Faço notar que embora os Magos sejam um mais que provável acrescento ao Evangelho de Mateus, se eles tivessem ido a Belém seria atrás destes sinais e seguindo este caminho, muito provavelmente.
(Nota do autor)
Em baixo: "A Lenda dos Reis".
Sete vidas mais uma: Daniel de Sá.
Sete vidas mais uma: Daniel de Sá.
Em Sippar, na Babilónia, fora primeiro Baltasar quem percebera o sinal. Entre as estrelas da constelação dos Peixes, signo das terras do Mediterrâneo, uma luz mais forte predizia grandes coisas para o Ocidente. Júpiter, anunciador de fortuna e protector de reis, juntava o seu clarão ao de Saturno, a estrela de Israel.
Baltasar descera, sem demora, do terraço onde estivera vigiando o céu, para despertar Gaspar e Belchior e lhes ouvir o conselho. Surpreendidos pelo vigor da mão e pela voz tremente do companheiro que assim lhes suspendia o sono, levaram tempo a compreender ao que vinha.
Baltasar explicou-lhes, perturbado, o que pensara do sinal celeste. Que talvez o Messias tivesse, enfim, nascido, nas terras da Palestina.
Gaspar e Belchior subiram, com Baltasar, a perscrutar o céu. Brilhando claramente na imensidão da abóbada, a constelação dos Peixes tinha por companhia uma luz muito forte. Júpiter e Saturno, ali onde o Sol acaba um ciclo e começa outro, pareciam anunciar que um poderoso rei nascera para trazer aos homens a salvação de Deus. E assim Javé daria ao Povo Eleito, disperso pelos confins de além-Jordão, a notícia de que chegara o Messias de Israel.
Os três magos contemplaram o sinal do Senhor até que o Sol, subindo para lá dos Montes Zagros, o apagou da luz. Tinham viajado já por longes terras. Sabiam as estradas da Média e da Susiana, conheciam as ruas e os palácios de Artemita, Apolónia, Chala e Ecbátana, de Seleucia e Alexandria da Susiana. E descansando, num entardecer, à sombra dos muros orientais de Methone, sonharam com Persépolis e Passárgada. Tinham subido o Tigre e o Eufrates até Singara e Dura-Europus. Mas a viagem que agora imaginavam, em busca do Messias prometido, de Sippar à Palestina, seria mais longa e mais custosa do que todas, sobre o deserto da Síria.
Quando lhes foi propício o tempo, deixaram a Babilónia por Neopólis, a caminho do Jordão. Quase dois meses mais tarde, à vista do Monte Nebo se lhes toldou o olhar. O país dos Moabitas era vizinho já do seu destino, e ali morrera Moisés contemplando Canaã.
Ao outro dia, a caravana espantou o sossego de Jericó, Betânia e Betfagé, e, depois de descer o Monte das Oliveiras e passar pelo vale do Cedron, os peregrinos entraram em Jerusalém, com os olhos sempre postos no pináculo do Templo, para louvar Javé no Átrio dos Gentios.
O brilho da estrela que os guiava perdeu-se por entre as luzes do palácio de Herodes, no outro lado da Cidade Santa. Se procuravam um rei, decerto no palácio de outro rei fora nascido. E os magos acreditaram que era ali o seu destino. Mas ainda não. Mais para o Sul, pois de Belém de Judá anunciara o Profeta que um Príncipe sairia a apascentar Israel. Os magos, pela estrada de Belém, viram, uma vez mais à sua frente, a estrela que seguiam. E, aos pastores que pernoitavam nos prados em redor da Cidade de David, fizeram a mesma pergunta com que haviam inquirido um rei no seu palácio.
Ouvindo-os dizer “Messias”, a única palavra que entendeu do culto linguajar dos estrangeiros, os olhos de um velho brilharam num lampejo de felicidade. E, correndo à frente deles como criança que fosse, morriam as estrelas já no firmamento quando parou, numa casa de pobres em Belém, e os fez compreender que era nela que vivia o Messias prometido. Os magos pensaram que o velho não teria perfeito o seu juízo, mesmo ao olharem para o céu e perceberem que Júpiter e Saturno, enquanto lentamente se extinguiam, se apartavam também. Ou seria mais certo esse sinal do que as dúvidas que tinham?
