Quis o destino que o nosso zé primeiro fosse um Aníbal e só o nosso zé segundo um José. Mas, cauteloso com os equilíbrios, Deus brindou-nos com uma Maria a sério, cepa genuína da vetusta dona encrenca nacional, tão cantada na nossa literatura e tão presente no nosso imaginário que não tem erro reconhecê-la ali. Na autoridade, na afirmação, na oportunidade, no nariz. A nossa Primeira Maria é a mais maria de todas as marias que já foram nossas Primeiras. E a presidência da República mudou muito, desde o circo das tartarugas nas Seichelles. Vestiu uma batinha mais assim, sei lá, um meio andar de lado, um trejeito exterior para cada emoção interior. E uma frontalidade de aldeia, polida de fino por cima do afianço, mas pronta a saltar em incontáveis e insuspeitos botões.
É mais minha senhora, agora, no estender da roupa íntima presidencial. Mas nem por isso menos doutora. O Palácio de Belém é hoje sede de uma join venture de parceiros especializados com práticas complementares, não mais o palco para um solo de carisma. Se o nosso Zé fala, a nossa Maria sublinha, para bem ou para mal, seja contra ou a favor. Humaniza o chefe, chefia o humano. Ao vivo e a cores, sem meias tintas. Até a crónica de imprensa teve de ajustar o tom do cor-de-rosa habitual com uns pozinhos de alfarroba e sapiência doméstica, para a foto dizer com o texto. Sem por isso ter que calçar chinela e vestir avental ou escrever em letras grandes, que a nossa Maria não é ignorante nem é parva. E nem por isso é menos senhora que as outras Marias, apenas diferente. Apenas ela.
Tem um estilo próprio, chamemos-lhe assim. Uma pose mista de ar de enfado e dores nos calos que tuteia o ministro das Finanças com a autoridade de quem dorme com quem sabe mesmo da poda e não se discute. É uma montra luminosa do sentir presidencial e a imagem de um serão aconchegado com conversa de Estado e bróculos na mesa da cozinha. Maria Barroso ficaria impávida, José Ritta sorriria o de sempre, Manuela Eanes baixaria o olhar. Apostaria ser isto o que faria cada uma das três Marias se o seu marido dissesse uma piadinha pública sobre a polémica ASAE. A nossa Maria foi um espectáculo à parte, uma rábula de Marcel Marceau. É sempre, de resto. Marca o passo do Presidente nas alcatifas do mundo. Sendo que ele já mostrou saber de que lado tem o pão a teiguinha, e arrisca mais na taxa de juro que na contrária da sua maria. E quem lhe pode levar a mal, meu Deus?
A nossa Maria não é boa nem é má, é ela e pronto. Eu cá respeito e aceito quem ela é, tal como é e sendo quem é, a Maria certa do e para o seu zé, cuja popularidade cresce em todas as sondagens. E é sem sombra de dúvida, para o bem e para o mal, para o pior e para o melhor, a Maria mais maria de todas as marias que já foram nossas Primeiras Marias nesta república de abril. Isso é bom ou é mau?
5 comentários:
É bau!
O presidente Aníbal andou com sorte na piada sobre a ASAE. Primeiro, porque teve graça, o que é once in a lifetime. Segundo, porque sua Maria em vez de insinuar que "lá está ele com as suas maluquices, não liguem", podia bem ter apontado o pelegar à boca, sinal internacional para "está outra vez com os copos", pois aí alguém podia ter acreditado...
Brilhante :))))))!!!!!!!
abreijos...
(outra) Maria.
é mau!
mas o texto é brilhante :)))))!!!!
abreijos...
(outra) Maria.
Com esses trajos de cocotte a maria ainda pode "dar o cavaco"!...
Vasquinho,
gosto da nova pintura. É menos agressiva para vista.
jocas.
sam,
pois, ou à testa, tipo 'não liguem, é maluco...'
mariiiiia,
gadinho, viu?
mifas,
bom saber, amiga. fica assim, então, se tu dizes.
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