A primeira notícia que vi hoje, acordado anormalmente tarde para a informação do dia, foi este video do incidente escolar na Carolina Micaelis. Vi, revi, comentei e postei, a frio. Não fiz análise dos factos, limitei-me a expô-los e a chamar a atenção para a sua importância e oportunidade. Mas a reflexão é importante. É essencial tentar ver para além do óbvio, esmiuçar o pormenor daquilo que também está lá, sim, mas em segundo plano. É que a justa indignação gerada pela atitude da aluna, que faz o primeiríssimo plano desta situação, induz uma visão redutora do muito que aconteceu. Uma leitura que é, na circunstância, uma verdadeira tentação para este país insatisfeito com o actual panorama educativo e ansioso por um qualquer pretexto que faça saltar a tampa governamental. E já agora a ministra da Educação, claro. Ora este episódio está longe de ser um pretexto qualquer, é um argumento de peso em qualquer discussão séria sobre a realidade das nossas escolas. Que faz saltar inúmeras questões para cima da mesa, todas pertinentes e importantes, e que por isso deve ser visto e analisado sem paixão, num esforço de objectividade.
A situação filmada centra-se em duas pessoas, a professora e a aluna. Não está em causa, penso eu, qualquer dúvida quanto à incorrecção do comportamento desta aluna. Ela foi total e por demais evidente, não tem desculpa ou atenuante à primeira vista. Tudo parece começar como uma brincadeira que foi longe demais, um desafio assumido a uma autoridade que evidentemente já não era respeitada, logo à partida. Uma exibição tola de afirmação perante a turma e um exercício de cumplicidade com os colegas, que correu mal por ter sido levado longe demais. O comportamento desta adolescente de 15 anos foi mais do que impróprio: foi aberrante, nem bom nem mau. Toda a situação é em si aberrante, aliás. Os termos em que a aluna se dirige à professora, o seu tom de voz, o que diz e como diz, a postura gestual que assume logo à partida, tudo nesta garota é revelador de uma evidência que se perde no meio da algazarra: o problema tinha já começado antes de começar naquele dia. Muito antes. O problema vem de raiz e é um problema composto, são vários problemas juntos, todos graves, nem todos referentes ao universo escola. Na circunstância, não tendo sido capaz de fazer parte da solução, esta professora fez, também ela, parte do problema.
Não é dispensável um olhar crítico à actuação da professora naquela circunstância em concreto. A forma como ela lidou com a situação, como geriu o problema, a atitude que escolheu tomar (ou aquela única de que foi capaz), foi correcta? E em caso afirmativo, terá sido a mais indicada? Um duplo não seria a minha resposta, sem hesitar. Esteve longe da sensatez esta senhora, profissional do ensino, há que reconhecê-lo. Atrevo-me a especular se não terá sido um pouco vítima de si própria, também, mais que só dos outros. A sua postura, visível nas imagens, não cumpriu os mínimos de autoridade necessária para ter mão numa turma de alunos. Há nela um déficit de firmeza que se nota sem engano, alguma demissão da função disciplinadora do professor enquanto tal. Veja-se o ambiente em que tudo aconteceu, para começar; tinha tudo o que não deve existir numa sala de aulas, desde o barulho à desatenção, toda a gente de pé, risos e bocas, comentários e indisciplina geral. Sobrava confusão, faltava carisma de professor.
Logo no início, às primeiras palavras da aluna, não se viu a esperada, necesssária e correcta atitude de firmeza da parte da professora que, sendo firme e autoritária naquele momento como lhe competia, teria posto um ponto final e imediato em toda a questão. E o que vimos, em vez de firmeza e autoridade de professor? Assistimos a uma professora visivelmente intimidada e insegura a fazer o que faria qualquer coleguinha da mesma idade da garota: puxar mais, empurrar mais, discutir no braço o que devia estar resolvido na voz, ponto assente e não passível de discussão. E assim fragilizada e em queda de autoridade se expôs ao gozo generalizado da turma, um gozo que estava já presente no início, antes de tudo começar, como se pode de resto constatar pelo visionamento das imagens daquele ambiente indisciplinado, favorável ao tipo de evolução a que se pôde assistir. Confrangedor, convenhamos.