Mas Gaspar, depois de o pastor ter voltado aos prados e ao rebanho, desalentado pediu que procurassem noutro lugar Quem procuravam. Belchior, julgando loucura imaginar que ali vivesse um rei que era o Messias, sentou-se no chão a descansar, antes que fossem, como queria, ao encontro do Salvador de Israel.
Só Baltasar, lembrando Ciro e Dario, Alexandre e César, todos os grandes reis libertadores e todos os poderosos conquistadores, pensou que deles não viera nunca a verdadeira salvação. E acreditava que o sinal que ele primeiro vira fora um sinal do Senhor que os guiara sem engano.
“A salvação não vem dos poderosos da Terra”.
Os seus olhos brilhavam ainda com a mesma luz que em Sippar.
“De um humilde há-de querê-la Deus, para que melhor se entenda que de Deus vem”.
E foi ali que entregaram os seus presentes de oiro, incenso e mirra.
Baltasar descera, sem demora, do terraço onde estivera vigiando o céu, para despertar Gaspar e Belchior e lhes ouvir o conselho. Surpreendidos pelo vigor da mão e pela voz tremente do companheiro que assim lhes suspendia o sono, levaram tempo a compreender ao que vinha.
Baltasar explicou-lhes, perturbado, o que pensara do sinal celeste. Que talvez o Messias tivesse, enfim, nascido, nas terras da Palestina.
Gaspar e Belchior subiram, com Baltasar, a perscrutar o céu. Brilhando claramente na imensidão da abóbada, a constelação dos Peixes tinha por companhia uma luz muito forte. Júpiter e Saturno, ali onde o Sol acaba um ciclo e começa outro, pareciam anunciar que um poderoso rei nascera para trazer aos homens a salvação de Deus. E assim Javé daria ao Povo Eleito, disperso pelos confins de além-Jordão, a notícia de que chegara o Messias de Israel.
Os três magos contemplaram o sinal do Senhor até que o Sol, subindo para lá dos Montes Zagros, o apagou da luz. Tinham viajado já por longes terras. Sabiam as estradas da Média e da Susiana, conheciam as ruas e os palácios de Artemita, Apolónia, Chala e Ecbátana, de Seleucia e Alexandria da Susiana. E descansando, num entardecer, à sombra dos muros orientais de Methone, sonharam com Persépolis e Passárgada. Tinham subido o Tigre e o Eufrates até Singara e Dura-Europus. Mas a viagem que agora imaginavam, em busca do Messias prometido, de Sippar à Palestina, seria mais longa e mais custosa do que todas, sobre o deserto da Síria.
Quando lhes foi propício o tempo, deixaram a Babilónia por Neopólis, a caminho do Jordão. Quase dois meses mais tarde, à vista do Monte Nebo se lhes toldou o olhar. O país dos Moabitas era vizinho já do seu destino, e ali morrera Moisés contemplando Canaã.
Ao outro dia, a caravana espantou o sossego de Jericó, Betânia e Betfagé, e, depois de descer o Monte das Oliveiras e passar pelo vale do Cedron, os peregrinos entraram em Jerusalém, com os olhos sempre postos no pináculo do Templo, para louvar Javé no Átrio dos Gentios.
O brilho da estrela que os guiava perdeu-se por entre as luzes do palácio de Herodes, no outro lado da Cidade Santa. Se procuravam um rei, decerto no palácio de outro rei fora nascido. E os magos acreditaram que era ali o seu destino. Mas ainda não. Mais para o Sul, pois de Belém de Judá anunciara o Profeta que um Príncipe sairia a apascentar Israel. Os magos, pela estrada de Belém, viram, uma vez mais à sua frente, a estrela que seguiam. E, aos pastores que pernoitavam nos prados em redor da Cidade de David, fizeram a mesma pergunta com que haviam inquirido um rei no seu palácio.
Ouvindo-os dizer “Messias”, a única palavra que entendeu do culto linguajar dos estrangeiros, os olhos de um velho brilharam num lampejo de felicidade. E, correndo à frente deles como criança que fosse, morriam as estrelas já no firmamento quando parou, numa casa de pobres em Belém, e os fez compreender que era nela que vivia o Messias prometido. Os magos pensaram que o velho não teria perfeito o seu juízo, mesmo ao olharem para o céu e perceberem que Júpiter e Saturno, enquanto lentamente se extinguiam, se apartavam também. Ou seria mais certo esse sinal do que as dúvidas que tinham?
