
segunda-feira, 31 de março de 2008
Bom dia. Hoje eu acho que a semana começa bem.

domingo, 30 de março de 2008
A vocação do PGR

Entretanto ninguém foi mordido por um cão de raça perigosa. Em Anadia e Alijó ninguém morreu por falta de assistência. O processo Casa Pia vai andando, obrigado. O Pidá continua de cana. Valentim vai-se safando. Pinto da Costa não se tem casado, ultimamente. Da Madeira já não se fala em corrupção. A Maddie não aparece e os McCann tão cedo também não. E aquela coisa do Casino Lisboa já lá vai, que diabo, águas passadas não movem moinhos, está dado está dado, o Assis merece, quem dá e tira vai para o inferno, não se fala mais nisso. De maneira que já agora, havendo o video e tudo (e também para não se estar sempre a discutir o ensino, a educação, a escola, os alunos e os professores) alguém tinha que fazer alguma coisa para dar a ideia que alguém faz alguma coisa. E alguém fez. «O procurador-geral da República tem acompanhado de perto todas as situações de violência escolar que chegam ao seu conhecimento. No caso concreto, ocorrido no Carolina Michaëlis, falou já com o procurador-geral distrital do Porto, dr. Pinto Nogueira, e com a sr.ª directora do DIAP do Porto, dr.ª Hortênsia Calçada, que têm estado ao corrente dos factos e diligenciado no sentido de apurar responsabilidades». É Pinto Monteiro que surge, qual bombeiro que carrega a mangueira salvadora da chamuscada decência nacional, chegado ao intervalo para varrer tudo e todos e mudar o resultado do jogo. «O Ministério Público quer "apurar as responsabilidades" do polémico caso da Carolina Michaëlis, para saber até onde pode intervir, de forma a assegurar a reposição da autoridade pública e a tranquilidade na escola.», garante fonte da Procuradoria. É Portugal da autoridade no seu melhor, arreganhando o músculo aos problemas antes de sequer os tentar digerir e compreender, num absurdo que se repete a cada novo perigo, a cada nova crise.
Acontece que o famoso Estatuto do Aluno, que todos comentam mas poucos terão lido, prevê no seu Artigo 27.º as seguintes Medidas Disciplinares Sancionatórias: a) A repreensão; b) A repreensão registada; c) A suspensão da escola até cinco dias úteis; d) A suspensão da escola de 6 a 10 dias úteis; e) A expulsão da escola. Face à situação que todos vimos, será que uma destas medidas não assegura a intervenção suficiente e necessariamente proporcional ao ocorrido? Será assim tão essencial, ou mesmo desejável, a intervenção da Procuradoria Geral da República numa aula de Francês da Escola Carolina Michaelis? Será mesmo isto que queremos para as nossas escolas? E para a nossa Procuradoria, já agora? Vale a pena ler, a propósito, as palavras de Pedro Sales, publicadas no seu 'Zero de Conduta' e que eu não resisto a transcrever, porque perfeitas na ilustração do meu próprio sentir. Ora leiam.
O mesmo Procurador Geral da República que precisou de ler quatro edições de uma investigação efectuada pelo Expresso - com base em material de prova que estava há anos na posse do MP - para perceber que tinha que fazer qualquer coisa sobre o Casino de Lisboa, dedica agora meios e recursos para investigar aquilo que, sendo um lamentável caso de indisciplina e insolência, não deve deixar de ser equacionado à luz da relativa gravidade do incidente. Mas o coro de apoio ao anúncio feito por Pinto Monteiro não se fez esperar. Afinal a “turba” de “canalhas” tem que ser posta na ordem e os professores não têm meios para o fazer. A sério? Será que quem anda há uma semana a proferir afirmações destas, que passam por uma verdade incontestável e inquestionável, alguma vez perdeu dois segundos para ler o que é que diz o estatuto do aluno em vigor? (..) Advertência, Suspensão, ou expulsão com decorrente perda do ano lectivo. O que é que querem mais? Colocar uma míuda malcriada no pelourinho e, de permeio, fazer um retrato de toda uma geração a partir de um caso que, podendo não ser isolado, será sempre ultra-minoritário? Quer me parecer que há por aí muito boa gente que "anda nisto" apenas para provar que esta é que é mesmo a geração rasca.
São palavras sábias, estas, plenas de senso e serenidade. Recordam-me outras, do Presidente da República que começou este ano de 2008 com um apelo à «serenidade no sistema educativo»; ele que agora, depois do video, se diz «profundamente chocado» com a violência nas escolas e por isso chamou o PGR a Belém, segunda-feira próxima, para juntos dividirem preocupações. E Pinto Monteiro já disse que «os pequenos ilícitos geram os grandes ilícitos, como as drogas leves conduzem às drogas pesadas», prometendo mão firme nas escolas para o que classificou de «pequena criminalidade» com a mesma segurança e convicção que tem posto em todas as promessas anti-crime que faz habitualmente. Ora eu tenho cá para mim que este notório prazer de Pinto Monteiro em dizer coisas (com provas dadas da Visão ao SOL, da Sábado ao Expresso e com passagens frequentes pelo Correio da Manhã e 24Horas, entre outros) quando aliado à pontualidade que revela na promessa justiceira a cada nova escandaleira mostrada no Telejornal, diz do senhor Procurador o que melhor seria não dissesse. Duas coisas em particular, preocupantes, a meu ver.
Diz-nos que a sua agenda (e com ela a da Justiça nacional) é marcada nas redacções da comunicação social e revelada por antecipação na primeira página das notícias matinais, sendo posteriormente confirmada e comentada pelo próprio onde calha. O que não deixa de ser um sistema, convenhamos. Mas acima de tudo revela-nos a visão que este Procurador tem do cargo que ocupa, ao cumpri-lo assim atrelado a reboque de cada estalar de dedos da indignação popular, zizeguezagueando investigações em obediência ao caprichoso papão da opinião pública ou em prol de uma qualquer conveniência circunstancial, uma possibilidade deixada em aberto pelo dossier Casino Lisboa. Mais um caso de vocação justiceira selectiva que, tudo o indica, não passará disso mesmo, para suprema tranquilidade da fina-flor do gardanho, esse pessoal de particular brancura no colarinho. E para mal dos nossos pecados.
sábado, 29 de março de 2008
Siga o Shark

