Há gente assim, com vidas que nunca mais acabam. Seres com a estranha capacidade de se reinventarem mesmo no disparate.
De renascerem sempre, após cada uma das muitas mortes que vão tendo em vida. Tolos, há outros que lhes invejam este castigo como se fora uma gracinha para entreter os amigos nas noites frias de inverno ou nas amenas cavaqueiras de verão. São os tolos quatro-estações, que por desconhecerem a primavera das ideias estão condenados ao outono da mediocridade para sempre.


quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Yes, we can. No, we can't.

O discurso de Barack Obama tem um refrão. Yes we can. Obama pergunta se a América pode mudar e a assistência responde Yes we can. Obama quer saber se a América pode tudo e a sua plateia grita Yes we can. A melodia de Obama é 'Yes we can', cantada e musicada sobre as suas próprias palavras, de forma magistral, reconheça-se. Yes we can, diz a América de Barack, Yes we can. E eu percebo porquê.

Se JFK era louro de esperança, Obama é o preto no branco. Mas os dois são postos a par na análise mundial destas eleições americanas, por mais do que parecenças físicas ou até programáticas, embora sejam rios que entroncam da mesma nascente. Um lembra o outro pela aragem, não pela imagem. É no projecto esperança da mensagem de Obama que o mundo inteiro se revê e vê o Jonh forever young. É no afrontar (suave) de Barack ao situacionismo do compadrio político em Washington, que a América e o mundo querem ver um JFK. Hoje não há Vietname, mas há Iraque. Não há Nixon, mas há Bush. E, pior talvez, não há guerra fria mas há terrorismo internacional.

A informação global trouxe a Sala Oval para a nossa cozinha, lá se discute a economia mundial, lá se cortam as cenouras e as taxas de juro. No forno de lenha mais remoto deste país real, qualquer Zé ou Maria sabem que a América manda no petróleo lá fora e no preço das couves cá dentro, de uma forma ou de outra, mais coisa menos coisa. E nas guerras do mundo, também, que os netos já não vão morrer a Angola mas tombam no Afeganistão como os outros. E onde raio fica o Afeganistão, porra, não me dizem? É para lá de Borralheira de Orjais? Portugal e o mundo devem querer saber o que vai acontecer na América, porque povos como nós são a carne para o canhão da voz grossa de quem ganhar estas eleições. Somos dano colateral, caca de passarinho na lapela das negociações, por mais que Durão Barroso pareça ser da mesma altura que os outros três na fotografia de grupo. Somos úteis, porque inconsequentes.

Barack Obama parece ser mais alto nas ideias, mais desempoeirado na vontade, mais humanista na ambição. Parece culto, determinado, capaz. Parece até democrata, seja lá isso o que for. Parece. Apenas parece. Pode-se acreditar num homem assim? Yes we can. E acreditar nas suas ideias, pode-se? Yes we can. E sonhar com ele uma América diferente, um mundo diferente, de diálogo e soluções em vez de bombas e problemas, podemos? Yes we can. E podemos duvidar que isto tudo vai acontecer com ele na cadeira do poder mundial, se lá chegar? Yes we can. E podemos suspeitar que não há show business sem business e que o dinheiro ganha todas as eleições, independentemente do manequim humano que veste a farda da vitória? Infelizmente yes. Yes, we can. E por isso devemos cortar as pernas ao pensamento e baixar os braços que marcam presença na opinião, só para não correr riscos de novidade? Podemos dar-nos ao luxo de não acreditar na mudança para um mundo melhor, mesmo que ela se venha a revelar apenas um nadita melhor ou menos má? Não, não podemos. Um mundo em que Durão Barroso é nomeado para Nobel da Paz é um mundo perigoso nos valores políticos que persegue. Mais um Rambo não, por favor.

17 comentários:

Anónimo disse...

"entroncam da mesma nascente"?
essas liberdades literárias andam a esticar-se, não andam?
na minha modesta opinião, podem entroncar ao desaguar e não ao nascer....

e talvez seja esse o caso do Barack que é Obama mas não é Kennedy, mas que poderá ter um desaguar igual ao do príncipe das américas.

