Há gente assim, com vidas que nunca mais acabam. Seres com a estranha capacidade de se reinventarem mesmo no disparate.
De renascerem sempre, após cada uma das muitas mortes que vão tendo em vida. Tolos, há outros que lhes invejam este castigo como se fora uma gracinha para entreter os amigos nas noites frias de inverno ou nas amenas cavaqueiras de verão. São os tolos quatro-estações, que por desconhecerem a primavera das ideias estão condenados ao outono da mediocridade para sempre.


sábado, 5 de janeiro de 2008

Não faz mal, têm sempre a televisão


10 comentários:

Anónimo disse...

Também a maior parte dos brinquedos não contribui para que a criança aprenda.E mais: de tão acabados, sofisticados e perfeitos, esgotam, de imediato, o seu potencialpedagógico e lúdico.
A quem interessam, então, ambos: livros e brinquedos? Ora, pensem lá comigo. Quem decide da escolha de uns e da compra de outros? Os professores e os pais, pois claro.
E julgam que as editoras e as fábricas de brinquedos estão preocupadas com os lindos olhos dos alunos e das criancinhas?
Marketing, meus caros, marketing.

Teresa disse...

Mifá

Recomendo o livro "Tudo o que é Mau Faz Bem". Steven Johnson. Colecção: Neurónios, edições ASA. Eu fiquei muito mais descansada e acho que o tipo tem razão.

Anónimo disse...

Ernesta,
agradeço-lhe a sugestão e creia que a terei no devido apreço.
Com efeito, não conhecendo a obra, não ignoro a sua existência e sei tratar-se de uma obra polémica, o que, na minha óptica, costitui uma mais-valia.
Aliás, o título não me surpreende e acho que o paradoxo que encerra é, apenas, aparente.Que o mal é indissociável
(e, até, complementar) do bem, parece não constituir novidade e esse mesmo parece ter sido o entendimento nos vários âmbitos da ciência : do veneno se cria o remédio; a inoculação do que provoca a doença é, também, o que dela , preserva; da dúvida se constrói a certeza; necessário se torna, muitas vezes, provocar o caos para repor a harmonia...Enfim, ficaríamos, aqui, ad eternum, a enumerar os benefícios do mal.
Inclusive, há uma tese que defende que a violência, na televisão, pode funcionar como muma catárse, evitando, assim, a apetência pela violência real.
Tudo isto me parece, do ponto de vista conceptual, absolutamente coerente e correcto. Há, no entanto, que assegurar que, na passagem para a prática, se observem os requisitos indispensáveis para o sucesso.E,em minha opinião, aí é que reside o trabalho verdadeiramente alquímico: a dosagem, a qualidade dos produtos, a oportunidade da sua aplicação, o quem aplica e a quem é/são aplicado(s)...
Complexo, não é ?
Mas, ou por isso mesmo, interessante.
Da problemática dos compêndios escolares - no fundo, o que ocasionou este( saudável) desvio - se calhar, falarei mais tarde, neste espaço. Ou, se calhar, não.
Cumprimentos.

Teresa disse...

Mifá,

Longe de mim discutir a essência do mal ou do bem. Na minha procura nunca acabada por essas respostas encontrei há muitos anos Bertrand Russel, que defendia a não existência de Deus, no "Porque não sou Cristão", também pela teoria do mal e do bem. Segundo ele, e se para tudo há o seu contrário, se existe o bem terá também de existir o mal e das duas uma - ou o mal e o bem têm existências autónomas, levando à necessidade de um "não-Deus" que encarnasse o mal, mas com o mesmo poder que Ele, o que contrariava o princípio da omnipotência, ou Deus teria reunidos em si o bem e o mal, o que destruia o credo no Deus Bom e tornaria todo o bem em mal e o mal em bem.
Mas não é desse "mal" que se fala na obra em questão e sim de tudo o que se tem tomado como pedagógicamente mau, mas que poderá até ser bom. O livro tem estudos interessantíssimos sobre os benefícios da leitura em contraposição com os jogos de vídeo ou os programas de televisão e, para minha surpresa, uma das conclusões é que, e passo a citar " segundo todos os padrões que utilizamos para avaliar os benefícios cognitivos da leitura - atenção, memória, seguir os fios da narrativa, etc - a cultura popular não literária tem-se tornado mais estimulante ao longo dos últimos trinta anos" e " a cultura popular não literária está a desafiar cada vez mais diferentes competências mentais, tão importantes como as que são exercitadas pela leitura."
Confesso que contra mim, devoradora obsessiva de letras, falo, mas tendo filhas pequenas tenho que parar e perceber se será tão útil como pensava enfiar-lhes bons livros uns atrás dos outros ou se não será também importante deixá-las perderem-se horas a jogar Zelda e na frente a um computador.

Gosto de "falar" consigo. Venham mais discussões destas, que só nos fazem bem. Ou mal...

Anónimo disse...

