Há gente assim, com vidas que nunca mais acabam. Seres com a estranha capacidade de se reinventarem mesmo no disparate.
De renascerem sempre, após cada uma das muitas mortes que vão tendo em vida. Tolos, há outros que lhes invejam este castigo como se fora uma gracinha para entreter os amigos nas noites frias de inverno ou nas amenas cavaqueiras de verão. São os tolos quatro-estações, que por desconhecerem a primavera das ideias estão condenados ao outono da mediocridade para sempre.


segunda-feira, 3 de março de 2008

Um tautau pessoal num rabinho presidencial

A animação não pára neste PSD meneziano. E em época aberta de tiro ao sócrates, nada mais natural que um ou outro chumbo extraviado a acabar em nádega alheia. Apenas dano culateral. Agora é Pedro Duarte, o vice-presidente do grupo parlamentar do PSD, na sua página pessoal na internet, quem dá um valente tautau a Cavaco Silva. «O Presidente da República tem assumido de forma irrepreensível a "cooperação estratégica" com o Governo, tal como se comprometeu com os portugueses. Contudo, sendo esta busca constante do "ponto de equilíbrio" um exercício muito delicado, é natural que possam surgir excepções à regra. Na minha opinião pessoal, perante a degradação acentuada do ambiente - de desmotivação e instabilidade - que se vive nas nossas escolas, o Presidente da República deveria ter intervindo com maior assertividade. No actual contexto, as suas palavras no Colégio Militar soam a uma estéril ambiguidade.» Tau. Tautau.

E continua, o vice de Santana: «É sabido que as decisões do Governo na área da Educação (algumas até grosseiramente ilegais) têm merecido uma distraída aceitação acrítica de Belém. Mas o ponto de crispação a que se chegou - insustentável para quem vive o quotidiano das escolas - não pode ser mais negligenciada pelo Presidente da República.» Por falar em Santana, o líder da bancada laranja não perdeu tempo a demarcar-se da irreverência deste seu jovem lobo. «Os presidentes da República não são para fazer oposição aos governos», admoesta. Com aquele tom de ligeiro enfado que o caracteriza, Santana Lopes foi claro ao afirmar que se trata de uma iniciativa particular do seu vice 'que não reflecte o espírito da bancada' e uma 'opinião pessoal', enfatizando o 'pessoal' com uma postura corporal de evidente desacordo, uma santanice conhecida e eficaz.

De Menezes nada se sabe, por enquanto e à hora que escrevo estas linhas, sobre a sua opinião pessoal quanto à opinião pessoal do vice-presidente da bancada parlamentar do partido que supostamente dirige, também supostamente a caminho do governo desta nação que somos. Mas da opinião pessoal de Pedro Duarte sabe-se o importante, já. Só falta mesmo a resposta para a grande questão que aquele dirigente laranja deixa posta para o partido e não só: «Se um Presidente não serve para intervir nestes momentos, em que a qualidade do ensino que é ministrado às nossas crianças e jovens se está a deteriorar perigosamente, serve para quê?» Na minha opinião pessoal, esta pode até ser uma pergunta inoportuna, do ponto de vista partidário ou até político, se quiserem. Mas não deixa de ser uma boa pergunta sob todos os outros pontos de vista. Afinal, se um Presidente não serve para intervir nestes momentos, serve para quê? Não está mal visto, não senhor.

(Nota posterior) «Deduz-se que, talvez também sustentado na sua experiência própria, Pedro Santana Lopes defende que deve ser o líder parlamentar a antecipar-se ao Governo, criticando a opinião de um deputado da sua própria bancada.» João Villalobos, noutro ângulo da análise, imperdível, aqui.

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