O episódio é triste mas não é para esquecer; pelo contrário, entendo que deve ser recordado este incidente. Mas só quando puder ser recordado numa análise serena. Só quando acalmar a indignação geral e baixarem quer o tom sindicalista da revolta, quer os dedos acusadores que agora se erguem todos num só movimento nacional. Com toda a politiquice rasteira que infecta de momento a questão educativa em Portugal, toda a reflexão sobre este incidente parece-me para já comprometida. Há que aguardar melhores dias. Quando o calor dos argumentos e a paixão dos queixumes derem finalmente lugar à razão e objectividade necessárias para, mais do que ver este video, se conseguir compreender de facto o que ele representa na vida de todos nós.
A situação filmada centra-se em duas pessoas, a professora e a aluna. Não está em causa, penso eu, qualquer dúvida quanto à incorrecção do comportamento desta aluna. Ela foi total e por demais evidente, não tem desculpa ou atenuante à primeira vista. Tudo parece começar como uma brincadeira que foi longe demais, um desafio assumido a uma autoridade que evidentemente já não era respeitada, logo à partida. Uma exibição tola de afirmação perante a turma e um exercício de cumplicidade com os colegas, que correu mal por ter sido levado longe demais. O comportamento desta adolescente de 15 anos foi mais do que impróprio: foi aberrante, nem bom nem mau. Toda a situação é em si aberrante, aliás. Os termos em que a aluna se dirige à professora, o seu tom de voz, o que diz e como diz, a postura gestual que assume logo à partida, tudo nesta garota é revelador de uma evidência que se perde no meio da algazarra: o problema tinha já começado antes de começar naquele dia. Muito antes. O problema vem de raiz e é um problema composto, são vários problemas juntos, todos graves, nem todos referentes ao universo escola. Na circunstância, não tendo sido capaz de fazer parte da solução, esta professora fez, também ela, parte do problema.
Não é dispensável um olhar crítico à actuação da professora naquela circunstância em concreto. A forma como ela lidou com a situação, como geriu o problema, a atitude que escolheu tomar (ou aquela única de que foi capaz), foi correcta? E em caso afirmativo, terá sido a mais indicada? Um duplo não seria a minha resposta, sem hesitar. Esteve longe da sensatez esta senhora, profissional do ensino, há que reconhecê-lo. Atrevo-me a especular se não terá sido um pouco vítima de si própria, também, mais que só dos outros. A sua postura, visível nas imagens, não cumpriu os mínimos de autoridade necessária para ter mão numa turma de alunos. Há nela um déficit de firmeza que se nota sem engano, alguma demissão da função disciplinadora do professor enquanto tal. Veja-se o ambiente em que tudo aconteceu, para começar; tinha tudo o que não deve existir numa sala de aulas, desde o barulho à desatenção, toda a gente de pé, risos e bocas, comentários e indisciplina geral. Sobrava confusão, faltava carisma de professor.
Logo no início, às primeiras palavras da aluna, não se viu a esperada, necesssária e correcta atitude de firmeza da parte da professora que, sendo firme e autoritária naquele momento como lhe competia, teria posto um ponto final e imediato em toda a questão. E o que vimos, em vez de firmeza e autoridade de professor? Assistimos a uma professora visivelmente intimidada e insegura a fazer o que faria qualquer coleguinha da mesma idade da garota: puxar mais, empurrar mais, discutir no braço o que devia estar resolvido na voz, ponto assente e não passível de discussão. E assim fragilizada e em queda de autoridade se expôs ao gozo generalizado da turma, um gozo que estava já presente no início, antes de tudo começar, como se pode de resto constatar pelo visionamento das imagens daquele ambiente indisciplinado, favorável ao tipo de evolução a que se pôde assistir. Confrangedor, convenhamos.