sexta-feira, 28 de março de 2008
Agora a sério: o que é que se pode esperar da esperteza de um país que elege Bush para presidente?
«Um cidadão norte-americano perdeu tudo o que tinha em casa depois de alguém ter publicado no Craisgslist, um site de classificados, dois falsos anúncios onde explicava que ele iria mudar e estava disposto a dar o recheio da sua casa. A «oferta» incluía o próprio cavalo do homem. Os anúncios foram ambos colocados on-line no passado dia 22 e Robert Salisbury apenas soube da sua existência quando uma mulher lhe telefonou a dizer que ia buscar o cavalo.
Assim que chegou a casa deparou-se com um camião de mudanças já com alguns dos seus objectos pessoais pronto a arrancar e quando tentou explicar o sucedido aos ocupantes, estes recusaram e foram-se embora. «Eu expliquei-lhes que era o dono, mas eles recusaram-se a devolver as minhas coisas», contou à Associated Press, referindo que «eles mostraram-me o anúncio imprimido e disseram-me que tinham o direito de fazer o que tinham feito». Pouco tempo depois Robert Salisbury tinha em casa cerca de 30 pessoas a vasculhar os seus pertences e todos os esforços para explicar foram novamente em vão. «Eles pensavam que era verdade porque tinha aparecido na Internet e era verdade. Deixa-me confuso», admitiu.
A polícia já começou a investigar o caso junto do site para tentar descobrir o responsável pelos anúncios e a tentar localizar as pessoas que levaram objectos. Esta não é contudo a primeira vez que tal acontece. Também no ano passado uma mulher colocou no Craigslist um anúncio semalhante relativo à casa de uma tia sua.»
Assim que chegou a casa deparou-se com um camião de mudanças já com alguns dos seus objectos pessoais pronto a arrancar e quando tentou explicar o sucedido aos ocupantes, estes recusaram e foram-se embora. «Eu expliquei-lhes que era o dono, mas eles recusaram-se a devolver as minhas coisas», contou à Associated Press, referindo que «eles mostraram-me o anúncio imprimido e disseram-me que tinham o direito de fazer o que tinham feito». Pouco tempo depois Robert Salisbury tinha em casa cerca de 30 pessoas a vasculhar os seus pertences e todos os esforços para explicar foram novamente em vão. «Eles pensavam que era verdade porque tinha aparecido na Internet e era verdade. Deixa-me confuso», admitiu.
A polícia já começou a investigar o caso junto do site para tentar descobrir o responsável pelos anúncios e a tentar localizar as pessoas que levaram objectos. Esta não é contudo a primeira vez que tal acontece. Também no ano passado uma mulher colocou no Craigslist um anúncio semalhante relativo à casa de uma tia sua.»
Nem a velha cai nem a gente almoça

Bom dia. Hoje eu pergunto: porque demorou tanto tempo?

quinta-feira, 27 de março de 2008
O puto que pariu?

Mãe: não fui eu!

Pequim lava mais branco

De recordar que a esmagadora maioria das novas prostitutas chinesas, de acordo com uma informação da Agência Reuters, é oriunda das zonas rurais e procura as grandes cidades para acabar na mais velha profissão do mundo, ao tentar escapar à miséria que grassa no interior do país. São as modernas escravas sexuais, que só podem visitar as suas famílias uma vez por ano, por norma durante o Festival da Primavera. Os cerca de trezentos euros mensais que conseguem ganhar a prostituir-se representam uma verdadeira fortuna e, na maioria dos casos, são garantia da sobrevivência das suas famílias. Agora, pela primeira vez e durante todo o tempo que vão durar os Jogos, os bordéis vão estar fechados, as ruas limpas, os vadios recolhidos e os ratos exterminados. É a China que se mostra ao mundo, decidindo o que quer que de si se veja. Retocando as cores de postal ilustrado. E é Beijing 2008 que já começou, estabelecendo um novo recorde para a hipocrisia que pode, quer e manda abaixo do tecto do mundo. Um recorde olímpico.
quarta-feira, 26 de março de 2008
Educação, conversa de vizinhas

Tenho este problema, nada a fazer. Dias inteiros, inteirinhos, esqueço-me da lida da casa para me postar a dar à língua na saleta da vizinhança, conversa de comadres, porque tira e porque deixa, porque torna e mais que pois. Tudo lá na comadre Aspirina, hoje sobre o telemóvel mais falado de todo o sistema educativo. Se quer espreitar é aqui, mas não faça como eu, que nem o lume às couves baixei. Por isso me cheirava a esturro.
Bom dia. Hoje eu estou com o Presidente na questão da Língua Portuguesa.

terça-feira, 25 de março de 2008
Pensando bem, os alunos do 9ºC da Carolina Michaelis são uns santos. Abençoadas criancinhas,digo eu.

