Há gente assim, com vidas que nunca mais acabam. Seres com a estranha capacidade de se reinventarem mesmo no disparate.
De renascerem sempre, após cada uma das muitas mortes que vão tendo em vida. Tolos, há outros que lhes invejam este castigo como se fora uma gracinha para entreter os amigos nas noites frias de inverno ou nas amenas cavaqueiras de verão. São os tolos quatro-estações, que por desconhecerem a primavera das ideias estão condenados ao outono da mediocridade para sempre.


terça-feira, 4 de março de 2008

Shit exists

Eu sabia. É por estas e outras que eu nunca, mas mesmo nunca, nunca pego sequer no 24Horas, de lê-lo então Deus me livre, jamé!. Desde que lá vi a notícia da minha morte recente que (vá lá perceber-se porquê) me sinto no direito de duvidar de tudo o que lá possa dizer, até da data que traga no cabeçalho. Mas desta vez lá fui, em busca da foto de que falava aqui, confirmando antes de comentar, regra de base; e pronto, foi o que bastou. Tiro e queda. Tropecei na página 12, Nacional, toda dedicada a mais uma acutilante investigação sobre o 'caso Maddie', da autoria de um intrépido colega que assina Carlos Tomás, e que escreveu um extenso artigo que começa exactamente assim: «"Eles entraram e foram imediatamente reconhecidos por todos os passageiros e tripulação. Não apresentavam qualquer sinal de sofrimento. Foram arrogantes. Olharam para nós com um ar de enorme desprezo e ocuparam os respectivos lugares. Não pareciam pessoas que tinham perdido uma filha. Não vimos qualquer expressão de dôr em qualquer um deles". As declarações foram feitas ao 24Horas por uma hospedeira que efectuou serviço no avião em que viajaram os McCann no dia em que decidiram abandonar Portugal, logo depois de constituídos arguidos.» Inacreditável, não é? É Deus no céu e o 24Horas na banca, o divino e o adivinho das culpas alheias, escultor de verdades infalíveis. Um luxo, até aqui. Mas há mais.

Da boca da mesma 'fonte da tripulação', supostamente 'uma portuguesa a residir em Inglaterra', colhe o 24Horas o 'furo' da culpa dos McCann e a reportagem exclusiva da viagem, mais uma pérola digna do Troféu Nova Gente: «Pareciam com um ar de culpa. Depois de o avião descolar pediram um café que beberam com as cabeças baixas e foi nessa posição que fizeram toda a viagem». Digam-me: os senhores não acham isto um nojo? Sou só eu que sofro o vómito? Alguém que me explique, é urgente que eu cresça de uma vez por todas: então se eu carrego por lei, estampado no embrulho dos meus cigarros, o grito histérico 'Fumar mata' para me avisar os pulmões; se por lei me informam dos perigos da exposição solar em cada bronzeador que compro; se por lei me protegem do colesterol, da cafeína, da cocaína, da D.Joaquina (que faz pastéis em casa), dos brinquedos que matam crianças, das bolas de berlim e da ginginha assassina, qual, meu Deus!, qual é a bendita razão para não ser obrigatório um sinal luminoso intermitente em cada exemplar daquele pasquim, que faz diariamente aos seus leitores a mesma coisa que o capitão Roby fazia só de vez em quando às moçoilas que engatava? Coisa da mais elementar decência, só para avisar que o consumo prolongado de mixórdia como este 'furo' dos McCann intoxica a alma da gente, apela à bestialidade, tira-nos o norte da informação. Se o sexo ocasional requer preservativo, aqui um aviso luminoso era o mínimo, já, obrigatório. Uma questão de saúde pública, entenda-se.

2 comentários:

Teresa disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anónimo disse...

É. "Ela" exits mesmo e... não é só no "24 horas"...
Você, continua em grande! No sarcasmo e na escrita. Boa :)!
Abreijos,
Maria (açoriana)