Há gente assim, com vidas que nunca mais acabam. Seres com a estranha capacidade de se reinventarem mesmo no disparate.
De renascerem sempre, após cada uma das muitas mortes que vão tendo em vida. Tolos, há outros que lhes invejam este castigo como se fora uma gracinha para entreter os amigos nas noites frias de inverno ou nas amenas cavaqueiras de verão. São os tolos quatro-estações, que por desconhecerem a primavera das ideias estão condenados ao outono da mediocridade para sempre.


quinta-feira, 27 de março de 2008

Pequim lava mais branco

Nem só o Fairy é campeão de limpeza, digam lá o que disserem as campanhas publicitárias. Praticamente em vésperas de receber a fina-flor do desporto mundial para estes jogos Olímpicos de Beijing, a China entrou em limpeza geral de fachada e zonas comuns um pouco por toda a parte. Nas ruas das principais cidades não se encontra um, para amostra: foram já erradicados todos os gatos, cães e humanos vadios que as enchiam durante todos os dias normais e não olímpicos. A rataria também foi exterminada ou quase, tamanha a sequência de doses letais de raticida despejadas nos sítios do costume. E fachadas de edifícios e calçadas estão a ser esfregadas com o mesmo vigor com que se reprime um Tibete, mas com menos mortos, graças a Deus. Mas a medida mais original de todas foi sem dúvida a que decretou o fecho de todos os bordéis e casas de massagens, não tão poucas como isso, que existem por toda a China.

De recordar que a esmagadora maioria das novas prostitutas chinesas, de acordo com uma informação da Agência Reuters, é oriunda das zonas rurais e procura as grandes cidades para acabar na mais velha profissão do mundo, ao tentar escapar à miséria que grassa no interior do país. São as modernas escravas sexuais, que só podem visitar as suas famílias uma vez por ano, por norma durante o Festival da Primavera. Os cerca de trezentos euros mensais que conseguem ganhar a prostituir-se representam uma verdadeira fortuna e, na maioria dos casos, são garantia da sobrevivência das suas famílias. Agora, pela primeira vez e durante todo o tempo que vão durar os Jogos, os bordéis vão estar fechados, as ruas limpas, os vadios recolhidos e os ratos exterminados. É a China que se mostra ao mundo, decidindo o que quer que de si se veja. Retocando as cores de postal ilustrado. E é Beijing 2008 que já começou, estabelecendo um novo recorde para a hipocrisia que pode, quer e manda abaixo do tecto do mundo. Um recorde olímpico.

1 comentário:

Anónimo disse...

Sem os cães, o que é que eles vão agora comer, tadinhos ? Arroz, arroz, arroz !!! Faz prisão de ventre e é bem feito !