Álcool e drogas e sexo, foi esta combinação explosiva que fez com que uma escola no norte de Inglaterra tomasse a medida drástica: distribuir pílulas do dia seguinte pelas alunas. Segundo o Daily Mail, citado pelo SOL, dois adolescentes falsificaram assinaturas e conseguiram a autorização para organizar uma festa nas instalações da escola. Os professores explicaram que a festa rapidamente se transformou numa orgia, na qual chegaram a participar duzentos alunos e cuja maioria teve relações sexuais sem protecção.
O comportamento dos alunos obrigou a escola a distribuir pílulas do dia seguinte pelas alunas dos catorze aos dezasseis anos e a enviar uma carta aos pais advertindo para a possibilidade de os filhos terem doenças sexualmente transmissíveis ou gravidezes indesejadas. A carta foi muito clara e não deixa margem para dúvidas, os jovens consumiram uma grande quantidade de álcool e «estavam demasiado bêbados para terem controlo sobre si próprios. O risco é real, assumam o pior.».

Digam o que disserem, eu cá sei que a situação da instituição Escola em Portugal não está para grandes graças. Mas nanja também para grandes desgraças, teremos todos de convir na comparação com este exemplo escolar britânico, que enrubesceria Fanny Hill e faz a líbido de Lady Chatterley parecer um modesto wet dream de noviça. Sempre ouvi dizer, a vida inteira, que o meu país era e estava atrasado em relação a Inglaterra. Primeiro lá, sempre, depois cá. Hoje pergunto a mim próprio se isso será mesmo verdade. Só cá por coisas, mera curiosidade.
segunda-feira, 24 de março de 2008
Bufar ou pagar, eis a questão.

Tudo isto deve ser feito (ou tem que ser feito), segundo a Direcção-Geral de Impostos, ao abrigo do 'dever de colaboração com a administração fiscal', um argumento de peso que, dito assim, se propõe tocar o hino nacional ou quase, cá dentro de nós. Só que, na práctica, é mais um argumento de mão pesada do que outra coisa. Pelo sim pelo não, caso não o façam no prazo de 15 dias, os contribuintes recém-casados são ameaçados com a instauração de um processo de contra-ordenação fiscal punível com uma coima que varia entre os 100 e os 2500 euros. Subtil, não acham? É uma espécie de suave incentivo, digo eu, mais um deste Estado-Papá que nos quer ver a todos muito felizes (pagando, evidentemente) e especialmente destinado a quem não perceba a necessidade e importância da bufice para olear a máquina fiscal cá da terra. Um aviso sério para quem se escuse a este frete colaboracionista. Voluntário, claro.
domingo, 23 de março de 2008
Mais problemas para a arbitragem

