

RVN
more than meets the eye
Ando doido por comprar uma casinha. Um têzerozinho, no Algueirão ou em Massamá, com kitch e net e vista para a rua. E quero fazer um armazém de vinhos, também, para guardar as Teobar e Casal Garcia que já tenho em stock. Não há prisão como a nossa, essa é que é essa. Cela, doce cela.
RVN
De sábado para domingo passado, numa noite igual a todas as outras em Borralheira de Orjais, Covilhã, uma meia dúzia de homens esteve a beber, a rir e a contar estórias antigas, daquelas que se contam mil vezes para rir sempre, assim não falte o copo de tinto para molhar a palavra. Um deles ocupava o honroso cargo de bombo da festa por tradição privada do grupo. Embora fosse sistematicamente abusado pelos outros, nunca tinha acontecido nada, jura o povo.
E de facto ele continuava vivo no sábado, quando entrou para os copos do costume. Nessa noite a malta bebeu e bebeu e fartou-se de rir, pá, foi porreiro. Quando o dia raiou a malta já tinha ido toda para casa. O café ficou fechado, as paredes ficaram mijadas, trinta garrafas ficaram no chão e o Zé Inácio ficou com uma perna atada ao pneu de um carro e pendurado por um braço ao placard da Junta de Freguesia onde se anunciam as mortes da aldeia e os editais, pá. De manhã estava morto, afogado em álcool, que o gajo era asmático. É pá, foi uma ganda noite.
A Argentina é a pátria do tango, música quente, lânguida, dança voluptuosa e sensual.
Portugal é fado.
RVN
O ex-líder do PSD Luís Marques Mendes, que na semana passada renunciou ao cargo de deputado, pediu agora a atribuição da subvenção mensal vitalícia a que tem todo o direito legal, depois de vinte anos a ser eleito deputado. A subvenção mensal vitalícia é uma prestação social a que vários deputados ainda em funções têm direito e que chegou a ser garantida para quem estivesse apenas oito anos no Parlamento. Mais tarde passou para um limite de 12 anos. Foi revogada em Outubro de 2005. Mas todos os deputados que até 2009 cumpram esses 12 anos têm direito a pedi-la. Marques Mendes tem 20 anos de parlamentar, ainda que muitos deles passados com o mandato suspenso para exercer funções governativas. Ou seja, tem direito ao máximo da pensão, 80% do último ordenado, dois mil e novecentos euros, mais tuste menos tuste. E quando o seu pedido for aprovado pela Caixa Geral de Aposentações, o que será breve, Luis Marques Mendes será aos 50 anos o nº 384 da lista de portugeses que recebem uma pensão vitalícia por fazerem política. Oito milhões de euros previstos no O.E. de 2008, no total. Para quem faz ou fez política.
RVN
As conclusões deste estudo estabeleceram ainda que os portugueses são os menos cívicos e apenas ultrapassados por mexicanos e franceses, ocupando também a terceira posição entre os povos que acham legítimo receber apoios estatais indevidos (baixas por doença, subsídios de desemprego etc.), adquirir bens roubados (14º lugar para os portugueses contra 20º lugar dos franceses) ou aceitar luvas no exercício das suas funções (12º lugar para os portugueses e 21º lugar para os franceses).
Mas há mais. Para quase 20 por cento dos portugueses e franceses "para se chegar ao topo, é necessário ser corrupto". Convidado pela agência Lusa a comentar este estudo, Mira Amaral, ex-ministro de Cavaco, economista e professor universitário, fez questão de explicar que neste ponto existem duas motivações. Uma assente na inveja dos que não suportam ver alguém triunfar e outra baseada na convicção justificada do povo de que a classe política, através de esquemas, promoções e "amiguismo", consegue obter mais privilégios do que os devidos. "A promiscuidade entre grupos económicos e políticos leva as pessoas a terem alguma razão nessa sua desconfiança", constata Mira Amaral.
Eu cá estou de acordo. Cem por cento. E muita gente estará também de acordo com o Dr. Mira Amaral, estou certo. Mas o que me deixa de facto reconfortado nestas declarações do ex homem forte da Indústria nacional e da vida político-partidária é saber que embora afastado da governação, o Dr. Mira Amaral continua naturalmente a viver nos mesmos círculos profissionais e a dar-se, no geral, com as mesmíssimas pessoas. Os interesses dos uns, dos outros e de todos mantêm-se iguais, que eu saiba. E as regras do jogo também não me consta que tenham sido alteradas por aí além nos últimos trezentos anos, para já não recuar até à Roma Antiga que fica longe. Por isso digam lá que não aquece a alma à gente ver e ouvir uma candura assim, qual rabinho de bébé, nesta confissão resignada de Mira Amaral.
As coisas são mesmo assim e não há nada a fazer? OK. Tá certo.
RVN