Há gente assim, com vidas que nunca mais acabam. Seres com a estranha capacidade de se reinventarem mesmo no disparate.
De renascerem sempre, após cada uma das muitas mortes que vão tendo em vida. Tolos, há outros que lhes invejam este castigo como se fora uma gracinha para entreter os amigos nas noites frias de inverno ou nas amenas cavaqueiras de verão. São os tolos quatro-estações, que por desconhecerem a primavera das ideias estão condenados ao outono da mediocridade para sempre.


segunda-feira, 14 de abril de 2008

O meu herói

Ontem dei por mim embasbacado frente ao televisor, o queixo caído e a cara de parvo do saloio que conhece a sua primeira escadaria rolante. Vi com os meus olhos, ninguém me contou. Por via das dúvidas, não estivessem os meus sentidos baralhados e a tentar uma qualquer partida de gosto duvidoso, vi a mesma reportagem três vezes seguidas, não uma, não duas mas sim três vezes, para assim poder saborear o double check de cada novo e surpreendente pormenor deste delicioso flagrante da vida real: a história de Buster Martin, o novo herói da minha vida. Vamos aos factos.

Mr.Martin foi um dos participantes da maratona de Londres, que ontem conheceu a sua 28ª edição. Recorde-se que a maratona de Londres é uma corrida de rua disputada na distância de 42.195m, sempre no mês de Abril, por milhares de atletas, profissionais e amadores, desde 1981. Além de ser uma das cinco mais importantes maratonas do mundo, também é a grande celebração anual desportiva da cidade, transmitida ao vivo pela televisão para diversos países. Para se ter uma ideia da determinação de Mr.Martin, à guisa de preparação para esta prova, Buster correu no mês passado uma meia maratona que conseguiu concluir em cinco horas e treze minutos, um tempo que o próprio considerou 'algo excessivo', justificado porém pelas várias paragens que teve de efectuar pelo caminho. Paragens para quê? Para beber um pint de cerveja e fumar um cigarrinho, duas componentes obrigatórias da actividade desportiva deste inglês de...101 anos.

Exactamente, cento e um anos, por extenso para não haver dúvidas, é a idade deste homem que é o mais velho de sempre a correr a maratona londrina (ou qualquer outra, tanto quanto se saiba). Aos cento e um anos de idade, Buster Martin é uma figura ímpar no desporto ou fora dele. Só vendo, que contado não se acredita, este falso-velho inglês que corre e pratica boxe, come, bebe e fuma como um adolescente. E que apresenta uma forma e uma lucidez absolutamente invejáveis, no físico e no discurso. Que me fazem sentir velho, velho, velho.

Eu próprio, desportista de méritos reconhecidos (embora não medalhados, ainda) nas modalidades de 'faca&garfo' e 'wine tasting' (tri-campeão estadual com aspirações olímpicas) confesso que fiquei absolutamente deslumbrado com esta figura fascinante. Um exemplo de vida que, sinceramente e sem ironia, me envergonha na comparação. Veja aqui as imagens e conheça Buster Martin, o meu novo herói.

2 comentários:

samuel disse...

Rui, companheiro, não sejas invejoso nem apressado, que é muito feio.
Lá chegaremos, homem!

Anónimo disse...

Quando eu for grande também quero ser assim.... mas sem barba.