Sexo, piadas, centímetros e minhocas

sábado, 22 de março de 2008
sexta-feira, 21 de março de 2008
No Dia Mundial da Poesia
Quero às palavras como às amantes
(mais a umas do que às outras
confesso e é natural)
que as palavras, mesmo loucas,
mentirosas, inconstantes,
são melhores do que as amantes:
não me fazem tanto mal.
Dizem-me que hoje é o dia
de lembrar a todo o mundo
o universo dos poetas:
as palavras! Que, no fundo,
são de todos, dos patetas,
dos tristes, dos geniais,
dos uns que lhes querem mais
que os outros que as maltratam
(e às vezes com elas matam)
a quem escapa a fantasia
que mora nas entrelinhas...
As palavras não são minhas
mas se fossem, eu garanto
esta intenção verdadeira:
às palavras quero tanto
(ai! tanto lhes quero, tanto!)
que não marcaria um dia
para as palmas mundiais
mas antes a vida inteira
milhares de vezes um dia!
E não seria demais
para lembrar a Poesia.
(mais a umas do que às outras
confesso e é natural)
que as palavras, mesmo loucas,
mentirosas, inconstantes,
são melhores do que as amantes:
não me fazem tanto mal.
Dizem-me que hoje é o dia
de lembrar a todo o mundo
o universo dos poetas:
as palavras! Que, no fundo,
são de todos, dos patetas,
dos tristes, dos geniais,
dos uns que lhes querem mais
que os outros que as maltratam
(e às vezes com elas matam)
a quem escapa a fantasia
que mora nas entrelinhas...
As palavras não são minhas
mas se fossem, eu garanto
esta intenção verdadeira:
às palavras quero tanto
(ai! tanto lhes quero, tanto!)
que não marcaria um dia
para as palmas mundiais
mas antes a vida inteira
milhares de vezes um dia!
E não seria demais
para lembrar a Poesia.
"Olha, a velha vai cair!" (2)
A primeira notícia que vi hoje, acordado anormalmente tarde para a informação do dia, foi este video do incidente escolar na Carolina Micaelis. Vi, revi, comentei e postei, a frio. Não fiz análise dos factos, limitei-me a expô-los e a chamar a atenção para a sua importância e oportunidade. Mas a reflexão é importante. É essencial tentar ver para além do óbvio, esmiuçar o pormenor daquilo que também está lá, sim, mas em segundo plano. É que a justa indignação gerada pela atitude da aluna, que faz o primeiríssimo plano desta situação, induz uma visão redutora do muito que aconteceu. Uma leitura que é, na circunstância, uma verdadeira tentação para este país insatisfeito com o actual panorama educativo e ansioso por um qualquer pretexto que faça saltar a tampa governamental. E já agora a ministra da Educação, claro. Ora este episódio está longe de ser um pretexto qualquer, é um argumento de peso em qualquer discussão séria sobre a realidade das nossas escolas. Que faz saltar inúmeras questões para cima da mesa, todas pertinentes e importantes, e que por isso deve ser visto e analisado sem paixão, num esforço de objectividade.
A situação filmada centra-se em duas pessoas, a professora e a aluna. Não está em causa, penso eu, qualquer dúvida quanto à incorrecção do comportamento desta aluna. Ela foi total e por demais evidente, não tem desculpa ou atenuante à primeira vista. Tudo parece começar como uma brincadeira que foi longe demais, um desafio assumido a uma autoridade que evidentemente já não era respeitada, logo à partida. Uma exibição tola de afirmação perante a turma e um exercício de cumplicidade com os colegas, que correu mal por ter sido levado longe demais. O comportamento desta adolescente de 15 anos foi mais do que impróprio: foi aberrante, nem bom nem mau. Toda a situação é em si aberrante, aliás. Os termos em que a aluna se dirige à professora, o seu tom de voz, o que diz e como diz, a postura gestual que assume logo à partida, tudo nesta garota é revelador de uma evidência que se perde no meio da algazarra: o problema tinha já começado antes de começar naquele dia. Muito antes. O problema vem de raiz e é um problema composto, são vários problemas juntos, todos graves, nem todos referentes ao universo escola. Na circunstância, não tendo sido capaz de fazer parte da solução, esta professora fez, também ela, parte do problema.
Não é dispensável um olhar crítico à actuação da professora naquela circunstância em concreto. A forma como ela lidou com a situação, como geriu o problema, a atitude que escolheu tomar (ou aquela única de que foi capaz), foi correcta? E em caso afirmativo, terá sido a mais indicada? Um duplo não seria a minha resposta, sem hesitar. Esteve longe da sensatez esta senhora, profissional do ensino, há que reconhecê-lo. Atrevo-me a especular se não terá sido um pouco vítima de si própria, também, mais que só dos outros. A sua postura, visível nas imagens, não cumpriu os mínimos de autoridade necessária para ter mão numa turma de alunos. Há nela um déficit de firmeza que se nota sem engano, alguma demissão da função disciplinadora do professor enquanto tal. Veja-se o ambiente em que tudo aconteceu, para começar; tinha tudo o que não deve existir numa sala de aulas, desde o barulho à desatenção, toda a gente de pé, risos e bocas, comentários e indisciplina geral. Sobrava confusão, faltava carisma de professor.
Logo no início, às primeiras palavras da aluna, não se viu a esperada, necesssária e correcta atitude de firmeza da parte da professora que, sendo firme e autoritária naquele momento como lhe competia, teria posto um ponto final e imediato em toda a questão. E o que vimos, em vez de firmeza e autoridade de professor? Assistimos a uma professora visivelmente intimidada e insegura a fazer o que faria qualquer coleguinha da mesma idade da garota: puxar mais, empurrar mais, discutir no braço o que devia estar resolvido na voz, ponto assente e não passível de discussão. E assim fragilizada e em queda de autoridade se expôs ao gozo generalizado da turma, um gozo que estava já presente no início, antes de tudo começar, como se pode de resto constatar pelo visionamento das imagens daquele ambiente indisciplinado, favorável ao tipo de evolução a que se pôde assistir. Confrangedor, convenhamos.
