dizer a verdade. Ficaram a faltar 504,48 euros, para já, fora as alcavalas a juntar. Mas então pergunto eu: porquê só penhorar aquelas quatro coisitas? Com uma penhora pelas portas adentro, como diacho se salvou a mobília do Zé, o frigorífico, a mesa, os tachos e o fogão, o sofá da sala, sei lá? Sim, como, porquê?
Simples. Elementar, meu caro Watson. É que o Zé encontra-se neste momento a desfrutar da hospedagem do Estado português, a convite, com direito a cama, mesa e pijama lavado nas instalações da Cadeia de Custóias, em Matosinhos. Isso mesmo, está de cana o nosso Zé. É preso preventivo, no mesmo exacto local onde o executor da penhora foi buscar a TV, a aparelhagem, o DVD e a Playstation, perante o olhar embasbacado do sub-chefe do estabelecimento prisional de Custóias, que teve que autorizar a introdução do funcionário judicial na cela do detido. De resto, foi buscá-los mas não os trouxe, já que os objectos, apesar de penhorados, não chegaram a ser retirados ao executado, que continua, pelo menos para já, a poder utilizá-los. O Zé ficou assim como "fiel depositário" dos aparelhos, já que a lei lhe permite pagar a multa, o que levantaria a penhora. O que não pode é retirar as coisas do local onde estão, nem proceder à sua venda, recomenda o tribunal. O que também se compreende. Afinal, o nosso Zé é um dos presos preventivos no âmbito do processo relativo ao chamado "gang das carrinhas", um grupo de treze indivíduos acusados de se dedicarem a assaltos à mão armada a carrinhas de transporte de valores e ao roubo de automóveis de gama alta pelo método "carjacking". Gente boa, no fundo.
O caso está neste momento em julgamento na 3ª Vara do Tribunal de S. João Novo, no Porto, com a audição de várias testemunhas de acusação. E está longe de um desfecho, é cedo ainda para saber se o Zé vai manter a sua actual condição de pensão completa como castigo pelo seu curriculo de violência e roubo. Porque lá ver que o crime não compensa, isso ele já viu, decerto, agora que esteve a braços com esta dura ameaça de penhora na cela por delito aquático. Uma maroteira que lhe pode vir a custar o seu televisor, o rádio, o DVD, que diabo, a sua Playstation, horror supremo! Ponham-se por isso os olhos no Zé, que nem estando preso escapou ao longo braço da Lei. Aliás, nem foi preciso o braço, aqui; bastou uma mãozinha, mesmo encolhida, mas que procurou no sítio certo. Nos bolsos de dentro, quem diria.
2 comentários:
Porra!
Não há direito que tenham feito tal coisa a esse benfeitor da humanidade.
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