Há gente assim, com vidas que nunca mais acabam. Seres com a estranha capacidade de se reinventarem mesmo no disparate.
De renascerem sempre, após cada uma das muitas mortes que vão tendo em vida. Tolos, há outros que lhes invejam este castigo como se fora uma gracinha para entreter os amigos nas noites frias de inverno ou nas amenas cavaqueiras de verão. São os tolos quatro-estações, que por desconhecerem a primavera das ideias estão condenados ao outono da mediocridade para sempre.


domingo, 10 de fevereiro de 2008

Bonnie & Clyde nos jardins proibidos

Se Portugal é um quintal de regras, Lisboa é o pátio do absurdo. Hoje esteve um dia lindo, cheio de sol cá pela capital. Lisboa saiu à rua e eu cá não sou Algueirão nem Martins para deixar de ir na marcha deste sol de Inverno. Lá fui eu e o meu Gastão, este par de jarras floridas na grande toalha alfacinha. Corremos Alfama e descemos a Avenida, vimos Lisboa antiga e Lisboa moderna, espreitámos o Bairro Alto e visitámos os bairros altos, altos bairros que Lisboa viu nascer ontem e hoje há bocadinho. Fomos aqui e viemos dali, disfarçados, camuflados. Atrevemo-nos até a passar nos jardins proibidos, ninguém viu, vá lá, correu bem a aventura. Às escondidas, claro, chegámos até a pisar o verde, num assomo de ousadia rural. Clandestinos, chamámos nossa a esta cidade de todos. Safámo-nos sem ordem de prisão. Guardo os retratos de família e os nús, que não vejo vantagem em exibir intimidades. Mas deixo-vos uns postalinhos do que é público e nosso. Da cidade que somos. Do absurdo em que nos tornámos. E uma notinha de rodapé, já agora.










Aquele cartaz diz que o jardim é zona proibida a animais. E percebe-se porquê, ao ver as fotos. Os animais sujam os nossos jardins e a nossa cidade. Porque são uns animais, claro. Ainda bem que há leis para combater esse problema. Que estão a resolver a situação, como se pode ver. Por isso não podemos deixar os nossos cães pisarem a mesma relva que as nossas crianças. Para não estragarem a relva nem sujarem tudo. Tem lógica. Muita lógica. Eu, bandido e clandestino, confesso aqui e agora uma verdade de Lei: nesta sequência de fotos que vos deixo, o único proibido de ali estar é o Gastão. Meu companheiro de crime. Tudo o resto é legal. E é normal em Lisboa.

7 comentários:

Rui Vasco Neto disse...

zazie,
terra de doidos, esta nossa. acredita.

Sabina disse...

E o cartaz especificava que animais eram proibidos?

Anónimo disse...

Meu Deus, o Gastão está lindo de morrer! Só tive olhos para ele, de tal maneira que nem vi a mer..., hum, a porcaria.
E o jeitoso que está de gorro vermelho és tu, Vasquinho?
É que, ultimamente, parece-me que te tenho visto mais... de costas.

Anónimo disse...

Neste país há um notável equilíbrio no desequilíbrio das coisas e da vida.

Rui Vasco Neto disse...

saci,
sim, tem lá o boneco do cãozinho.

mifas,
não sou eu, não, mas o gastão está demais, não é?

daniel,
sábias palavras, cirúrgicas.

piedade disse...

Espero que tenhas pensado em mim quando desceste e subiste !!! Há um período deste texto que apreciei muito. Pois, foi esse mesmo. Foi bom (q.b.) ver os postalinhos, Gastão sempre Gastão e o lixo no seu melhor !!!

Rui Vasco Neto disse...

pi,
claro que sim, gastão é o maior.