O episódio é triste mas não é para esquecer; pelo contrário, entendo que deve ser recordado este incidente. Mas só quando puder ser recordado numa análise serena. Só quando acalmar a indignação geral e baixarem quer o tom sindicalista da revolta, quer os dedos acusadores que agora se erguem todos num só movimento nacional. Com toda a politiquice rasteira que infecta de momento a questão educativa em Portugal, toda a reflexão sobre este incidente parece-me para já comprometida. Há que aguardar melhores dias. Quando o calor dos argumentos e a paixão dos queixumes derem finalmente lugar à razão e objectividade necessárias para, mais do que ver este video, se conseguir compreender de facto o que ele representa na vida de todos nós.
A situação filmada centra-se em duas pessoas, a professora e a aluna. Não está em causa, penso eu, qualquer dúvida quanto à incorrecção do comportamento desta aluna. Ela foi total e por demais evidente, não tem desculpa ou atenuante à primeira vista. Tudo parece começar como uma brincadeira que foi longe demais, um desafio assumido a uma autoridade que evidentemente já não era respeitada, logo à partida. Uma exibição tola de afirmação perante a turma e um exercício de cumplicidade com os colegas, que correu mal por ter sido levado longe demais. O comportamento desta adolescente de 15 anos foi mais do que impróprio: foi aberrante, nem bom nem mau. Toda a situação é em si aberrante, aliás. Os termos em que a aluna se dirige à professora, o seu tom de voz, o que diz e como diz, a postura gestual que assume logo à partida, tudo nesta garota é revelador de uma evidência que se perde no meio da algazarra: o problema tinha já começado antes de começar naquele dia. Muito antes. O problema vem de raiz e é um problema composto, são vários problemas juntos, todos graves, nem todos referentes ao universo escola. Na circunstância, não tendo sido capaz de fazer parte da solução, esta professora fez, também ela, parte do problema.
Não é dispensável um olhar crítico à actuação da professora naquela circunstância em concreto. A forma como ela lidou com a situação, como geriu o problema, a atitude que escolheu tomar (ou aquela única de que foi capaz), foi correcta? E em caso afirmativo, terá sido a mais indicada? Um duplo não seria a minha resposta, sem hesitar. Esteve longe da sensatez esta senhora, profissional do ensino, há que reconhecê-lo. Atrevo-me a especular se não terá sido um pouco vítima de si própria, também, mais que só dos outros. A sua postura, visível nas imagens, não cumpriu os mínimos de autoridade necessária para ter mão numa turma de alunos. Há nela um déficit de firmeza que se nota sem engano, alguma demissão da função disciplinadora do professor enquanto tal. Veja-se o ambiente em que tudo aconteceu, para começar; tinha tudo o que não deve existir numa sala de aulas, desde o barulho à desatenção, toda a gente de pé, risos e bocas, comentários e indisciplina geral. Sobrava confusão, faltava carisma de professor.
Logo no início, às primeiras palavras da aluna, não se viu a esperada, necesssária e correcta atitude de firmeza da parte da professora que, sendo firme e autoritária naquele momento como lhe competia, teria posto um ponto final e imediato em toda a questão. E o que vimos, em vez de firmeza e autoridade de professor? Assistimos a uma professora visivelmente intimidada e insegura a fazer o que faria qualquer coleguinha da mesma idade da garota: puxar mais, empurrar mais, discutir no braço o que devia estar resolvido na voz, ponto assente e não passível de discussão. E assim fragilizada e em queda de autoridade se expôs ao gozo generalizado da turma, um gozo que estava já presente no início, antes de tudo começar, como se pode de resto constatar pelo visionamento das imagens daquele ambiente indisciplinado, favorável ao tipo de evolução a que se pôde assistir. Confrangedor, convenhamos.
O episódio é triste mas não é para esquecer; pelo contrário, entendo que deve ser recordado este incidente. Mas só quando puder ser recordado numa análise serena. Só quando acalmar a indignação geral e baixarem quer o tom sindicalista da revolta, quer os dedos acusadores que agora se erguem todos num só movimento nacional. Com toda a politiquice rasteira que infecta de momento a questão educativa em Portugal, toda a reflexão sobre este incidente parece-me para já comprometida. Há que aguardar melhores dias. Quando o calor dos argumentos e a paixão dos queixumes derem finalmente lugar à razão e objectividade necessárias para, mais do que ver este video, se conseguir compreender de facto o que ele representa na vida de todos nós.
(Veja o vídeo AQUI)
"Olha, a velha vai cair!"
Nos últimos tempos, muito se tem visto e falado sobre professores e alunos, avaliação e respeito, segurança e disciplina, educação e ensino. Mas o que este video hoje divulgado pelo JN mostra eu nunca tinha visto e mal imaginava que existisse e acontecesse nas escolas deste nosso país. Com os professores deste nosso país. E entre os alunos deste nosso país, filhos dos pais deste nosso país que somos todos nós. Recomendo a todos o visionamento deste documento audiovisual, captado de forma ilícita (porém descarada) durante uma aula de Francês na escola secundária Carolina Michaelis, no Porto, e que mostra uma aluna a agredir a professora de Francês por esta lhe ter retirado o telemóvel dentro da sala de aula. E que mostra mais, todo o ambiente que se vivia na aula durante o episódio, a histeria da aluna, a incapacidade da professora, o comportamento do resto da turma, as bocas, as reacções em directo ao que estava a acontecer. Mostra tudo isso e deixa antever mais, muito mais do que aquilo que mostra. Sugiro que veja este video com atenção, muita atenção e com o som ligado. Demora um escasso par de minutos, apenas. Quando ouvir "Olha, a velha vai cair!", já sabe que está quase a acabar.
(Veja o vídeo AQUI)
quinta-feira, 20 de março de 2008
E a seguir, Portugal?