Mas Gaspar, depois de o pastor ter voltado aos prados e ao rebanho, desalentado pediu que procurassem noutro lugar Quem procuravam. Belchior, julgando loucura imaginar que ali vivesse um rei que era o Messias, sentou-se no chão a descansar, antes que fossem, como queria, ao encontro do Salvador de Israel.
Só Baltasar, lembrando Ciro e Dario, Alexandre e César, todos os grandes reis libertadores e todos os poderosos conquistadores, pensou que deles não viera nunca a verdadeira salvação. E acreditava que o sinal que ele primeiro vira fora um sinal do Senhor que os guiara sem engano.
“A salvação não vem dos poderosos da Terra”.
Os seus olhos brilhavam ainda com a mesma luz que em Sippar.
“De um humilde há-de querê-la Deus, para que melhor se entenda que de Deus vem”.
E foi ali que entregaram os seus presentes de oiro, incenso e mirra.
12 comentários:
passo por aqui para poder fumar um cigarrito e vejam só o que me acontece: desintoxico a alma.
A clonagem do intelecto e a espiritualidade do Daniel é algo de muito, muito comovente!
Contado assim, realmente...
Dá gosto!...
E dá gosto escrever para ter o prazer de saborear comentários desses.
Obrigado, amigos.
Ai Rui, andas a trabalhar pouco e mal: então que é do meu comentário ao Daniel, hem?
Agora vi o comentário dele aos comentários e fiquei invejosa.
É só ´desarrumação aí na loja, é?
Trata de o recuperar ( o comentário, claro).
O escritor Daniel de Sá tem a habilidade de nos tocar a alma em cada palavra. E é um grande prazer poder ler aqui a sua colaboração mais uma razão para eu passar neste blogue, senhor Rui Vasco Neto. Os meus cumprimentos as dois.
Aos dois, naturalmente.
cigarrónimo,
a vida é uma caixa de surpresas.
sete vidas dá sete caixas, no mínimo.
sam,
pôr o daniel a render não dá grande guito, mas sempre se goza, meu amigo. consola, ler o homem, não é?
daniel,
vai para dentro, não te maces.
mifas,
já expliquei aqui que esta coisa tem uma vida própria, às vezes, tipo o montro da sigourney weaver no allien 2 ou 3 ou lá o que é...
mas quando a gente vai à procura encontra-se.
ora, eu fui à procura nos cantos possíveis e não estava lá nada.
logo, sugiro uma medicação suave após as refeições e - sobretudo, muito importante - nada de álcool.
nem mais uma gotinha.
jocas
carmo&trindade,
gadinho ingualmente.
É o que eu digo : este rapaz parece que anda com a cabeça na lua. Ou muito me engano ou anda, por aqui, rabo de saias. E, depois, arranja cada metáfora mais alienígena!
Vamos ao que importa, que já se faz tarde: disse eu, em comentário transacto, que, na impossibilidade de o dizer melhor, subscrevia os comentários anteriores (eram, então, os dois primeiros, únicos existentes, à data). Mas, agora, subscrevo todos.
Mifá, não será privilégio por aí além haver um comentário só para si, mas, se o considera como tal, pois que o seja. Agradeço muito, mas mesmo muito, o apreço em que tem a minha escrita. Sem querer comparar-me com o meu grande amigo Tomaz Vieira, há uma coisa em que sou parecido com ele: continuo a maravilhar-me quando recebo elogios à minha obra.
Aos outros amigos que tiveram a paciente humildade de aqui deixar uma opinião tão deliciosa, o mesmo obrigado e outros, mas iguais, abraços.
Daniel
viram, viram?
para mim um corno e metade d'outro.
nem olá.
Daniel,
um comentário só para mim é mais do que as minhas expectativas e muito mais do que mereço.
Aliás, a minha reclamação ao Rui foi mais pela ausência da manifestação do apreço, admiração e simpatia que nutro pelo Autor e pelo Homem que o Daniel de Sá " são".
É um raio de sol nestas "ilhas de bruma"( eu sei que a primeira metáfora é estafada e a segunda, roubada mas o adiantado da hora e o cansaço e as brigas com o Rui são pouco propícios às musas).
mifas,
vai xonar, ó musa.
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