Há gente assim, com vidas que nunca mais acabam. Seres com a estranha capacidade de se reinventarem mesmo no disparate.
De renascerem sempre, após cada uma das muitas mortes que vão tendo em vida. Tolos, há outros que lhes invejam este castigo como se fora uma gracinha para entreter os amigos nas noites frias de inverno ou nas amenas cavaqueiras de verão. São os tolos quatro-estações, que por desconhecerem a primavera das ideias estão condenados ao outono da mediocridade para sempre.


segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

A precipitação da mulher de César

Faço a medição possível ao pulso nacional ouvindo hoje a 'Opinião Pública' na SIC Notícias. Tema, os McCann e as declarações de Alípio Ribeiro. Convidado o juiz Rui Rangel, convidados os espectadores que botam faladura. Não me espanto com o crucificar do director geral da PJ e muito menos me surpreende o ódio aos McCann, com Kate à cabeça, destacada. O povo é o povo e a voz do povo é sempre soberana, até quando a asneira é colectiva. Espanta-me a análise dos homens de inteligência e de Direito, do judicial e do judiciário, que se mostram chocados com o ribeiro de suspeitas que Alípio pôs a correr. Uma espécie de Marinho Pinto da bófia, no dizer actual dos supostamente primeiros interessados na eficácia e transparência da Justiça portuguesa.

Alípio Ribeiro pode até não ter tido ponderação ou oportunidade naquilo que disse, aparentemente o pormenor que toda a gente quer discutir, mas teve e tem uma inegável legitimidade para o fazer, e isso não é passível de discussão. E tem uma obrigação de conhecimento que mais ninguém tem neste país, também. Se ele não souber o que diz sobre o aquilo que disse, quem sabe mais? O Moita Flores? Por isso me espanta ver e ouvir o juiz Rui Rangel preocupado com a 'fragilização' da PJ, a fragilização do MP e, sobretudo, com a fragilização da 'confiança na PJ, uma polícia que tem uma actuação comprovada pelos números', sem explicar se a investigação Maddie conta para a estatística citada. Diz Rui Rangel que o director da PJ foi 'precipitado' ao chamar precipitada a constituição de arguidos dos McCann. Não diz que não foi errado fazê-lo, mas acha errado admiti-lo. Não é de bom tom. A bem da credibilidade da PJ, a bem da credibilidade do MP e, presume-se, a bem da Justiça, naturalmente. Para este juiz, é melhor insistir num erro e fazer dele a capa vermelha da 'linha de investigação' que arrepiar caminho e anunciá-lo por alguma razão. Não sei porquê, não era assim que eu recordava a história da mulher de César. Sei que ela tinha que parecer séria, é certo, mas não era suposto já o ser bastante, à partida e na essência?

3 comentários:

Anónimo disse...

Sinceramente, não vejo qual o problema de terem sido considerados arguidos.
Aliás, depois da sequência de descobertas ( sangue no apartamento, na viatura, comprovação de negligências, desencontros e contradições em depoimentos...) parece-me ( na minha opinião de leiga na matéria ) que era inevitável a atribuição desse estatuto.
Ademais, se alguém beneficiou desse estatuto foram os próprios, em detrimento da investigação que, assim, ficou mais dificultada. Pelo menos, foi o que entendi, ao ouvir, na altura, as análises de especialistas.
Quanto às declarações do Alípio, parece-me que foram, a todos os efeitos, extemporâneas e infelizes, e pelo menos a mim ( que até sou pessoa de boa-fé) deixaram-me com a pulga atrás da orelha.
Se alguma coisa tem que ser rectificada ou reparada, deixem o processo chegar ao fim.
Ou será que esse já é um prelúdio do fim?
Nada que, infelizmente, não tenha já precedentes mas que não deixa de ser, por isso, absolutamente obsceno!

AC disse...

Não sei se afirmações Alípio Ribeiro,foram ou não oportunas...contudo creio que existe um sentimento generalizado na população na forma como levianamente se constituem arguidos.

Rui Vasco Neto disse...

mifas,
«Sinceramente, não vejo qual o problema de terem sido considerados arguidos.» Pois, eu também não, desde que eles sejam culpados. Se o não forem, já imaginaste a violência?

avis,
E as declarações de marinho pinto e alípio ribeiro só vêm confirmar que essa leviandade é mais que um palpite. Se é assim num caso mediático, como é nos que ninguém fala?