Há gente assim, com vidas que nunca mais acabam. Seres com a estranha capacidade de se reinventarem mesmo no disparate.
De renascerem sempre, após cada uma das muitas mortes que vão tendo em vida. Tolos, há outros que lhes invejam este castigo como se fora uma gracinha para entreter os amigos nas noites frias de inverno ou nas amenas cavaqueiras de verão. São os tolos quatro-estações, que por desconhecerem a primavera das ideias estão condenados ao outono da mediocridade para sempre.


sexta-feira, 18 de abril de 2008

That's all, folks!















Seis meses depois de ser líder eleito, Luis Filipe Menezes vem anunciar a sua demissão da presidência do PSD, mostrando ao país que não é surdo, pelo menos. Foi o desfecho natural e esperado de uma morte anunciada logo ao nascer desta liderança, cedo fadada para ser malquista. Pode dizer-se do consulado de Menezes: estão lá todas, na história da sua vida, as razões para a sua morte. Determinado pelas suas próprias circunstâncias, o partido admitia a eleição deste líder, mais do que o elegia. Entregou-se-lhe de corpo e voto, mas negou-lhe sempre o coração, desde o início. Menezes subia assim ao palanque social-democrata com o estrado minado sob os seus pés. As palmas que agora lhe batiam podiam até abafar os ecos longínquos da vaia inesquecível dos 'sulistas e elitistas', mas não mostravam perdão e reconciliação. Faziam parte do cerimonial, foram as necessárias e suficientes, nem uma a mais, para amostra, filha do entusiasmo ou consequência de carisma. Eram circunstância, mais uma vez. E assim o PSD foi sendo, assim foi gerindo a sua obrigação de existir: de circunstância em circunstância. Assim passaram seis meses e muita asneira dita. Criando pouco, construindo quase nada, arrastando-se nos dias a reboque da actualidade. Programando zero e improvisando mal. Assim se chegou à demissão da liderança do PSD: mal dando por ela.

O Partido Social Democrata é hoje uma caricatura de si próprio, um imenso cartoon de bonecos conhecidos (muitos deles nem por isso pelas melhores razões), mas todos eles desalinhados na fotografia de grupo, cada um esboçando a pose que julga ficar-lhe melhor num eventual retrato partidário de alternativa de poder. Ou quanto muito aconchegados em alianças de conveniência pontual, falhas de convicção mais profunda. Jogando, apostando, especulando títulos negociáveis. É que o partido chegou a estar acostumado à governação, talvez por isso tenha criado o vício de se julgar com direito a ser governo sem que para tal tenha que prestar provas de competência prévia. Talvez por isso também, vítima de si próprio, o PSD ofereça hoje à nação o triste espectáculo de um saco de gatos assanhados pela fome de poder, mas sem unhas para lutar por ele. E é neste cenário pobre, de teatrinho de bairro, que evolui o enredo da demissão de Luis Filipe Menezes, esse actor principal sem estaleca para o papel que quis para si. E que hoje se vê a braços com a gula de todo um elenco de secundários que anseiam por se revelar ao país, mais uma vez a reboque das circunstâncias.

Portugal é nos dias que correm um país órfão de oposição, a mãe de todas as salvaguardas, deixado entregue a um governo que está longe de cumprir os mínimos que se esperam de um pai responsável e consciente. Sem o contraponto de uma oposição atenta e vigilante, capaz de prevenir problemas antecipando soluções, o país esquece o óptimo, tira o sentido do bom e resigna-se ao menos mau como se fora uma benção. Assim reina Sócrates e sua legião de fiéis. Pois neste enquadramento, neste contexto de Estado, o homem que se chama Luis Filipe Menezes e aquilo que ele fará com a sua vida - em termos pessoais, políticos e até partidários - é, está mais que visto e comprovado, absolutamente irrelevante para o destino nacional. Está por isso na hora de o deixar cair.

1 comentário:

Anónimo disse...

LFM, manifesto erro de casting...
A ver vamos o que acontece na próxima terça-feira, com os barões assinalados...