O episódio é triste mas não é para esquecer; pelo contrário, entendo que deve ser recordado este incidente. Mas só quando puder ser recordado numa análise serena. Só quando acalmar a indignação geral e baixarem quer o tom sindicalista da revolta, quer os dedos acusadores que agora se erguem todos num só movimento nacional. Com toda a politiquice rasteira que infecta de momento a questão educativa em Portugal, toda a reflexão sobre este incidente parece-me para já comprometida. Há que aguardar melhores dias. Quando o calor dos argumentos e a paixão dos queixumes derem finalmente lugar à razão e objectividade necessárias para, mais do que ver este video, se conseguir compreender de facto o que ele representa na vida de todos nós.
(Veja o vídeo AQUI)
12 comentários:
Claro. A atitude da aluna é reprovável, vergonhosa, mas, "aquilo" é uma Professora ??? Por Deus, não há nada que uma cadeira pelo ar ou um pontapé bem dado, não resolva !!! E teria que ser assim, já que a voz, no meio do barulho da classe, nem se ouve ...
Rui, não se viu como tudo começou. Só vemos a cena a partir do momento em que tudo está descontrolado. Acreditas mesmo que só com autoridade de postura e palavras a rapariga amansava? Ai Rui, como estás longe da realidade!...
Será impressão minha ou há, aqui, uns laivos de branqueamento da atitude da aluna pela inoperância da professora?
Eu sei, Rui, que vais argumentar que dizes que o comportamento da "adolescente foi aberrante", mas o que é facto é que fica a impressão de dares uma no cravo, outra na ferradura.
Por outras palavras, a ideia que passa é a de que a aluna errou mas a professora também, embora em muito menor grau.
E é isso que me põe a ferver. Admito que é um espectáculo confrangedor ver a impotência daquela professora perante a situação. Vou, até, mais longe: como professora, fiquei furiosa com o facto de não a ver tomar medidas mais drásticas. Eu tê-las-ia tomado, seguramente.
Mas, agora, sem o sangue a ferver na veia, pergunto-me e pergunto se tenho e temos o direito de esperar que a dita professora tivesse tido outro tipo de actuação. E a resposta é NÃO. Ter tido outro tipo de actuação seria uma mais-valia para o professor que, porventura, fosse capaz de o ter tido mas não constitui uma menos-valia para quem, como esta professora, não o teve. Por outras palavras, o ter actuado de outra maneira teria sido um direito mas não um dever.
É sabido que, contrariamente a outras profissões, na profissão de professor, o perfil humano é algo que emerge naturalmente e como tal é-lhe atribuída fundamental importância. É esse o desafio maior da profissão. Mas daí até haver exigências de que o professor tem que ser infalível, assim uma espécie de super-homem, vai um fosso. O professor é um profissional. É mão-de-obra especializada. Ensina. E o que educa deve decorrer, naturalmente, da circunstância de lidar com "massa" humana. Ora, nenhum professor tem o dever de estar preparado para uma situação como a que ocorreu. Uma situação como aquela a que se assistiu nem sequer deve ser previsível. Pura e simplesmente NÃo PODE acontecer.
A disciplina e o respeito na sala de aula têm que ser dados adquiridos. Tão adquiridos como o é o de "toda a gente tem direito ao ensino".
Longe vão os tempos de se considerar a profissão de professor um sacerdócio.
E o video mostra uma sala onde, de facto, reina a confusão, a indisciplina, a ausência do mais elementar civismo e humanismo.
São animais, os que lá estão. E, como tal, não têm direito a lá estar. E não me venham com paninhos quentes de " são adolescentes". São vítimas da educação dos pais. Serão e " eu com isso"? Internem-se uns e outros. Castrem-se os pais. Ponham-se os filhos em reformatórios. Mas tirem esses energúmenos das escolas, que as escolas não se fizeram para bestas. E não estejam à espera que os professores eduquem os monstros que os pais criaram! Esses mesmos que batem nos pais e que os pais asseguram aos professores que estão fartos deles, que não sabem mais o que lhes fazer.