quarta-feira, 19 de março de 2008
Guerra no Iraque: "Uma boa decisão!", acha Bush.

O Principezinho

que acontece uma vez cada milhão
ai, é que os olhos
não vêem como vê o coração
Devagar, pintei as cores da minha vida
pouco a pouco deste o tom do teu viver
ai, e o tempo
levou-nos na aventura de crescer
descobrir cada gesto,
amar, esquecer o resto,
e fez de nós
amigos a valer

Vem à minha estrela,
tem um palmo só de chão,
vem sentar-te nela e ver o mundo
rodar, sofrer, amar, nascer, morrer
e nós ali
amigos a valer
Muita vez busquei o abrigo dos teus braços
que os fracassos doem mais se estamos sós
ai, e hoje
não passo sem o som da tua voz
E se um dia fores no rasto de uma estrela
ninguém vai notar que outra luz se acendeu
ai, e eu ao vê-la
serena entre o azul escuro do céu
vou sentir a magia
o encontro e a alegria
que fez de nós
amigos a valer
Vem à minha estrela
ver um palmo só de chão
vem sentar-te nela e ver o mundo
rodar, sofrer, amar, nascer, morrer
e nós ali
amigos a valer
('Amigos a valer', escrito para a peça 'O Principezinho', Teatro Aberto, 1987/88)
A verdade sobre a morte do principe
Antoine-Jean-Baptiste-Marie-Roger Foscolombe de Saint-Exupéry era o terceiro filho do conde Jean Saint-Exupéry e da condessa Marie Foscolombe. Não foi por isso que ficou para a história, mas sim por ter sido um escritor brilhante, capaz de criações intemporais e eternas como 'Le Petit Prince'(1943), seu destaque maior, ou 'Vol de Nuit'(1931), outro clássico. E também pelo mito que envolveu o seu desaparecimento a 31 de Junho de 1944, voando numa missão de reconhecimento. Os destroços do seu avião foram descobertos recentemente, em 2004, a poucos quilómetros da costa de Marselha. Mas o seu corpo nunca foi encontrado.
Agora, passada mais de metade de um século sobre o dia em que Antoine de Saint-Exupery foi visto pela última vez, entrando no seu avião, alguém vem reclamar a responsabilidade pelo seu desaparecimento. Outro aviador, um ex-piloto da Luftwaffe, Horst Rippert, que afirma acreditar ter abatido o Lockheed P38 Lightning de Exupery nos céus de Grenoble, com tiros do seu Messerschmidt Me109. A história consta do livro 'Saint-Exupery, l'ultime secret', a ser lançado brevemente, segundo nos conta Fernando Venâncio, aqui. Existe até já um filminho promocional, que pode conferir neste post. Mas o segredo, esse, ficou já revelado.
terça-feira, 18 de março de 2008
A Primavera, o frémito pagão e a vontade de colocar nelas: João vira lobo.
«Agora que a Primavera chega, traz com ela esta inebriante disposição que me inunda de bons e filantrópicos sentimentos, tais como a vontade de fazer um/a filho/a a cada portuguesa. Por onde quer que vá, nas nossas (e vossas) mulheres só vislumbro qualidades. Umas da cintura para cima, outras da cintura para baixo. E em algumas (em número substancialmente mais escasso, admito-o) qualidades em ambos os hemisférios. É tal a vontade de colocar nelas a minha fértil semente do porvir que só uma mão firme (aliás duas) e alguns gritos vociferados pela minha cara-metade me impedem de tombar no mais desmedido frémito pagão.»
(João Villalobos em êxtase, aqui, sofrendo com e por Eliot Spitzer. De ir às lágrimas. Imperdível.)
Em defesa do endurecimento
A meio da reunião da Comissão Política Nacional, o presidente do CDS-PP, Paulo Portas, referiu que o partido "está a preparar um conjunto de iniciativas legislativas" em matéria de segurança, que apontam para o reforço do dispositivo policial, das medidas legais contra o crime, das políticas de integração social e da investigação da criminalidade violenta e juvenil. Dizem os jornais que o CDS-PP foi muito claro quanto ás leis penais: 'Paulo Portas defendeu o endurecimento', garantem. Não me surpreendeu, confesso.
Um ménage pocariço, ou a América do costume.

Desde que o seu caso se tornou público que Jim e Dina fazem a vida negra um ao outro. Os dois lavaram roupa suja na TV, os dois escarrapacharam a sua intimidade nos jornais com todos os dirty details, os dois escreveram livros a contar a versão de cada um, muito juicy nos dois casos. Agora a iniciativa terá partido de Jim McGreevey, que teve desta vez a gentileza de vir contar que Dina Matos sabia perfeitamente da sua homossexualidade e que por isso terá concordado em manter uma relação sexual a três com o colaborador de campanha Pedersen, durante dois anos, até à sua eleição para governador de Nova Jérsia em 2001. Mas, segundo Dina, quando Jim era presidente da Câmara de Woodbridge já se entendia intimamente com Teddy, relação que continuou enquanto desempenhou o cargo de governador de Nova Jérsia, até à sua demissão em 2004, e mesmo depois. Um encanto, este vai-vem de ternuras. Recorde-se que a demissão do governador McGreevey foi justificada pelo próprio como única saída para um caso de chantagem económica de que estaria a ser vítima por parte de um seu funcionário, o qual se queixou, por sua vez, de ser alvo de um assédio sexual insuportável. Outro vai-vem, outro encanto, naturalmente.
Agora, Jim considera que o ménage à trois com Dina «já aconteceu há muito tempo» e, portanto, é preciso «seguir em frente» para bem da única filha do casal, uma menina de seis anos que só mais tarde terá capacidade para entender mais esta revelação paterna. Pedersen, por seu turno, diz que não sabia se Jim era ou não homossexual. O seu móbil ao denunciar o ménage à trois com Dina foi, imagine-se, a raiva que diz ter sentido ao vê-la na televisão a comentar a demissão de Eliot Spitzer, governador de Nova Iorque. Durante essa intervenção, Dina terá recordado que ficou «pasmada» ao saber da homossexualidade do ex-marido quando este, ao apresentar a demissão de governador de Nova Jérsia, se assumiu como gay.
Disse e repito, para mim os americanos têm uma cultura de escândalo que os faz gente que só larga um pitéu destes depois de convenientemente espremido e retorcido até nem mais um pinguinho de sémen cair. Por isso acredito que o follow up informativo das quecas de Mr.Spitzer ainda terá muita surpresa por revelar, todas e cada uma com este tipo de repercussão à escala mundial que junta Nova York e a Pocariça num mesmo abraço lúbrico.
Bom dia. Hoje o PS governa como os interruptores, ora para baixo, ora para cima.

segunda-feira, 17 de março de 2008
Ui! Ai! Ui! Ui!