Ernesta,
tambám gosto de conversar consigo, sobre o bem ou sobre o mal, desde que... sempre a bem.
Feliz a sua lembrança de Russel, a propósito dessa problemática.Acho-o magistral e muito menos "agressivo" do que Nizschte, por exemplo.
Ainda não li o "O que é mau faz bem" mas já li alguma coisa sobre a obra e,com o que percebi dela e com a ajuda da Ernesta, entendi que o "mau" a que aquela se refere não é o mal, numa perspectiva ética mas sim o que é nocivo, dasaconselhado.Olhe, fumar, por exemplo, é mau mas não é mal ( e ainda bem, se não eu seria uma incorrigível delinquente!).
Ora,feita esta introdução,vamos ao resto. O que é bom e o que é mau, pedagogicamente falando? Só lhe digo que é de desconfiar de quem tem a certeza de o saber.
Diz,com certa piada, referindo-se às suas filhas, "(...)tenho que parar e perceber se será tão
útil como eu pensava enfiar-lhes bons livros...".Não, Ernesta, se me permite a opinião, não é útil.Isto porque um livro deve ser apetecido ou tornado apetecido e não impingido ou "enfiado".
Mas, antes disso, sugiro que ponderemos sobre o que é um bom livro. Pois aqui é que está o busílis.Um bom livro, para mim, é o que corresponde às minhas expectativas de momento.O que me fala. O que me diz o que eu quero saber ou não saber num determinado momento.Olhe, confesso-lhe que a minha relação com os livros é altamente promíscua: leio vários, desde os mais sérios aos mais idiotas; pego neste e abandono aquele; leio compulsivamente até me doer a vista ou faço intermináveis pausas....
Em suma, sirvo-me dos livros quando e enquanto me dão prazer.E, tenho vindo a verificar que estou a ler cada vez menos. Sintoma grave? É mal? É bem?( não sei porquê estou a lembrar-me da Florbela Espanca).Talvez porque "Quem disser que se pode amar um livro, durante a vida inteira é porque mente".Ler um livro é ( ou deve sê-lo ) um acto de prazer.E as primeiras vacinas anti-leitura são ministradas nas escolas, através dos manuais.É dramático, mas é real. Os textos ; sobretudo os contos, são, na maior parte das vezes, de um cinzentismo confrangedor. Castram toda e qualquer tendência para o sonho, a fantasia, a alegria. Reportam os jovens para realidades/referentes que lhes são totalmente alheias.E, às vezes, trata-se de belíssimos contos, de não menos belíssimos autores.Mata-se dois coelhos de uma cajadada: condena-se o aluno a odiar a leitura e o autor, a ser odiado.Bonito serviço! Pois é. Enquanto não se perceber que a arte não tem de ser enfadonha, cinzenta, mórbida, para ser digna de intelectos bafejados, nada feito! E, falo de leitura como poderia falar de teatro, cinema, arquitectura, pintura... Deus nos livre dos pseudo-intelectuais.Uma obra que não ensina a vida, não distrai da vida mas prolonga e repercute a vida, no que ela tem de mais mórbido ou sórdido,tenham paciência que não há intelecto saudável que a suporte. Mormente se for um intelecto infantil!
O que faz, cada vez mais falta, acho, é lermos dentro de cada um de nós, dentro de uns dos outros e dentro da natureza. Preocuparmo-nos menos com a cultura e mais com a sabedoria. O culto(prefiro chamá-lo informado) reproduz; o sábio produz.
Não foi por acaso que Pessoa escolheu Caeiro, o pouco mais que analfabeto Caeiro,para seu mestre.Estava menos corrompido pela informação.E, consequentemente, mais sábio. Também não foi por acaso que, num acesso de lucidez contra a poluição informativa, escreveu " Ai que prazer não cumprir um dever;ter um livro para ler e não o fazer".
Agora, aqui para nós, que mais ninguém nos ouve, digo-lhe: sou professora, com formação na área de línguas e literaturas românicas. Infelizmente,submetida à tirania dos programas e ao espectro da nivelação intelectual perpetrada pelos exames, tenho que servir, não raro, aos meus alunos, o cálice de uma péssima beberragem. Ponho-lhe canela e outras especiarias para atenuar o remorso da consciência de ter de o fazer.
Temos uma geração cheia de agilizações. E de neurónios, teremos?
Felizmente, ainda não desapareceu nem se deixou assimilar esse
reduto que é a cultura popular!
Deixe as suas crianças lerem bechisbeque. Também deixei, há anos, as minhas lerem.E, para bem ou para mal, são, hoje, livres pensadores.
Ai, Ernesta, que abuso! Olhe,não sei como isto vai mas sei que não posso relê-lo.
Cumprimentos.

P.S. olhe, não me admiro nada que, um dia destes, o Rui me expulse da loja ( é assim que se designa este espaço, não é?).

Teresa disse...

Mifá,

vou imprimir , ler e tentar responder...

Rui Vasco Neto disse...

meninas,
deixem-se estar, fiquem à vontade.
café, cházinho, bolo, scones?

Anónimo disse...

Rui,
e, já agora, se não for pedir muito, não esqueça a compota de laranja( é muito british ).

Teresa disse...

Mifá,
perdi-me com o tea cookies and marmalade e fiquei sem tempo pare lhe responder. Mas não está esquecido...

Anónimo disse...

Ernesta,
não se preocupe: já o fizemos mais adiante. O blogue permite-nos essas formidáveis anacronias.