Voltando à atitude da professora. Disputou o telemóvel com a histérica da rapariga. Não devia tê-lo feito? Deixava a rapariga levar a melhor e continuar com o telemóvel? Chamava um funcionário para põr a aluna fora da aula? Dava-lhe uma bofetada, remédio santo -dizem- para crises de histeria?
Parece-me ter percebido que, a dada altura, a professora tenta ir para a porta, o que lhe é impedido. Logo, a hipótese de chamar o funcionário fica posta de parte. Deixa a aluna ficar com o telemóvel e, depois da aula, resolve o assunto e participa disciplinarmente da aluna? Talvez.
Mas não é exigir demasiada auto-contenção de uma pessoa que se depara com uma situação tão insólita quanto revoltante, possivelmente com os nervos desgastados ( decerto que a aluna já teria sido advertida para não usar o telemóvel)?
E o que mais se vê por aí é pessoas a exigirem dos outros o que não conseguiriam fazer. Eu, por mim, confesso que não sei o que faria numa circunstância daquelas. Nem consigo concebê-la.
Mas se uma professora reagiu assim e não assado, quem sou eu para exigir que ela tivesse reagido assado e não assim?!
Há pessoas mais intuitivas, outras menos; há pessoas que têm mais facilidade em impor-se do que outras; há pessoas mais pacatas e outras mais impulsivas. E ser professor é ser-se pessoa. Não super-homem ou super-mulher. Eu gostava de ver muito teorizador no lugar daquela professora. Se calhar, acabavam-se-lhe as peneiras.
Quanto à culpabilização do ME e da Ministra, ela não pode pelo menos deixar de ser ponderada, sem que com isso esteja a hastear a bandeira sindicalista.
Quem estiver por dentro, facilmente perceberá que o excesso de facilitismo e de indulgência inerentes ao novo estatuto do aluno, contrapondo-se ao excesso de rigor e intransigência para com a classe docente, podem perfeitamente potenciar situações dessas.
Não é necessário ter-se uma bola de cristal. É tão somente preciso conhecer um pouco da realidade e somar dois mais dois.
Canalizar as raivazinhas e os complexos de boa parte do eleitorado para um bode expiatório é, simultaneamente, uma maneira de desviar as atenções da impolítica que se vive neste país e de ter o apoio das massas brutas e analfabetizadas.
Que eu própria reconheço que o ensino como muitas outras instituições está a precisar de reforma( honestamente, não estou a ver nenhuma que não precise).
Porém, resumir a solução para o ensino à avaliação de professores ( quaiquer que sejam os critérios) nunca deixará de ser, para quem tenha dois dedos de testa, uma falsa solução. O que os professores precisam mais é de formação e preparação. Uma triagem alicerçada em critérios rigorosos e exigentes. Uma formação que os prepare para fazer face a uma sociedade em convulsão. E, sobretudo, o que é imprescindível é educação para os pais. Para a família. É que parece que todos os males começam na Escola, quando a psicologia do desenvolvimento mostra que é numa primeira fase da infância que se forma a personalidade do indivíduo. A Escola apenas dá continuidade a esse processo, como mais um elo da cadeia educacional.
Se os pais começarem a ter de responder pelos comportamentos dos filhos menores, como ocorreria num caso idêntico ao que estamos a comentar e, por exemplo na Finlândia ( com cujo exemplo toda a gente enche a boca) tenho a certeza que muitos pais não continuariam a demitir-se de educar os filhos e de descarregar na escola e nos professores a responsabilidade de o fazer.
Mas educar nestes moldes ( e não me parece que haja outros ) demora tempo e custa dinheiro. E isso são dois factores inimigos de certas políticas e políticos.
É preferível continuar a apostar no eterno " faz-se conta" que não faltarão, como sempre, papalvos a apoiar.
Não sei se voltarei aqui nos próximos dois dias. Vou ter pouco tempo mas acho que não vou resistir à borrasca que (adivinho)não tarda.