Eu cá confesso que é coisa que abomino, no meu gosto pessoal. Que nunca usaria ou aconselharia aos meus. E que, aparentemente, acarreta os seus riscos, a acreditar na mensagem da ilustração que aqui vemos. Ui, ai, ui, um perigo. Mas um perigo privado. Que só diz respeito a cada um.
Duas garrafas de Macieira (roubadas)

Em baixo: "Duas garrafas de Macieira"
Sete vidas mais uma: Daniel de Sá
Sete vidas mais uma: Daniel de Sá
Olhe qu’ê gosto munto do João Cravalho, aquilo nã era partida qu’ele me fezesse. A gente só pode levar duas garrafas de bebida, dizem qu’a lei nã permete nem sequer essas duas, mas eles fechim os olhos s’a gente nã leva más que duas. Quer-se dezê que eu levê aquelas duas e nã podia levar más ninua. Uma era pra ofrecer ó mê doutor, um belo home, que até fala uma nisquinha de pertuguês, e tá sempre numa ipequeia comigo, quer qu’ê largue a bebida, mas, mê rico amigo, um home bebe desde o breço, nã há modos de largar, nã le parece? Isto nã é mintira ninua, era cma todos os outros pitchenos do mê tempo, mal davam um grito as mãs pansavam qu’era dôs de barriga, ala dar-les licô de esprite de canela, a gente ficava era bêbedos, coutadinhos, ó dispous, já más maorzinhos, era sopas de cavalo cansado, sabe isto o que é, o sê pai tamam dava às mulas uma garrafa de vim e um pã trigue, antes da viage da cedade prà Maia, sete léguas aluídas por aí adiante, entanse pra subir a Croa da Mata, mas más principalmente o Coucinho do Porto Formoso, aqui os carroceros tinham de metê a giga nos varales da carroça pra dar uma ajuda às bestas. Nos Calços, a camineta, qu’era a cravão, nã subia, os passageros tinham de descer e dar uma ajuda a impurrar, o malero ponhava uma pedra mal ela subia uma becadinho, os homes tomavam folgo e ala outro impurrãzinho. E cando era pra sair aqui da Maia, o malero ia aí plas quatro da manhã acender a caldera, despous a camineta tomava balanço pra pegar pla rua da igreja abaxo, se não pegava tava lá em baxo uma junta de bous pra a levar pra riba até à igreja, e lá ia ela por ali abaxo até pegar. E no Coucinho do Porto tava sempre outra junta.
Pous, fu ê munto prezado ofrecer uma garrafinha ó mê doutor, nem faz ideia cm’aquele home tratou a minha mulher, qu’ela morrê fou porque teve de sê, era uma santa, o que penou comigo só Dês sabe e ê tamam. É por isso que agora que tou viúve e na ritaia venho cá más vezes, mas esses coriscos pregam-me cada partida qu’ê nunca m’alembro de ter feto igual a outros, e inda menos a eles, mês ricos amigos. Mas esta fou ideia do João Cravalho, que se ri cm’o demoino cando le conté, e ê tolo inda le fu contar o que m’acontecê. Pous segue-se que cando ê incontré o doutô, despous de le dar a garrafinha, era de Macieira, tava à espera qu’ele me fezesse um elogio, qu’aquilo vendo era mesmo Macieira, eles fezeram a cousa munto bem feta, era tal qual. Um elogio, isso é qu’era bum! Cal-te-cá elogio! Sabe o qu’ele me disse? Os coriscos tinham botado era chá nas garrafas, qu’ê despous provê a outra, que tinha na ideia ofrecê-la a outra pessoa amiga. O doutor ri-se e disse-me, ele fala uma nisquinha de pertuguês, já le disse, “Ó senhor Franco, a aguardente na sua terra é munto fraquinha.”
Pous, fu ê munto prezado ofrecer uma garrafinha ó mê doutor, nem faz ideia cm’aquele home tratou a minha mulher, qu’ela morrê fou porque teve de sê, era uma santa, o que penou comigo só Dês sabe e ê tamam. É por isso que agora que tou viúve e na ritaia venho cá más vezes, mas esses coriscos pregam-me cada partida qu’ê nunca m’alembro de ter feto igual a outros, e inda menos a eles, mês ricos amigos. Mas esta fou ideia do João Cravalho, que se ri cm’o demoino cando le conté, e ê tolo inda le fu contar o que m’acontecê. Pous segue-se que cando ê incontré o doutô, despous de le dar a garrafinha, era de Macieira, tava à espera qu’ele me fezesse um elogio, qu’aquilo vendo era mesmo Macieira, eles fezeram a cousa munto bem feta, era tal qual. Um elogio, isso é qu’era bum! Cal-te-cá elogio! Sabe o qu’ele me disse? Os coriscos tinham botado era chá nas garrafas, qu’ê despous provê a outra, que tinha na ideia ofrecê-la a outra pessoa amiga. O doutor ri-se e disse-me, ele fala uma nisquinha de pertuguês, já le disse, “Ó senhor Franco, a aguardente na sua terra é munto fraquinha.”
domingo, 16 de março de 2008
Eu, com bigode sindicalista

