Hoje, para mim, Daniel de Sá escancara a alma, abrindo uma nesga da porta dos fundos. «Meu caro Rui: Não sei se isto é um poema. Visto, pelo menos parece; lido, desconfio. Mas não tenhas pena. Apesar do dito, era a casa mais concorrida de Santana, em Santa Maria.» Eu, caladinho, só publico. Nem um pio.
Em baixo: "A Casa".
Sete vidas mais uma: Daniel de Sá.
Chamávamos-lhe casa.
Era feita de buracos, pedras negras e telhas.
O vento e a chuva vigilavam o nosso sono,
mais um Menino Jesus nuzinho,
só com um retalho
de fita dourada ao pescoço
como faixa de campeão.
Meu Pai pusera-o de guarda
debaixo de uma trave que desistira
de segurar o tecto.
Partira-se de velha e de cansaço.
"Ele que a aguente se não quiser levar com ela na cabeça",
disse meu Pai, passando procuração
sem notário nem papel selado.
O Menino Jesus nunca levou
com a trave na cabeça.
Nem nenhum de nós.
Talvez porque Ele fosse nosso irmão.
3 comentários:
Oh Daniel,ilustra, e bem, ser bem verdade que o bom humor tem sempre inspiração divina.
E sabes que mais? Andei a ler posts abaixo e posts acima e estou como como tu: bardamerda I, II e III, sim senhor!
Escusava era de resolvel largar este comentário merdoso aqui no post do (efectivamente) poema, sobre o qual não digo nem uma palavra, que é para não estragar...
Digo eu, amiga Maya e amigo Samuel: vocês teriam gostado da passagem do ano na nossa casa, com cantigas ao Menino e bailhos furados toda a noite, apesar de o espaçoo ser demasiado apertado.
Um par de abraços.
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