Boa Páscoa para todos.
cadeirónimo,
pois, bem, enfim...
daniel,
Eu não sei se amansava, nem sei mais eu, aqui de cadeira, que a própria no meio da borrasca, isso é certo.
Mas convirás que entrar naquele jogo de empurrões e teima, tipo 'vamos a ver quem fica com o telemóvel', é coisa de garotos e só pode dar mal resultado. Quando há um adulto presente numa situação dessas, o normal é ouvi-lo dizer aos meninos "então, então, resolvam lá isso a falar, entendam-se, vá...". Estou enganado?
um professor não pode dnem deve ir por aíÉ abrir uma porta de consequências imprevisíveis, é arriscar a perda do respeito que lhe é devido, tenha força física ou não.
mifas,
querida amiga, estás com febre e em delírio. É o que eu digo no texto, há paixão a mais e objectividade a menos no ar, para se fazer uma leitura razoável. Sobra o disparate.
Tu própria és pródiga neles, neste teu comentário. Não queres de facto que se 'castrem os pais', logo dizes disparate. Não acreditas, tu, professora, que aqueles alunos «São animais, os que lá estão. E, como tal, não têm direito a lá estar.», logo, dizes disparate. Não queres decerto nada disto: «Internem-se uns e outros. Castrem-se os pais. Ponham-se os filhos em reformatórios. Mas tirem esses energúmenos das escolas, que as escolas não se fizeram para bestas.», logo dizes disparate.
Não é que eu não entenda o teu sentir, que não perceba (entre o que dizes) o que queres dizer. Mas terás de convir que há pouco lugar para disparates numa discussão séria sobre Educação e Ensino.
Prova o folar, beberica um licor, respira três vezes, lê uns salmos, inspira(te) o espírito pascal.
Verás que passa.
beijo.
Rui,
não tenho tempo para responder que tenho um almoço de anos.
Aliás, li o teu comentário de soslaio mas o suficiente para reparar que estás a importar um discurso misto de displicência e paternalismo, que eu já conheço de algum lado e que, digo-te honestamente, não aprecio. Vá lá que tiveste a perspicácia de perceber que havia o que eu queria dizer e o que eu disse, ou seja, o desdobramento entre um discurso emotivo e um racional.
Porém, tenho dúvidas de que, em certos casos, apelar pela razão e pela objectividade não seja trabalho em vão. Assim como dar pérolas a porcos...
É que, se não se resolvem certas coisas com emotividade, com lirismo também não.
E eu estou farta de ver toda a gente a pronunciar-se e a ditar sentenças sobre o ensino. Bem sei que todos somos educadores. Mas também filósofos. E poetas. Pois se têm tanta ânsia de educar, comecem por casa, pelos filhos e logo verão que as escolas passarão a ser paraísos e deixará de haver professores-papões.
Aliás, há muitíssima gente que não entende a diferença entre "instruir" e "educar" e que continua a pensar, porque isso os faz dormir de consciência sossegada, que nas escolas é que se educa.
Até o povo sabe que "de pequenino é que se torce o pepino".
Rui, olha que eu gostei muito do que a Mifá escreveu. É óbvio que há ali linguagem figurada, mas tenho a impressão de que o que ela diz, como metáfora ou desabafo a respeito da castração, tu o diria pensando na hipótese real se fosses professor de mimos como aquela rapariga.
Eu compreendo com os dois pontos de vista.
Por um lado, acho que o Rui tem toda a razão. A professora não deveria sujeitar-se aquela situação. É humilhante para ela como ser humano e como professora. E concordo com o Rui, perante a histeria de uma aluna, o professor não deveria entrar em conflito directo com quem era suposto estar a educar. Se não fosse por todos os motivos já apresentados, eu diria que simplesmente por respeito a si própria. Porque aquilo que eu vi foi uma guerra de garotas a disputar um telemóvel. Uma garota educanda e uma garota educadora.