Sei que tenho uma opinião escanhoada, se pensarmos no bigode sindicalista que Mário Nogueira vem dando à nação desde que a indignação desesperada (ou teria sido o desespero indignado) da classe docente disparou e acertou em cheio no coração do governo uma rajada de cem mil, todos juntos e a gritarem o mesmo de uma razão comum. Os professores contestam a avaliação, querem uma solução para esse seu problema profissional? Pois logo os sindicatos não querem, exigem uma. E o governo “não discute sob ultimato” e é tudo o que diz, grato pela borla para escapar ao debate técnico. E de repente já tudo gira em torno do tom de voz de um lado e outro, já tudo se resume à avaliação dos professores, ao que Sócrates tem que fazer, ao que o Ministério tem que ceder, ‘força!’ ou ‘forca!’ para Marilu, passe o exagero. Os professores, ou porque lhes interessa, ou porque é uma questão do seu trabalho, ou porque envolve a sua dignidade pessoal e de classe, ou porque os incomoda, ou porque é justo, ou porque os assusta, ou porque seja, não vêm a terreiro dizer que há mais e pior para corrigir quando falamos de Educação e Ensino em Portugal, que há outras questões que se calhar há anos os incomodam e perturbam o seu desempenho e a vocação dos que o são. Porque teriam que o fazer, aliás, perante o facto? Até porque só a questão da avaliação tem de facto pano para mangas, quer pela sua importância real, quer pela sua natural complexidade, não fosse o brio um requisito de humanidade de cada profissão. Resultado? Isto que vemos, isto que temos. Um mar de metades: meias verdades, meias medidas, meias desfeitas, meias curtas para estas pernas que fazem andar a cultura nacional, a educação e o ensino. E os putos sujeitos a quotas de dias perdidos. Os pais a pagarem essas quotas em cãs e numerário, nem sempre por essa ordem. E o país a perder agora e mais tarde, numa derrota colectiva com temporizador activado.
Tal como eu dizia, entre mim e o Mário Nogueira existe mais que um bigode sindicalista. Eu faria diferente se fosse a cara da luta dos professores (e não a cara da ‘Luta dos Professores’). Se tivesse acesso ao microfone principal do palco da reivindicação docente, também eu não aceitava que o Estado me impusesse a avaliação. Eu próprio impunha a avaliação dos professores, a minha avaliação, tão alto que o país pararia para me ouvir e o governo bateria a compasso quando eu exigisse uma gigantesca avaliação à prestação de cada professor. Nos termos que o ME sugere? Não, vamos carregar nas cores. Se resumem os senhores o tal ‘braço de ferro’ à avaliação, pois faça-se um aferir que inclua a prestação profissional nos critérios que preocupam o governo, sim, mas juntem-se ainda mais estes e estes e estoutros que espelham isto e mais aquilo e mais aqueloutro que prejudica a educação, que tolhe o ensino, no saber daqueles que há décadas o fazem e estão aí, insatisfeitos. E aí falemos de currículos, de colocações, de horários, de instalações, de carreiras, de números, de programas, do diabo a quatro que inferniza a escola em Portugal há anos demais. E de avaliação também. São os professores a exigi-lo. A gritá-lo, mais alto e mais duro que o governo. Querem conferir? Confiramos, mas todo o stock, não só a montra escolhida. E chamem-se os arautos do costume para mostrar o escândalo ao país e ao mundo. E faça-se tudo agora e com a mobilização de tudo e todos, professores, sindicatos, alunos, pais, varredores e apanha bolas - o país inteiro, porque o país inteiro não sobrevive sem educação, não respira sem ensino. E faça-se depressa, porra, numa só motivação, numa onda comum, que as crianças crescem depressa e tendem a reproduzir-se que nem martas.
Ninguém acredita possível este lirismo, certo? Mas eu respeitaria uma classe docente que fizesse tal exigência. Eu parava o meu passo, estacionava qualquer preconceito, encostava qualquer embalo para ver e ouvir um braço feito deste aço inox. Quereria saber mais da tal indignação que agora se confunde perigosamente nas sombras do jogo político, que se escoa na transparência das razões de todos (que todos as têm para a troca, é sabido e escusado discutir). E exigiria mais e melhor da outra parte, por mais minha equipa que fosse pela cor do voto, simpatia ou convicção. Que a verdade faz cair as máscaras, derrete-lhes o sebo de mentira que as cola à cara de quem as usa para sobreviver, politica ou profissionalmente. Por isso avalie-se o que se questiona de um lado, mas questione-se o que se avalia também, acrescentando as nossas razões na mesma exposição nacional. E porque não fazê-lo, se o essencial da classe docente, os bons que dão o seu melhor, não temem avaliações e não se deixam iludir com falsas questões? Mas ande-se para a frente com a carroça, que gritos e diz-que-disse, bigodes e porreirospá, só trazem fumaça e poeira aos tais avanços e recuos que dão meia volta e continuam em frente, para acabarem no mesmo sítio. Eles e nós.
(Deve-se este post a mais uma daquelas discussões aspirínicas que só lá, mesmo. Onde? Aqui, claro.)
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