Rui Vasco Neto disse...

corrector zarolho,
Entroncam 'da' e não 'na' mesma nascente. Para os casos mais difíceis, para os amantes do óbvio e explicadinho, poderia evidentemente ser 'entroncam vindos da mesma nascente', o que levaria ao mesmo, mas mais acessível a todos, talvez, com o verbo à mostra. Seja como for, na minha modesta opinião, podem entroncar ao desaguar e não ao nascer, mas podem sempre entroncar (vindos, originários, filhos, irmãos, até nascidos) DA mesma nascente.

Que este seu espalhanço infeliz não lhe tire no entanto a sanha correctora, que ela faz falta e é sempre bem vinda. Talvez noutra oportunidade, sem rios, não meta água assim, quem sabe?
Cumprimentos.

Anónimo disse...

meu caro,

entroncar na e não da... entroncar, verbo transitivo, significa o mesmo que convergir, afluir. Ora, na minha modesta opinião, será difícil que um rio, ou mesmo dois, possam afluir para a nascente, ou mesmo da nascente ou até, quem sabe, na nascente.

acho que o espalhanço não é meu. levante-se, sacuda a poeira e dê a volta por cima.

Rui Vasco Neto disse...

corrector ceguinho,
Claro, claro, tem razão, esta minha cabeça! O transitivo, claro, convergir, pois então; e no afluir é que está o ganho, está visto. Aliás, se examinarmos bem a raiz quadrada do afluir na convergência do co-seno traçado à hipotenusa da afluência convergida, temos que o verbo entroncado no afluir da covergência nunca poderá transitar para o transitivo da nascente, pelo que você tem evidentemente razão e os rios não correm assim, a não ser na minha pena azelha e distraída. Meu Deus, que faria eu sem si? Perdoe-me, consegue?

Sabina disse...

"Co-seno traçado à hipotenusa.." ?!?

cof, cof...

tipo subir para cima e descer para baixo?

Rui Vasco Neto disse...

saci,
pois, é o transitivo da convergência do afluir..

Anónimo disse...

Rui,
Embora se possa dizer que duas pessoas entroncam nos mesmos antepassados, naquele caso a metáfora é demasiado forçada. O Corrector tem mais razão do que tu. E troca lá o "z" por "s" na palavra "aselha", porque assim é que estás mesmo a sê-lo. "Aselha" vem de "asa", nota bem.
Meu "aselha" só às vezes, toma lá outro abraço, que é de sempre.

Rui Vasco Neto disse...

Ui ui ai ai ui ui ai ai...
(não gosto de perder nem a feijões, mas pronto...)

Rui Vasco Neto disse...

Caiiiim caiiiim (pensavam que já me tinha passado?)

Rui Vasco Neto disse...

Buufffff, grrrr, humpf.

Rui Vasco Neto disse...

ok, já tá.

Sabina disse...

É o que dá ser-se bom. O público torna-se mais exigente. E o que esperavas de um blog que tem corrector ortográfico e uma espécie de conselho cientifico permanente? À mínima distracção cai-te tudo em cima.

Anónimo disse...

Jesú, que é ora isso!
Eu julgo que é enguiço
esse tal entroncamento
de nascente ou nascimento
de rio ou mar, tanto faz.
Deixai ficar o rapaz
na sua, se lhe apraz.
E, se eu o leio e tu lês,
deixai-o, de vez em vez,
escrever como lhe pês.
Que é de mui ruim feição
bater assim sem razão
em quem nos dá de comer.
E se ele, muit`eramá,
se lembra de amuar
e de não voltar mais cá?!

Anónimo disse...

Faço uma declaração de voto, para que não seja outra vez acusado de ter a mania de corrigir. Esta mensagemm minha que aí aparece foi enviada em correio particular para o Rui, ele é que, humildemente, resolveu transformá-la em mensagem para o blog.
Merece um aplauso, por isso. E eu não lho poupo.
Daniel

Anónimo disse...

Daniel,
a generosidade ou a amizade ou ambas cegam-no.
O Rui, humilde?!
Não é nada! E tem mau perder.
Eu é que o bajulei antes que lhe dê a veneta e ele nos mande bugiar.

Anónimo disse...

Muito bem, Mifá! Apoiado! E não é o meu lado de diabo (como diria o Alfredo) que fala, mas o de anjo.
Um abraço.
Daniel

Rui Vasco Neto disse...

amigos dois em um,
exageram o meu mau feitio (enfim, talvez um nadita). Mas são meus amigos e dois em um: a dinheirama que eu poupo em inimigos, tendo vocês, justifica tudo...
Deus vos pague que eu estou teso.