Por outro lado também compreendo o seu ponto de vista, Mifá. Aliás todos concordamos com “A disciplina e o respeito na sala de aula têm que ser dados adquiridos.” Mas repare que ninguém está a branquear a histeria da aluna com a falta de sangue frio da professora. A adolescente precisa de educação. E nisso estamos todos de acordo. E a professora precisa de rever os seus métodos. E precisa de também ser chamada a atenção por isso. Não teria sido preferível que a professora abdicasse temporariamente do telemóvel e que fosse chamar alguém com pulso para controlar a situação?
É que eu, em nenhuma situação, me via como educadora, a disputar o que quer que seja com um adolescente alterado, a quem eu deveria estar a educar e formar.
Beijinhos e boa Páscoa.
( numa escapadela)
Se querem discutir a sério a educação, só vejo uma via: procurar entender o que leva uma adolescente de quinze anos (ou qualquer outra pessoa, de qualquer idade) a entrar em histeria por lhe ser apreendido um telemóvel, ainda por cima, numa aula e, ao que parece, com toda a legitimidade.
Quando eu vir alguém preocupado em analisar os factos que estão subjacentes a essa atitude da aluna, eu tiro o chapéu e digo, sem favor, "agora sim, está-se a discutir educação porque está-se a ir às causas". E essas, seguramente, estão muito arredadas da Escola e são-lhe muito anteriores.
De contrário, o que eu vejo, metaforicamente falando, são péssimos médicos tentando afastar a dor sem erradicar o que a provoca. E isso, no meu conceito, não é educar. Faz-me lembrar certos pais que dão à criança o brinquedo que tinham afastado por ser perigoso ou inapropriado, mas que, perante o esperneio e os gritos do filho, voltam a dar-lho.
É mais fácil e mais rápido. Que isso de educar é tarefa árdua!
Não venham é depois queixar-se nem culpabilizar os outros de não terem sucesso onde eles próprios, com muito mais responsabilidade e em situação infinitamente mais privilegiada, falharam.
Acho que pode haver tanto amor numa bofetada como num beijo, se aquela fôr dada oportunamente.
Mas instituiu-se, à "boa" maneira americana, que a bofetada é crime e não tarda que os filhos comecem a fazer delação do progenitor que lhes enfiou um tabefe.
Crime é ser-se indiferente. Isso sim é que é crime.
Por isso não admira que cada vez mais adolescentes, à falta da dita providencial e apetecida chapada, tenham comportamentos compulsivos: não são castigadas, auto-flagelam-se. Isso se forem minimamente bem formados que, se o não forem, flagelam os outros.
Ná, nada como um tabefe a tempo e horas.
É até uma caridade, que há tanto quem precise deles como de ar para respirar.
E era isso que, possivelmente, eu teria feito no lugar daquela professora. Mesmo sabendo que era certo como dois e dois serem quatro que, posteriormente, me veria a braços com um processo disciplinar.
É que os estupores estão sempre protegidos ( e a Escola é apenas um reflexo do que se passa, mais alargadamente, na sociedade). E os não-estupores, quem é que os protege?
Daniel,
muito obrigada pelas suas palavras.
Começo a sentir a "lira enfraquecida", como o vate que desanimou depois de ter "cantado a gente embrutecida".
´
Um abraço ( vá lá, para ti também, Rui, mas só um bocadinho ).
mifa,
em dois comentários, não pequenos, não te referes uma única vez com uma única palavra, para amostra, ao que o post levanta: 'e a professora, terá tido a melhor atitude'? Era apenas isto, sem prejuizo de tudo o resto.
Porque estás em roda livre, ouves esta pergunta e logo se te agitam milhares de fantasmas de acusações e branqueamentos. Não páras para pensar na questão. Vais atrasada para dizer outras coisas. E assim conversas, avisando que honestamente não aprecias o tom dos outros, quando não te batem palmas, e que os outros devem começar por educar as suas bestas lá em casa, quando se atrevem a opinar sobre o 'teu' mundo, a 'tua' escola, os 'teus' alunos, o 'teu' ensino. Sabes tudo, és a melhor, açambarcas toda a razão, reivindicas a certeza total e o total acerto. Nem tenho, aos teus olhos, estatura para te responder, nem tu tens, aos meus, necessidade de respostas. Tens todas. Leva a bicicleta, tem espelho (retrovisor). Sê feliz.
daniel,
fico muito feliz que tenhas gostado. É a grande lição da grandeza divina: há sempre quem goste de nós, assim Noé encheu o bote com pares.
saci,
nem mais.
Insaci�vel,
fiz, h� umas horas atr�s, um coment�rio que estranho ainda n�o ter sido publicado, em que tento justamente fazer uma breve reflex�o sobre a diferen�a entre "educar" e "instruir" e a quem cabe, respectivamente, cada uma dessas fun�es.
N�o lhe parece que pretender educar e formar, a partir dos quinze anos e no espa�o Escola, � t�o redutor quanto ut�pico?
Quanto �s v�rias outras op�es de tomada de posi�o por parte da professora, ocorre-me um prov�rbio: "depois de todos comerem, n�o faltam colheres".
Lembro-lhe que os factores surpresa e ins�lito nem sempre inspiram as reac�es mais adequadas.
E, como j� disse e repito, n�o acho que nenhum professor deva estar preparado para fazer face a situa�es do tipo da que estamos a comentar. Se o estiver, � um m�rito acrescido mas n�o um tra�o exig�vel ao seu perfil.
No meu entender, pretender o contr�rio equivale a fazer a apologia de uma Escola tutora, e a desculpabilizar os verdadeiros educadores: os pais ou quem lhes fa�a as vezes.
Obrigada pelos votos de boa P�scoa que retribuo.
Rui,
acabei de ler o teu comentário que, curiosamente, publicas antes do meu terceiro "não-pequeno" de que ainda estou à espera, não obstante, ter sido escrito há um bom par de horas.
Peço-te que dispenses um pouco mais de atenção ao que escrevo.
Poderás ter a tua tão ansiada resposta à tua não menos angustiada pergunta" a professora terá tido a melhor atitude?".
Repito: teve a que lhe ocorreu, no momento, e a melhor NÃO ERA OBRIGADA.
Com franqueza, estás a fazer-me lembrar aquelas pessoas que perante alguém que tenha a cabeça rachada, optam por lhe tirar o pêlo encravado.
Quanto à profusão de determinantes possessivos que atribuis à minha pessoa, ( "teu mundo", "tua escola", "teus alunos", etc) sugiro-te que acrescentes, de preferência com maiúsculas, a "TUA DIGNIDADE".
De resto, eles, possessivos, não me atrapalham. Até já fui catalogada de dona-de-escola por alguém que possivelmente lê pela mesma cartilha que tu.
Agora,o que não aceito é ser dona no que toca a responsabilidades e exigências e visita no que toca a direitos e capacidade de decidir. Lembra-me uma máxima muito edificante: " na minha casa manda ela mas nela mando eu".
É que eu fui aluna no reinado dos professores e, se não concordo com cabeças coroadas, também não vou deixar que me obriguem a ser professora no reinado dos alunos, capice?
Costumo dizer aos "meus alunos" que não lhes peço nada; exijo-lhes. E isto porque o que espero deles é absolutamente razoável e justo.
Quanto à bicicleta, fica tu com ela que eu cá prefiro carros.
Também não precisas de repetir o tom agastado por causa dos "não pequenos" comentários.
estou habituada a ser desejada e não aborrecida, e não dou por menos.
Peço-te, sim, que publiques o meu antepenúltimo comentário. Se te aprouver, claro.
Por favor, ignora o meu último e ,salvo erro único, pedido. É que acabei de ver publicado o tal comentário.
"Um rei fraco faz fraca a forte gente." (E uma rainha também.) O Camões disse quase tudo. O que faltava dizer disseram-no o padre António Vieira e o Fernando Pessoa.
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